34b- Sempre «desde o mais pequeno»...

 (Ciclo B – Domingo 11 do T. Comum…) 

SEMPRE «DESDE O MAIS PEQUENO»

«Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos, Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou plantá-lo…». Assim fala o Senhor Deus, em palavras inspiradas ao profeta Ezequiel (na 1ª leitura). E não é para louvar o “alto cedro” mas para destacar e exaltar o pequeno “ramo novo”, que vai começar uma nova vida quando for plantado pelo Senhor. Já estamos a ver que, desde muito antigo, Deus despreza  o que é “grande e alto” (!?), para iniciar os seus projetos desde o “pequeno e baixo”. Embora – com o tempo – este “ramo lançará ramos e dará frutos e tornar-se-á um cedro majestoso, onde farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos”. (Ez 17 / 1ª L.).

Teriam de passar muitas gerações – e bastantes profetas como o Ezequiel a marcar as preferências de Deus pelo que é pequeno e frágil quando se trata de iniciar os seus “planos e desígnios” de futuro…–  até que chegasse o «Profeta dos profetas» para revelar toda a verdade acerca desta “predileção de Deus”.

Claro, ninguém melhor do que o Filho deste Deus, Jesus de Nazaré, para conhecer, compreender e explicar esses «planos e projetos do Senhor Deus». Este Jesus, Messias Salvador, vai tentar revelar-nos este mistério, mas seguindo o mesmo procedimento e processo: sempre de menos a mais, desde o menor até ao maior, apostando sempre no que não parece, nos “inícios insignificantes”.

Jesus começa por dar um nome misterioso (!) a esse Plano e Projeto do Senhor: «o Reino de Deus» ou «o Reino dos Céus». E utilizará as suas «belas parábolas» como o melhor método “pedagógico”.

“O reino de Deus – lemos no Evangelho de hoje – é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como…” (3ª L.). Linda parábola!.

Esse “reino” é tão minúsculo como uma semente, e a sua ação é tão impercetível que o semeador e cultivador não dá conta do seu crescimento (enquanto ele, despreocupado, “dorme e se levanta… sem saber como”). Somente “quando o trigo o permite, é que se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita»”.

E para que não fique dúvida acerca deste paradoxo ou aparente contradição, entre o grande e o pequeno, o limitado e o infinito, Jesus – no seu estilo “parabólico” – insiste e remata com uma outra comparação: “O reino de Deus é também como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra”. Onde vemos que tem o cuidado de realçar a pequenez da semente (“a menor de todas as que há sobre a terra”). Mas, passado o tempo oportuno, “torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra”, tal como acontecera com aquele “cedro do Líbano” (da 1ª leitura). Tanto assim que, ultrapassando todas as plantas “herbáceas”, acaba por se tornar em “arbusto”, quase árvore, maior que todas as hortaliças (“plantas da horta”). (Mc 4 / 3ª L.).

A lição – e também o problema – para nós, está em que saibamos confiar e esperar enquanto o crescimento – oculto e lento – acontece. Quem não souber esperar, quem não tiver paciência suficiente para confiar na energia interior do germe – infusão do Espírito de Deus (pois “é Ele quem dá o crescimento”) – nunca verá os frutos… Esse tal terá esquecido o que hoje nos lembra S. Paulo, na sua carta aos coríntios: “Enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como exilados, como longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara”. (2 Cor 5 / 2ª L.).

Mais uma vez, questão de fé e não de uma visão clara!

 

De noite e de dia, Senhor Deus,

– no que é patente e no que está escondido

é bom louvar-Te, ó Deus e Pai nosso,

e cantar salmos sem cessar ao Teu nome;

desde a manhã, pela Tua bondade;

e pela Tua fidelidade durante a noite…

Louvado, Senhor, porque fazes germinar, no escuro,

a semente pequena do trigo doirado

e a minúscula semente do “grão de mostarda”

Louvado, porque dás crescimento constante

ao que tem o germe e o embrião da vida,

e fazes progredir tudo o que vive e respira…

Louvado, porque o justo floresce como a palmeira,

e  em Ti, ele crescerá como o cedro do Líbano:

oxalá que vivamos também nós para sempre,

plantados nos átrios da Tua casa, Senhor!…

Louvado, porque em Ti, ó Pai, daremos fruto,

para além da velhice e da morte corporal,

cheios da seiva e do vigor do Teu Espírito Santo…

         [ do Salmo Responsorial / 91 (92) ]