(Ciclo C – Domingo 26 do Tempo Comum)
«COMBATER O BOM COMBATE»
Isto supõe que há um outro combate (ou mais!) que não é bom, e que esse será o «mau combate»! Ora bem, para S. Paulo, o bom combate é “o combate da fé”, cujo objetivo não é outro que “conquistar a Vida Eterna…” (1 Tm 6 / 2ª L.).
Estamos, portanto, num campo de batalha, o campo deste mundo, onde “a vida do homem é milícia” ou militança – lembram-se? – e todos pertencemos, quer queiramos quer não, a um destes dois exércitos enfrentados: ou ao do Bem, que luta contra as forças malignas; ou ao do Mal, que se opõe sempre ao Bem e tenta destrui-lo. E nenhum ser humano se livra de “militar” num ou noutro “bando” da tropa, pois é para isso que «passamos por este vale» de prova… Sim, ou como “guerreiros da luz” (?) ou como “guerreiros das trevas”: a escolha vai surgindo em cada instante da nossa vida!
Contudo, não importa tanto se, como “soldados”, nos calhou em sorte o “campo certo” ou o “campo errado” (nesse grande exército de “bons” e de “maus”) mas importa, principalmente, se, desde o nosso posto e lugar – seja qual for – estamos a lutar contra «o bem» ou contra «o mal». Não se trata, portanto, do ponto de partida mas do ponto de chegada; não tanto da origem em que nos encontramos senão do objetivo que pretendemos… neste “bom combate salvador”!
Aqueles “indivíduos”, denunciados pelo profeta Amós (“em nome do Senhor omnipotente”), em vez de lutar contra um ambiente degradado e degradante, optam por viverem inseridos nele, com todas as consequências inerentes essa situação… “Ai daqueles que vivem comodamente em Sião… Deitados em leitos de marfim, estendidos nos seus divãs… Bebem o vinho em grandes taças e perfumam-se com finos unguentos…”. Claro que isto não seria o pior, se não fosse porque, enquanto vivem esse tipo de condutas, não se importam com a ruína e miséria dos seus semelhantes. “Não os aflige a ruína de José… enquanto eles comem os cordeiros do rebanho e os vitelos do estábulo…” (Am 6 / 1ª L.). Ruína e pobreza que eles estão a provocar e prolongar. E então, qual o “tipo de combate” que estes senhores estão a promover e praticar?… Pois, ao que parece, é um combate em tudo semelhante ao que “praticava” aqueloutro “homem rico” da parábola do Evangelho de Jesus, “que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias, enquanto o pobre Lázaro jazia junto do seu portão, coberto de chagas; bem desejava ele saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas…” (Lc 16 / 3ª L.).
Porém, há os outros “soldados” cujo objectivo e finalidade é difundir o bem e lutar contra o mal. A estes anima S. Paulo, por exemplo, quando escreve: “Praticai a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão…”. E, em definitivo e por cima de tudo, “guardai o mandamento do Senhor (isto é, «o preceito do Amor») sem mancha e acima de toda a censura…”. É nisso que consiste, exatamente, “combater o bom combate da fé, para conquistar a vida eterna”. (1 Tm 6 / 2ª L.). E essa é a Palavra de Deus, que nos pode conduzir à vitória contra todo e qualquer inimigo da nossa salvação. Sem esquecer nunca que o melhor combate é o que travamos dentro de nós mesmos, contra “inimigos interiores”!
Por conseguinte, se não queremos escutar a Palavra e pô-la em prática na nossa vida, também não nos vai convencer nem sequer «um morto que volte à vida». Pois as palavras de Jesus naquela parábola são “realistas” e terminantes: “Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas – ou seja, à Palavra – também não se deixarão convencer, mesmo que alguém ressuscitar dos mortos” (Lc 16).
Então, teremos de conseguir, por todos os meios, triunfar sobre o mal – sempre com o bem! – sob pena de sermos vencidos “pelo maligno”; esse ser, enigmático mas bem real, que tem «grande poder contra todos aqueles que não querem ser amigos de Deus» (em expressão de alguém que sabia, por experiência pessoal, que só com as próprias forças não se pode dominar e vencer esse “poder maléfico”). Sim, porque “para Deus, como disse Jesus, tudo é possível!”, enquanto para nós, sós, há tanta coisa que é mesmo impossível!
Mas uma coisa é certa e fica bem patente também na Palavra de hoje: A sorte que espera a uns ou a outros “combatentes” é bem diversa ou díspar. Encontramo-la igualmente nas palavras do Evangelho, pela boca de Abraão, já Glorificado, falando ao rico «na sua situação de condena»: “Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida, e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo”…(Lc 16 / 3ª L.). E a denúncia de Amós (àqueles “sibaritas”) concluía deste modo: “Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados e acabará esse bando de voluptuosos» (Am 6).
Portanto, é questão de optar, enquanto dura o período de prova desta vida terrena. Quer dizer, fazer a escolha certa e genuína, já que só “o bom combate da fé” é que dá a verdadeira vitória Final.
Ouvimos, Senhor, o conselho dos Teus amigos:
Não ponhais a vossa confiança nos poderosos
nem nos homens que não podem salvar;
mal deixam de respirar, regressam ao pó da terra;
nesse mesmo dia acabam os seus projetos…
Os que queremos ser sempre Teus amigos, ó Pai,
desejamos hoje orar com este salmo e proclamar:
Feliz de quem tem por auxílio o Deus de Jacob,
e tem posta a sua confiança no Senhor, seu Deus.
Sabemos muito bem que, “no bom combate” da vida,
dás o Pão Eucarístico do Teu Filho aos que têm fome,
e assim recuperam as forças para a luta diária…
Aí dás a liberdade aos que foram feitos cativos,
levantas os abatidos e iluminas os olhos dos cegos,
enquanto entravas o caminho aos inimigos do Amor…
Senhor e Pai nosso, contamos sempre com o Teu auxílio,
para podermos dizer com Teu amigo Paulo, na etapa final da vida:
“Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel;
a partir de agora, já me aguarda a merecida coroa…” (2 Tm 4,7)
[ do Salmo Responsorial / 145 (146) ]
29 Setembro, 2016
«ATÉ QUANDO, SENHOR, O MAL VAI VENCER?»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 27 do Tempo Comum)
«ATÉ QUANDO, SENHOR, O MAL VAI VENCER?»
É normal, compreensível, para nós humanos, desejarmos e ansiarmos, até com aflição, todo o que deleita e nos dá prazer, gozo, alegria… Aliás, é evidente; pois não devemos esquecer que fomos criados para, um dia, atingirmos esse estado de Amor e Felicidade, tantas vezes almejado…
Acontece, porém, que, o mesmo Criador que pôs no mais íntimo do nosso ser esses horizontes, essas metas e objetivos gloriosas, que são a realização “natural” da nossa vida… esse mesmo Criador e Pai – omnisciente e omnipotente – deu-nos uma «liberdade» capaz do melhor e do pior, como sabemos perfeitamente, mesmo por experiência pessoal. Como consequência desta liberdade – à que nós não queremos renunciar e que Ele vai respeitar sempre! – surge, à nossa frente, um caminho inevitável, um itinerário a que não poderemos fugir, que tem de aparecer semeado de sofrimentos, mágoas, amarguras, tristezas… numa palavra, “cruzes”. Ou, por outras palavras, são aquelas reiteradas e recorrentes «tribulações» ou «adversidades» tão frequentes nos “Salmos” do AT, salmos esses que são «orações» onde se refletem os diversos “estados vitais” das pessoas, através dos tempos e dos espaços… de todas as gerações.
Mas não devemos estranhar isto, se pensarmos no facto – real e normal do campo da Ciência físico-natural – de ser indispensável «gastar – queimar – uma força ou energia para realizar um trabalho» (“leis universais da termodinâmica”?). E uma vez que o nosso “mundo humano” está inserido, imerso, neste “mundo material”, resulta como algo normal que «se contagie» necessariamente das suas «leis naturais»… Mesmo assim, continuaremos a perguntar-nos pelo sentido profundo e último da existência desse “mal” no mundo, e daquelas suas consequências «em forma de cruzes»…
Bom, mas a Palavra de hoje – também neste assunto – vem agora ao nosso encontro para nos iluminar. E observamos como «o homem», desde sempre, clamou contra a “violência” e se revoltou perante a “injustiça”, a “opressão”, a “discórdia”… Aqui, através de uma oração inspirada, a do profeta Habacuc, em forma de várias questões lançadas ao próprio Javé-Deus: “Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?”… E o mais curioso é que, na resposta que dá o Senhor – e que manda “gravar em tábuas” – parece como que não quer “resolver” esses interrogantes, a não ser quando, finalmente, deixa aberta uma janela de esperança: “Vede como sucumbe aquele que não tem alma reta; mas o justo viverá pela sua fidelidade»”.(Hab 1.2 / 1ª L.).
Há, portanto, uma coisa que não pode nem deve falhar, em toda esta «história»: é a “fé e confiança” no poder misericordioso e paciente de Deus, nosso Pai. Assim, é compreensível que S. Paulo continue a insistir com estes conselhos (ao seu discípulo Timóteo): “Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste… Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor… Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus… segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo…” (2 Tm 1 / 2ª L.).
E este mesmo Jesus Cristo, no Seu Evangelho, como era de esperar, traça-nos a pista mais radical e coerente. Mas não pelo facto espetacular de nos dar o poder – “mediante uma palavra” – de “arrancarmos uma amoreira e transplantá-la no mar”, senão “pela fé” que isso supõe, e que terá de ser pelo menos “como um grão de mostarda”. Assim, aceitaremos e assumiremos a nossa situação real e a nossa “vocação” de “simples servos”; que, após ter realizado fielmente o seu serviço, prolongam a sua atitude de humildade «que é de verdade». Afinal, nós “não fazemos mais do que aquilo que devemos fazer”. (Lc 17 / 3ª L.). Todo o mais é com Ele!
Então, ao concluirmos, parece ficar a questão inicial: será que, ainda, O MAL HÁ DE VENCER? – Mas à vista da Palavra, respondemos: Não, de maneira nenhuma! A sua vitória é só aparente! Porque DEUS (o Amor, o Bem) tem e terá sempre a última Palavra! E nós com Ele, “pela fé”!
Apesar de termos visto as Tuas obras, Senhor,
que são todas de Amor e de Bondade, ainda podemos duvidar;
ainda podem ficar duros os nossos corações…
Todas as obras, visíveis e invisíveis, da Tua Criação,
estão a mostrar-nos, bem patente, ó Pai,
que de Ti só pode vir o que é Bom e o que gera Paz.
Todo o que, neste mundo, reflete “o mal”
só pode ter origem no «espírito maligno»
e nos homens maléficos que são “os seus sequazes”,
que criam deuses e ídolos ao seu belo prazer…
Quanto a nós, Senhor, proclamamos bem alto
que só Tu és o nosso Deus e Salvador,
e nós – formando “o Teu povo e Tua grei” –
somos as ovelhas do Teu Rebanho.
E queremos fechar os nossos ouvidos
aos malfeitores, que publicam e alargam os males…
para escutarmos, apenas e só, a Tua Voz, Pai,
e nunca endurecermos os nossos corações…
Pelo poder da fé e confiança que temos em Ti,
e com a força e energia do Teu Espírito,
– apesar de tantos sinais contraditórios
e superando os pessimismos da nossa sociedade –
nós, conTigo, venceremos o mal com o Bem!
[ do Salmo Responsorial / 94 (95) ]