(Ciclo B – Domingo 21 do T. Comum…)
OPTAR É NECESSÁRIO!
Antes ou depois, queira-se ou não se queira – e com mais frequência do que pensamos – é preciso fazer escolhas, tomar opções, afrontar decisões… Aliás, se repararmos, estamos a realizar continuamente pequenas escolhas, enquanto as grandes decisões serão poucas, e ainda menos as chamadas “opções vitais” – talvez uma ou duas na vida – se tivermos presente que estas são para decidir o rumo a tomar, ou a direção a marcar na vida, como exigência “vocacional”!
Acontece, em etapas mais ou menos dilatadas da nossa vida, vivermos um tanto distraídos, deixando-nos levar, ao sabor do vento, na corda bamba do nosso dia a dia… Parece que não sucede nada de especial, a não ser a “novidade” da rotina monótona, que, aliás, até nos satisfaz e vai compensando os nossos gostos banais e corriqueiros… Mas nada que valha a pena!
Porém, subitamente, sobrevém quelquer “imprevisto” (ou será “previsível”?) que nos confronta com alternativas: ou “sim” ou “não”, ou “pegas” ou “deixas”, ou “por mim” ou “sem mim”… Cada qual poderá colocar as suas específicas “disjuntivas”, sejam elas de caráter pessoal ou de âmbito coletivo…
Para o povo hebreu – naquela altura remota da sua história – o “desafio” foi deste teor: “Josué disse então a todo o povo: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus… Eu e a minha família serviremos o Senhor»”… E ficou também registada a opção escolhida por aquela comunidade hebráica: “«Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses… Também nós queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus»”. (Js 24 / 1ª L.). Opção esta que – pelo menos na intenção – aspirava ser definitiva.
Ao contrário que a atitude daqueles judeus do tempo de Jesus, alguns deles até discípulos. Porque apesar de “as palavras que Ele lhes dizia eram espírito e vida” quando lhes falava do “alimento eucarístico” – lembram-se? – “muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?»”. E assim, verificamos qual foi a opção tomada por eles: “A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele”. A escolha estava feita. “Mas Jesus disse, então, aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro [em nome de todos]: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus»” (Jo 6 / 3ª L.). Lá está; e porque a liberdade existe em todo o ser humano normal, haverá sempre, como neste caso, os partidários do não e os adeptos do sim, os que decidem tomar uma direção e os que escolhem a oposta… Seja como for, OPTAR É NECESSÁRIO!
E como atrás ficou dito, constatamos que ainda é mais necessário optar quando se trata destas “decisões vitais”, que determinam a vocação ou estado para toda a vida…(!?). São Paulo, na sua carta aos cristãos de Éfeso, apresenta hoje, para todos nós, o exemplo específico do estado matrimonial ou vocação ao matrimónio. Escreve Paulo: “Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e serão dois uma só carne. É grande este mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja”. (Ef 5 / 2ª L.). E bem sabemos que, como em toda e qualquer “vocação” – pelo menos na intenção sincera – a decisão deve ser para sempre! Outra coisa será que, no evoluir do tempo, a fraqueza humana nos venha a atraiçoar… Mas também aqui, como em todos os casos, sempre haverá tempo e ocasião de “emendar”, segundo o nosso Papa Francisco nos lembrava, ainda há poucos dias. Até porque – como ele mesmo também nos repete tantas vezes – o Pai-Deus nunca se cansa de nos perdoar!… Embora, atenção, este perdão do Pai não nos dispensa de optar e tomar decições, mais ou menos radicais, no momento conveniente!
“Louvamos-Te, Senhor, a toda a hora
e o Teu louvor está sempre na nossa boca”
porque, só por amor, nos fizeste livres
e respeitarás sempre a nossa liberdade.
Nós bem queremos ser “justos”
mas dizem que “o justo tem muitas tribulações…
Será que de todas nos livras Tu, Senhor”?
Queremos aprender a ser livres de verdade
para termos a corajem de optar pelo melhor…
E porque sabemos que isto não é fácil,
precisamos da Tua graça e amizade!…
O que é que está a acontecer, Senhor,
– nestes tempos que são os nossos –
onde há tão poucos homens e mulheres,
corajosos, decididos e determinados
a optar por compromissos definitivos?…
Onde está, Jesus, a nossa confiança em Ti
que nos dá a certeza contra toda a esperança?
Mas nós confiamos na força do Teu Amor,
que faz crescer, sempre mais e mais,
o número da gente jovem, generosa e audaz!
Nós queremos ser daqueles “justos”
que optam pelo bem e a verdade…
porque escolher o mal e os prazeres
“é o que leva o ímpio à perdição”.
Estamos certos, ó Pai, do Teu perdão,
mas isso não deve levar-nos a abusar
da Tua bondade e misericórdia…
Desde que temos consciência,
tantas vezes já Te dizemos, Jesus,
que Te amamos por cima de tudo,
e que escolhemos seguir-Te a Ti
e nunca ir atrás doutros “ídolos”…
Esta nossa opção, porém, não parece firme,
pois, quantas vezes o nosso amor
está aferrado a outras coisas!…
“Senhor, reanima e alenta a vida dos Teus servos,
para que os humildes o escutem e se alegrem!”.
[ do Salmo Responsorial / 33 (34) ]
27 Agosto, 2015
OS “LÁBIOS” E O “CORAÇÃO”
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo B – Domingo 22 do T. Comum…)
OS “LÁBIOS” E O “CORAÇÃO”
«Quem dera – dizia alguém – podermos viver, caminhar, expor-nos… sem roupagens nem acrescentos, tal e qual “como viemos ao mundo”!». É como se quisesse dizer: Que bom seria podermos ser, em tudo, e não apenas no físico, pessoas genuínas, verdadeiras, transparentes! Mas para isso, claro está, seria preciso termos conservado e preservado a “inocência original”, aquela pureza primigénia com que o Criador “nos sonhou” e aquela transparente limpidez com que saímos das Suas mãos fecundas… Mas tal não aconteceu, e como o plano de Deus foi truncado (?) e as coisas viraram para torto, foi necessário (?) arranjar coberturas, acréscimos, “postiços”… desde as famosas “folhas de figueira” (Gn 3, 7), passando pelas “tangas”… até chegar às últimas sofisticações e requintes de Zara & Cia, por exemplo. E agora ninguém estranha que a metade da humanidade vá atrás da última moda nas “passarelas” e a outra metade (masculina) siga “colada” à primeira (!?)…
Não deixa de ser significativo que, na alvorada de uma humanidade já consciente, falasse o Senhor Deus ao povo, por Moisés, deste modo: “Não acrescentareis nada ao que vos está ordenado, nem suprimireis coisa alguma, mas guardareis as minhas leis… porque elas serão a vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos de todos os povos…” (Dt 4 / 1ª L.). Na verdade, Aquele que tinha criado a natureza humana conhecia bem a sua tendência a acrescentar e multiplicar preceitos e normas para encobrir, esconder, mascarar, a Verdade pura e simples…
Mas vamos lá ver se nos entendemos! Não é mau cobrirmos as “vergonhas” (como se costuma dizer) uma vez que existe em nós essa malícia… transmitida pela astúcia (serpentiforme) do Maligno. Bom seria – isso sim – que o mal e o pecado não nos tivessem contaminado; porém, as coisas agora são como são, e a nossa luta, sobre esta terra, tem de ser processada contra os “inimigos invisíveis” que nos rodeiam, ou nos penetram, e com as armas de que dispomos. Só neste sentido poderão ser interpretadas expressões como estas (da Palavra de hoje / Mc 7): “o que está fora do homem… o que entra no homem… o que sai do homem… o interior do homem… lavar as mãos… limpar os copos…”. Porque, certamente, “o que faz puro ou impuro o homem não é o que vem de fora mas o que sai de dentro, do seu interior” (Mc 7 / 3ª L.); e portanto não vale a pena tentarmos tapar, ocultar, disfarçar!
O perigo reside, então, em apostarmos nas “roupagens externas” também a nível do espírito, tal como o fazemos – por necessidade – a respeito do corpo. Este é que é o fulcro e o cerne da questão, para não nos deixarmos levar pelos “disfarces” na alma como acontece com os do corpo. E continuamente corremos o risco de – no meio desta “luta” – darmos supremacia a “o material” sobre “o espiritual”, quando deveria ser exatamente o contrário. E sabemos – lembram-se? – que a aposta no que é material leva-nos à própria destruição e perdição. Jesus – O de Nazaré – avisa-nos hoje acerca disto com uma radicalidade e clareza meridianas, no seu Evangelho, falando àquele “grupo de fariseus e alguns escribas: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’»…” (Mc 7 / 3ª L.).
Por seu lado, a linguagem do apóstolo Tiago, na sua carta, é esta: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descem do Pai das luzes… e foi Ele que nos gerou pela palavra da verdade… Para não nos enganarmos a nós mesmos, nunca devemos esquecer que a religião pura e sem mancha, aos olhos de Deus, nosso Pai, consiste… afinal, na caridade, no amor”. (Tg 1 / 2ª L.). Portanto, se os nossos “lábios” não concordam com o nosso “coração”, então, a vida que “suportamos”, cá na terra, é fingida e, como tal, poderá acabar num lamentável “sem-sentido”!
Eu quero hoje perguntar com o salmista:
quem habitará, Senhor, na tua casa?,
para poder escutar, no silêncio, a Tua resposta:
O que vive sem mancha e pratica a justiça,
o que diz a verdade que tem no coração…
Porque viver sem mancha e praticando a justiça
é o mesmo que estar livre de falsidade e disfarces…
E dizer a verdade que se tem no coração
equivale a uma pura e total concordância entre
o que “dizem os lábios” e o que “ama o coração”;
pois Tu, Jesus, tinhas dito para todos:
“É do que enche o coração que deve falar a boca”…
Vou aprender a ser daqueles, Teus amigos, que
– mesmo em prejuízo próprio – nunca faltam à verdade…
e defendem o inocente (seja ele pobre ou não)
por cima de qualquer interesse pessoal…
[ do Salmo Responsorial / 14 (15) ]