(Ciclo B – Domingo de PENTECOSTES)
OS SEUS FRUTOS “DENUNCIAM-NO”!
Toda a gente sabe, pela experiência diária, o que acontece com “o sal”, esse produto diluído nos alimentos, que não nos apercebemos da sua presença até que chega a faltar; ou seja, “faz-se notar” precisamente pela sua ausência. É este um exemplo que utilizamos para entendermos melhor como é a atuação do Espírito. Também a Sua Presença passa despercebida – lembram-se? –. E só vamos sentir os efeitos que Ele produzia, quando vier a faltar!
É verdade então, que o Espírito Santo aparece como o grande desconhecido, devido ao facto de, a Sua presença, ser oculta, escondida, eclipsada… É assim, ao que parece, o Seu jeito de agir! Poderá tomar diversas “formas” ou aparências – na nossa “imaginação” humana – mas a Sua presença real só se faz patente através dos efeitos, ou seja, os “Dons” e “Frutos” produzidos nas pessoas dóceis e permeáveis à Sua Força interior, ao Seu Amor ardente. O próprio Jesus, referindo-se a nós, tinha dito: “Pelos vossos frutos é que sereis conhecidos”. E nós pensamos que isto se aplica, antes que a nós, ao Espírito Santo, de quem – sabemos – procedem os sete “dons” e os doze “frutos”… (como se vê no último texto bíblico que citamos – Gl 5).
Basta olharmos para a Palavra de hoje e encontramos diversos e variados «dons e frutos do Espírito Santo», que S. Paulo denomina e descreve como: “dons espirituais”… “ministérios”… “operações”… Todos diversos, todos diferentes… “mas o Espírito é o mesmo… que opera tudo em todos… para o bem comum”. De tal modo, que o mesmo Apóstolo chega a declarar: “Ninguém é capaz de dizer «Jesus é o Senhor», a não ser pela ação do Espírito Santo”… (1 Cor 12 / 2ª L.).
Quanto a essa diversidade de dons e frutos, descobrimos, em primeiro lugar, aqueles efeitos um tanto imprevistos e espetaculares: “Um rumor, vindo do Céu… como forte rajada de vento… e uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo e pousando sobre cada um deles… Começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem… A multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua… (At 2 / 1ª L.).
Mas não é este o tipo e classe de “dons” (espetaculares) que mais Lhe agradam e interessam ao Espírito Santo, pois os que Ele mais prefere são os que podemos encontrar também em outros textos bíblicos da Palavra de hoje, nesta «Festa do Pentecostes». Vejamos.
“Ficaram cheios do Espírito Santo…” (At 2). “Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum… Fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só corpo…” (1 Cor 12 / 2ª L[a]). E com esse mesmo Espírito, hão de vir os dons “da paz… e do perdão…” (Jo 20 / 3ª L[a]). O mesmo Jesus, ao anunciar essa próxima vinda, atesta e confirma: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena…” (Jo 15 / 3ª L[b]). E com isto está tudo dito!
Resta-nos, apenas, para chegarmos a essa Verdade salvadora, sermos sempre dóceis ao Espírito Santo que nos guia e acompanha sempre, desde que não ponhamos entraves à Sua Ação. É este o conselho que, finalmente, nos propõe S. Paulo (onde, ao mesmo tempo, especifica alguns dos inumeráveis «frutos» que poderá produzir em nós): “Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne… Os frutos do Espírito são: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança… Contra coisas como estas não há lei… (Gl 5 / 2ª L[b]). Claro que, se não permitimos que o Espírito atue em nós, nada de bom ocorrerá nas nossas vidas. Pois quando Ele falta, então é que se nota a Sua ausência (tal como no “caso do sal”)!
«Ó Espírito Divino, enviado por Jesus,
vem e renova a face da terra!»:
eis o nosso primeiro clamor e súplica.
É verdade: como és grande, ó Espírito Santo!
Como são grandes as Tuas obras de Amor:
toda a terra está cheia dos Teus Dons!
Os Frutos da Tua Ação são bem patentes
embora a Tua presença passe despercebida.
Todas as criaturas do Universo
estão cheias do Teu Amor maravilhoso;
mas se Tu lhes tirasses o alento
logo morreriam e voltariam ao pó donde vieram.
Porque se essas criaturas livres
– que só existem pelo Teu poder criador,
ó Espírito de Fogo, de Força e de Luz –
se elas decidem “eliminar-Te” das suas vidas…
então é que vão sentir a Tua falta!
Mas se mandas de novo o Teu alento
elas retomam a vida pelo Teu Amor,
e assim fica renovada a face da terra:
Glória a Deus para todo o sempre!
[ do Salmo Responsorial / 103 (104) ]
30 Maio, 2015
DEUS É AMOR! TRINDADE É COMUNIDADE!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo B – Domingo da SS. TRINDADE)
DEUS É AMOR! TRINDADE É COMUNIDADE!
Se alguma realidade nos parece normal, natural, essencial, na nossa existência humana, social, é a necessidade inata que temos de nos encontrarmos e de nos comunicarmos com os outros seres humanos, nossos semelhantes… e também com os outros seres vivos (em primeiro lugar com os animais mas também com as plantas).
Descobre-se claramente a grande verdade que é aquela afirmação que encontramos, logo no início da Bíblia, de que “o homem-mulher foi criado à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1-2)… Será que nessas realidades, de «casal», de «família», de «comunidade»… somos já imagem e semelhança de Deus? Ou será que, ao longo da nossa existência terrena deveremos construir essa semelhança comunitária com Deus? Mas qual a “imagem de Deus” que será mester imitar, “copiar”, através de um processo de aproximação? E em que sentido?…
Vejamos. Para já, está bem patente, na Palavra de hoje, que precisamente pelo facto de «Deus ser Amor» – lembram-se? – também este mesmo Ser Divino não pode ser “único”, “singular”, “unipessoal”… mas terá de se manifestar como um “Ser-em-ralação”, com capacidade – na sua essência divina – de “amar” e de “ser amado”, de dar amor e de o receber…
O que é que “nos declara”, então, a Palavra de hoje?
Jesus, no Evangelho deste dia, revela-nos, de maneira aberta e precisa, o profundo Mistério da Trindade, ao dizer aos discípulos: “Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28 / 3ª L.). Que maravilhosa revelação! Deus já não é – como parecia – um Ser solitário, que não pode estabelecer relações em Si mesmo (“intra-relações”). Pelo contrário, ao constituir – na Sua essência divina – a Comunidade Perfeita (“Trindade”), o Seu Amor inter-Pessoal é completo, e portanto o exemplo acabado para toda a comunidade, família, casal… Isto é, «a pessoa do Pai e a pessoa do Filho amam-Se entre Si, com um Amor que constitui a pessoa do Espírito Santo»: é assim que no-lo ensina a ciência de Deus que chamamos Teologia. Mas, como também sabemos, embora em três Pessoas, continua a ser Um único Deus, de acordo com a Palavra: “Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro…” (Dt 4 / 1ª L.). Como é possível, ser, ao mesmo tempo, Um e Três? Bom, comecemos por lembrar que também não é por acaso que o evocamos como «o mistério dos mistérios»! Todavia, não é assim tão difícil a sua compreensão, dado que, se bem o pensamos, afinal a “Família” é UNA embora em várias pessoas, como é UNO o “Casal” sem deixar de ser duas pessoas, como a “Comunidade” é UNA, ainda que integrada por várias e diversas pessoas…
Ora bom, já temos o modelo e exemplo para os nossos grupos humanos, mas como é que devemos proceder? Seguramente o “esquema” que Paulo nos apresenta, na sua carta aos Romanos (segunda leitura da Eucaristia) pode constituir um «programa de vida comunitária», essa realidade misteriosa que está na essência da nossa natureza humana. Ele escreve: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus (o Espírito Santo) são filhos de Deus (o Pai). E nós não recebemos um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adoção filial, pelo qual exclamamos: «Abbá, Pai»… O próprio Espírito dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus… E portanto, somos herdeiros de Deus e ‘co-herdeiros’ com Cristo (o Filho)…” (Rm 8 / 2ª L.).
É questão, portanto, de deixarmo-nos guiar e conduzir pelo Espírito, para assim, sentirmo-nos verdadeiros filhos de Deus Pai e irmãos autênticos de Cristo, o Filho Primogénito. Porque só assim – como bem assinala o apóstolo – nunca viveremos no temor dos escravos, mas na confiança e amor dos filhos, pois é o mesmo Espírito que clama desde o íntimo do nosso coração: “Abbá, Pai!”. E, enquanto filhos, entramos na “herança” junto com Cristo Jesus.
Oxalá sejam assim as nossas… comunidades… famílias… casais…!
Todo e qualquer povo, Senhor,
deve sentir-se escolhido para Tua herança.
Do teu Amor Trinitário essencial,
– enquanto Pai, Filho e Espírito –
nascem as Tuas obras maravilhosas
e se adornam os céus que criaste…
Porém, mais do que tudo isso,
pela Tua vontade criadora, ó Pai,
pela entrega salvadora do Teu Filho,
e pelo Amor santificador do Espírito…
quereis – como Vossa primeira e principal criação –
gerar, alimentar, construir “comunidade”
lá “onde se juntem duas ou mais pessoas,
em nome de Jesus”, o Filho,
e pelo Amor do Espírito Santo…
Ó Amor Trinitário – Comunitário –,
cria, alimenta, orienta e transforma
– pois és Deus uno e trino, fonte de Amor –
as nossas pequenas comunidades!
[ do Salmo Responsorial / 32 (33) ]