(Ciclo C – Domingo 5 de PÁSCOA)
«VOU RENOVAR TUDO»… MAS CONVOSCO!
A nossa tendência inata – visto não sermos nós capazes de o conseguir – é encontrar um Ser supremo, omnipotente, que transforme todas as coisas à medida dos nossos gostos pessoais (alguns lícitos, outros nem tanto) ou as adeqúe ao nosso bel-prazer… Ou será que não é real esta tendência? Qual é a tua opinião?…
Porém, nós afirmamos, com toda a certeza, que esse tal Ser todo-poderoso, capaz disso e até de todos os impossíveis… existe desde sempre e para sempre! Outra coisa é que, por vezes, “seja chamado por nomes” que nem Lhe agradam, nem Lhe convém, nem têm qualquer sentido para Ele… Quanto a nós (?), conhecemos muito bem de Quem se trata, até onde chega o Seu poder, e, sobretudo, qual é o limite – inexistente! – do Seu Amor!
Pois, uma vez que “o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido…” (porque, na verdade, tal e qual como eram, não satisfaziam à maioria (?) dos humanos) houve Alguém que proclamou no tempo certo: “«Vou renovar todas as coisas»”. E então sim, apareceram “um novo céu e uma nova terra”, que o apóstolo João contemplou naquela “visão antecipada”, no livro do Apocalipse (Ap 21 / 2ª L.). Nova terra e novo céu, que são descritos no resto da Leitura e em todo o cap. 21…
Ou seja, tudo será transformado, renovado, criado de novo. A questão – o mistério – está em que essa «re-criação» ou transformação não vai ser como “uma espécie de magia” da parte desse Deus Omnipotente, Criador e re-Novador de Tudo. Não será assim! E quem estiver à espera disso «vai muito errado». Este Deus quer contar, vai contar sempre, connosco, com a nossa livre e voluntária “co-laboração”. Precisamente, utiliza-se o termo «co-criadores», pois Ele determinou que, «embora criasse este mundo sem nós», sem contar connosco, «não o re-novará ou re-criará sem nós», sem o nosso voluntário contributo. Isto porque, ao sermos os únicos seres da sua Criação, com «inteligência criativa, capazes de amar», quis associar-nos (livremente! da Sua parte e da nossa) aos Seus Desígnios e Projetos, presentes e futuros… Para quem não o recorda, estava bem claro já desde o princípio: “Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra…»” (Gn 1, 28). Mas, evidentemente, há que saber interpretar retamente os termos “crescei… multiplicai… enchei… e dominai”, porque na compreensão destas palavras está a chave de tudo!
E para entendermos e assumirmos por onde deve ir esta nossa colaboração com o Criador e Renovador, o livro dos Atos dos Apóstolos (1ª Leitura), apresenta-nos algumas “chaves” de interpretação. Antes de mais, somos alertados e “exortados a permanecermos firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus»”. E sempre que partamos – «de saída» (Papa Francisco) – para qualquer missão de evangelização, só devemos fazê-lo “depois de termos feito orações acompanhadas de sacrifícios… e de encomendar-nos ao Senhor, em quem acreditamos, confiados na graça de Deus”… É que, só assim, poderá continuar a “ser aberta a porta da fé aos gentios” (At 14 / 1ª L.) até ao “fim dos tempos”, prosseguindo, da nossa parte, a colaboração que Deus “precisa”(!).
E, uma vez que vamos seguindo em tudo o Caminho de Jesus, vai ser no Evangelho de hoje que encontramos o remate final, a conclusão perfeita, ao “copiar” o exemplo e modelo do mesmo Jesus. Ele, que foi Glorificado precisamente pela sua Paixão, mostrando um Amor até ao extremo, podia deixar-nos, com toda a autoridade, “o Seu preceito novo”: “«Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo… porque é exatamente nisto que todos conhecerão que sois meus discípulos»…” (Jo 13 / 3ª L.).
Sim, não podia ser de outro modo: Pois é sobretudo no Amor (que tudo re-nova) onde Deus conta connosco!
Mais uma vez, Senhor, nosso Deus e nosso Rei,
proclamamos que és Pai clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Que Tu és bom para com todos,
e que a Tua ternura e misericórdia
perpassam e abrangem todas as criaturas…
Que, por isso, queres contar connosco,
e pedes a nossa “ajuda” e colaboração,
para que tudo isto continue a ser realidade:
que a Tua misericórdia, de amor e fidelidade,
“se estendam a todas as criaturas”…
Que, com o nosso contributo e participação,
todos os seres criados Te deem graças, ó Deus,
e todos os Teus filhos fiéis Te bendigam…
Que, embora ao seu ritmo – lento demais para nós –
o Reino do Teu Amado Filho se estenda,
como esse fermento que “Jesus sonhou”,
para ser conhecido e assumido por todos,
até à “re-novação da terra e dos céus”…
[ do Salmo Responsorial / Sl 144 (145) ]
29 Abril, 2016
O «NÓS» SUPÕE E SUPERA O «EU»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 6 de PÁSCOA)
O «NÓS» SUPÕE E SUPERA O «EU»
Humanamente, sempre foi e será difícil conciliar ou “conjugar” estas duas «pessoas verbais», a 1ª do singular (eu) com a 1ª do plural (nós). E isto é assim, não apenas pela nossa “tendência instintiva” a afirmar o “eu” como atitude individualista, excluindo o “nós” ou relegando-o para um segundo ou último plano. Más também porque a limitação humana – nesta nossa situação “espácio-temporal” – não está capacitada para, naturalmente, inserir ou encaixar o “eu” no “nós”, dado que a nossa inclinação é para “absolutizar o eu”. Parece como que somos capazes – apenas e só – de uma escolha “disjuntiva”: ou “o eu”, ou “o nós”. Porém, nós teremos de encontrar alguém que nos ensine a “conjugar” essas “duas pessoas” na mesma “Pessoa”!…
Podemos estar propensos a pensar que Deus, como “Ser Uno”, cujo nome – lembram-se? – é «Sou Eu» (Ex 3), seria o menos indicado para O escolhermos como Modelo nesta “conjugação” ou integração (Eu-Nós)… Nada tão longe da verdade!
Antes de abrirmos a Palavra de hoje, perguntamo-nos: Porque é que Deus (ou Jesus, no seu caso), em algumas ocasiões, utiliza o “plural” em vez de o singular? E não só “na palavra”, mas também “na atitude”. Basta lembrar aquele episódio, dos mais antigos da Bíblia (Gn 18), onde Deus, o Senhor, visita Abraão, na forma de três personagens misteriosos. Estes “três homens”, falam e agem tanto em singular (a pessoa de cada um deles) como também agindo em plural (“como um só homem”, diríamos nós). Certamente, tudo isso tem um significado!…
Se abrimos agora a Palavra, no Evangelho de hoje (3ª leitura), deparamo-nos logo com esta afirmação de Jesus: “Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. É Deus quem está a falar (através da Pessoa de Jesus). Ou melhor, é Jesus quem fala, como Deus que é, utilizando o “Nós” plural. Claro que Ele, imediatamente a seguir, e para não haver dúvidas, esclarece que este Deus exprime-Se em plural ao considerar-Se em Três Pessoas divinas, embora um só Deus: “…O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14 / 3ª L.). “Espírito”, “Pai” e “Eu”: Trata-se exatamente daquele Deus, Uno e Trino – o Mistério da Trindade – que fica aí «revelado». Lembram-se? – Deus-Trindade, Deus-Comunidade!
Ora bom, dado que nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, deveremos aprender (se ainda o não fazemos) a falarmos e agirmos como grupo – “comunidade” – mas, ao mesmo tempo, assumindo-nos, cada um de nós, como “indivíduo-pessoa”. E mais ainda, contendo ou incluindo a presença do Deus Trino, ou alguma das três Pessoas, quer na comunidade quer na pessoa!
É isso que aprenderam a viver e manifestar aqueles discípulos de Jesus, nas suas “comunidades” e assembleias, já desde os primeiros tempos. Com toda a naturalidade – e sempre «na presença de Deus» – eles decidiam comunitariamente, e transmitiam as suas decisões às outras comunidades. E assim, podiam escrever: “O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis…”. (At 15 / 1ª L.). Vê-se que nesta, como noutras passagens do livro dos Atos dos Apóstolos, aparecem expressões semelhantes, onde se verifica que os discípulos, os cristãos, consideravam a “Pessoa” do Espírito Santo (Deus) associada à sua Comunidade Cristã (“o Espírito Santo e nós”). Aprendamos e vivamos, na verdade, esta linguagem e atitude cristã!
Isto para não falar já da Nossa Futura Comunidade Celeste, descrita no Apocalipse, onde o vidente, João, escreve: “Nesta cidade celeste… não vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro. E a cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cordeiro”. (Ap 21 / 2ª L.).
[ Nota: Já agora, «ubuntu», expressão de uma das culturas africanas, significa: «Eu sou porque nós somos» (!!!) ].
Resplandeça sobre nós, Senhor,
a luz do Teu rosto, Deus Uno e Trino,
– Família e Comunidade Trinitária –
que a todos cativa e seduz…
Pois queremos aprender a viver
a Tua linguagem e atitude cativante,
que ilumina as “pessoas” e as “comunidades”,
que “contagia” as nossas Famílias e Grupos,
para vivermos a unidade na diversidade,
conjugando a nossa liberdade pessoal
com o nosso sentido coletivo e comunitário…
Porque é vivendo assim, ó Deus, a Tua Vida
e espalhando assim esse Amor Trinitário,
que faremos germinar o Teu Reino entre nós,
até conhecerem todos os Teus caminhos:
caminhos de verdade e de vida,
caminhos de santidade e de graça,
caminhos de justiça, de amor e de paz…
Pois só seguindo as pegadas de Jesus,
com entusiasmo sempre crescente,
outros muitos seguirão “estes caminhos”
– caminhos convergentes em Ti, ó Pai –
só assim virá o dia em que o Teu louvor
terá chegado até aos confins da terra!
[ do Salmo Responsorial / 66 (67) ]