
(Ciclo C – Domingo 6 de PÁSCOA)
O «NÓS» SUPÕE E SUPERA O «EU»
Humanamente, sempre foi e será difícil conciliar ou “conjugar” estas duas «pessoas verbais», a 1ª do singular (eu) com a 1ª do plural (nós). E isto é assim, não apenas pela nossa “tendência instintiva” a afirmar o “eu” como atitude individualista, excluindo o “nós” ou relegando-o para um segundo ou último plano. Más também porque a limitação humana – nesta nossa situação “espácio-temporal” – não está capacitada para, naturalmente, inserir ou encaixar o “eu” no “nós”, dado que a nossa inclinação é para “absolutizar o eu”. Parece como que somos capazes – apenas e só – de uma escolha “disjuntiva”: ou “o eu”, ou “o nós”. Porém, nós teremos de encontrar alguém que nos ensine a “conjugar” essas “duas pessoas” na mesma “Pessoa”!…
Podemos estar propensos a pensar que Deus, como “Ser Uno”, cujo nome – lembram-se? – é «Sou Eu» (Ex 3), seria o menos indicado para O escolhermos como Modelo nesta “conjugação” ou integração (Eu-Nós)… Nada tão longe da verdade!
Antes de abrirmos a Palavra de hoje, perguntamo-nos: Porque é que Deus (ou Jesus, no seu caso), em algumas ocasiões, utiliza o “plural” em vez de o singular? E não só “na palavra”, mas também “na atitude”. Basta lembrar aquele episódio, dos mais antigos da Bíblia (Gn 18), onde Deus, o Senhor, visita Abraão, na forma de três personagens misteriosos. Estes “três homens”, falam e agem tanto em singular (a pessoa de cada um deles) como também agindo em plural (“como um só homem”, diríamos nós). Certamente, tudo isso tem um significado!…
Se abrimos agora a Palavra, no Evangelho de hoje (3ª leitura), deparamo-nos logo com esta afirmação de Jesus: “Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. É Deus quem está a falar (através da Pessoa de Jesus). Ou melhor, é Jesus quem fala, como Deus que é, utilizando o “Nós” plural. Claro que Ele, imediatamente a seguir, e para não haver dúvidas, esclarece que este Deus exprime-Se em plural ao considerar-Se em Três Pessoas divinas, embora um só Deus: “…O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14 / 3ª L.). “Espírito”, “Pai” e “Eu”: Trata-se exatamente daquele Deus, Uno e Trino – o Mistério da Trindade – que fica aí «revelado». Lembram-se? – Deus-Trindade, Deus-Comunidade!
Ora bom, dado que nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, deveremos aprender (se ainda o não fazemos) a falarmos e agirmos como grupo – “comunidade” – mas, ao mesmo tempo, assumindo-nos, cada um de nós, como “indivíduo-pessoa”. E mais ainda, contendo ou incluindo a presença do Deus Trino, ou alguma das três Pessoas, quer na comunidade quer na pessoa!
É isso que aprenderam a viver e manifestar aqueles discípulos de Jesus, nas suas “comunidades” e assembleias, já desde os primeiros tempos. Com toda a naturalidade – e sempre «na presença de Deus» – eles decidiam comunitariamente, e transmitiam as suas decisões às outras comunidades. E assim, podiam escrever: “O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis…”. (At 15 / 1ª L.). Vê-se que nesta, como noutras passagens do livro dos Atos dos Apóstolos, aparecem expressões semelhantes, onde se verifica que os discípulos, os cristãos, consideravam a “Pessoa” do Espírito Santo (Deus) associada à sua Comunidade Cristã (“o Espírito Santo e nós”). Aprendamos e vivamos, na verdade, esta linguagem e atitude cristã!
Isto para não falar já da Nossa Futura Comunidade Celeste, descrita no Apocalipse, onde o vidente, João, escreve: “Nesta cidade celeste… não vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro. E a cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cordeiro”. (Ap 21 / 2ª L.).
[ Nota: Já agora, «ubuntu», expressão de uma das culturas africanas, significa: «Eu sou porque nós somos» (!!!) ].
Resplandeça sobre nós, Senhor,
a luz do Teu rosto, Deus Uno e Trino,
– Família e Comunidade Trinitária –
que a todos cativa e seduz…
Pois queremos aprender a viver
a Tua linguagem e atitude cativante,
que ilumina as “pessoas” e as “comunidades”,
que “contagia” as nossas Famílias e Grupos,
para vivermos a unidade na diversidade,
conjugando a nossa liberdade pessoal
com o nosso sentido coletivo e comunitário…
Porque é vivendo assim, ó Deus, a Tua Vida
e espalhando assim esse Amor Trinitário,
que faremos germinar o Teu Reino entre nós,
até conhecerem todos os Teus caminhos:
caminhos de verdade e de vida,
caminhos de santidade e de graça,
caminhos de justiça, de amor e de paz…
Pois só seguindo as pegadas de Jesus,
com entusiasmo sempre crescente,
outros muitos seguirão “estes caminhos”
– caminhos convergentes em Ti, ó Pai –
só assim virá o dia em que o Teu louvor
terá chegado até aos confins da terra!
[ do Salmo Responsorial / 66 (67) ]
29 Abril, 2016
O «NÓS» SUPÕE E SUPERA O «EU»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 6 de PÁSCOA)
O «NÓS» SUPÕE E SUPERA O «EU»
Humanamente, sempre foi e será difícil conciliar ou “conjugar” estas duas «pessoas verbais», a 1ª do singular (eu) com a 1ª do plural (nós). E isto é assim, não apenas pela nossa “tendência instintiva” a afirmar o “eu” como atitude individualista, excluindo o “nós” ou relegando-o para um segundo ou último plano. Más também porque a limitação humana – nesta nossa situação “espácio-temporal” – não está capacitada para, naturalmente, inserir ou encaixar o “eu” no “nós”, dado que a nossa inclinação é para “absolutizar o eu”. Parece como que somos capazes – apenas e só – de uma escolha “disjuntiva”: ou “o eu”, ou “o nós”. Porém, nós teremos de encontrar alguém que nos ensine a “conjugar” essas “duas pessoas” na mesma “Pessoa”!…
Podemos estar propensos a pensar que Deus, como “Ser Uno”, cujo nome – lembram-se? – é «Sou Eu» (Ex 3), seria o menos indicado para O escolhermos como Modelo nesta “conjugação” ou integração (Eu-Nós)… Nada tão longe da verdade!
Antes de abrirmos a Palavra de hoje, perguntamo-nos: Porque é que Deus (ou Jesus, no seu caso), em algumas ocasiões, utiliza o “plural” em vez de o singular? E não só “na palavra”, mas também “na atitude”. Basta lembrar aquele episódio, dos mais antigos da Bíblia (Gn 18), onde Deus, o Senhor, visita Abraão, na forma de três personagens misteriosos. Estes “três homens”, falam e agem tanto em singular (a pessoa de cada um deles) como também agindo em plural (“como um só homem”, diríamos nós). Certamente, tudo isso tem um significado!…
Se abrimos agora a Palavra, no Evangelho de hoje (3ª leitura), deparamo-nos logo com esta afirmação de Jesus: “Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. É Deus quem está a falar (através da Pessoa de Jesus). Ou melhor, é Jesus quem fala, como Deus que é, utilizando o “Nós” plural. Claro que Ele, imediatamente a seguir, e para não haver dúvidas, esclarece que este Deus exprime-Se em plural ao considerar-Se em Três Pessoas divinas, embora um só Deus: “…O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14 / 3ª L.). “Espírito”, “Pai” e “Eu”: Trata-se exatamente daquele Deus, Uno e Trino – o Mistério da Trindade – que fica aí «revelado». Lembram-se? – Deus-Trindade, Deus-Comunidade!
Ora bom, dado que nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, deveremos aprender (se ainda o não fazemos) a falarmos e agirmos como grupo – “comunidade” – mas, ao mesmo tempo, assumindo-nos, cada um de nós, como “indivíduo-pessoa”. E mais ainda, contendo ou incluindo a presença do Deus Trino, ou alguma das três Pessoas, quer na comunidade quer na pessoa!
É isso que aprenderam a viver e manifestar aqueles discípulos de Jesus, nas suas “comunidades” e assembleias, já desde os primeiros tempos. Com toda a naturalidade – e sempre «na presença de Deus» – eles decidiam comunitariamente, e transmitiam as suas decisões às outras comunidades. E assim, podiam escrever: “O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis…”. (At 15 / 1ª L.). Vê-se que nesta, como noutras passagens do livro dos Atos dos Apóstolos, aparecem expressões semelhantes, onde se verifica que os discípulos, os cristãos, consideravam a “Pessoa” do Espírito Santo (Deus) associada à sua Comunidade Cristã (“o Espírito Santo e nós”). Aprendamos e vivamos, na verdade, esta linguagem e atitude cristã!
Isto para não falar já da Nossa Futura Comunidade Celeste, descrita no Apocalipse, onde o vidente, João, escreve: “Nesta cidade celeste… não vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro. E a cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cordeiro”. (Ap 21 / 2ª L.).
[ Nota: Já agora, «ubuntu», expressão de uma das culturas africanas, significa: «Eu sou porque nós somos» (!!!) ].
Resplandeça sobre nós, Senhor,
a luz do Teu rosto, Deus Uno e Trino,
– Família e Comunidade Trinitária –
que a todos cativa e seduz…
Pois queremos aprender a viver
a Tua linguagem e atitude cativante,
que ilumina as “pessoas” e as “comunidades”,
que “contagia” as nossas Famílias e Grupos,
para vivermos a unidade na diversidade,
conjugando a nossa liberdade pessoal
com o nosso sentido coletivo e comunitário…
Porque é vivendo assim, ó Deus, a Tua Vida
e espalhando assim esse Amor Trinitário,
que faremos germinar o Teu Reino entre nós,
até conhecerem todos os Teus caminhos:
caminhos de verdade e de vida,
caminhos de santidade e de graça,
caminhos de justiça, de amor e de paz…
Pois só seguindo as pegadas de Jesus,
com entusiasmo sempre crescente,
outros muitos seguirão “estes caminhos”
– caminhos convergentes em Ti, ó Pai –
só assim virá o dia em que o Teu louvor
terá chegado até aos confins da terra!
[ do Salmo Responsorial / 66 (67) ]