«SE HOJE ESCUTARDES… NÃO FECHEIS…»
Já sabemos – lembram-se? – que, desde muito antigo, «o Senhor Deus gosta, prefere… diríamos que “é o seu estilo”, comunicar-Se com os homens através de outros homens»… E na Palavra de hoje, vamos ter ocasião de refletirmos, até nos convencermos, acerca da importância de aprendermos a descobrir onde, e através de quem, nos está a falar «a voz do Senhor», para assumi-la e transmiti-la…
Primeiro, é Moisés que fala ao Povo: “«O Senhor, teu Deus, fará surgir no meio de ti, de entre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deveis escutar»”… E não esqueçamos que Moisés é o primeiro e o mais antigo profeta (de todos os tempos)!… Pois já naquela altura, Deus deixou bem assente que… um outro “homem” – o verdadeiro Profeta do futuro – é que ia «falar a Sua Palavra». “O Senhor disse-me: Farei surgir para eles, do meio dos seus irmãos, um profeta como tu. Porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. Se alguém não escutar as minhas palavras que esse profeta disser em meu nome, Eu próprio lhe pedirei contas…” (Dt 18 / 1ª L.). Claro que “esse profeta”, que há de “surgir de entre os irmãos”, é o Messias, Jesus de Nazaré, o único e autêntico Profeta. Mas não só. Pois sabemos que, por extensão, todos os “irmãos” (e discípulos) deste Profeta, ao longo de todos os tempos, vão falar também em Seu Nome. E, portanto, se ouvindo-os, não forem “escutados”, é “o próprio Deus que há de pedir contas” a quem fechou os ouvidos e/ou o coração!
Mas pode surgir esta “pergunta”: Porque é que Deus não quer fazer ouvir a Sua voz diretamente, em vez de o fazer por “mediadores” humanos?… Ainda nesta primeira leitura (do Deuteronómio) encontramos o motivo e fundamento. O próprio Moisés reconhece que foi o povo, reunido em assembleia, que decidiu pedir ao Senhor que lhes falasse através de “intermediários”, porque – pensavam eles – “se ouviam a voz do Senhor Deus… iam morrer”. Por isso, o próprio Senhor seu Deus, disse a Moisés: “Eles têm razão… e assim, farei surgir, para eles, alguém em que porei as minhas palavras… para falar em Meu nome…” (Dt 18).
Vejamos, então, o que diz o Evangelho de hoje acerca daquele primeiro “mediador” da Voz de Deus, o Profeta Jesus – Ele próprio “o Verbo”, “a Palavra” – homem perfeito sem deixar de ser Deus. O autor inspirado (neste caso o evangelista Marcos) antes de descrever a atividade de Jesus de Nazaré, começa por afirmar: “Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina…”. E a seguir acrescenta-se a razão desta “fascinação”: “Porque os ensinava com autoridade e não como os escribas”… (Mc 1 / 3ª L.). Certamente, toda aquela gente sentia, no seu íntimo, que este “homem” («o filho do homem») falava em nome de Outrem, mas ao mesmo tempo com essa “veracidade” (“autoridade”) que refletia a sua pessoa humana, e que eles não eram capazes de explicar…
E agora, o que é que nos diz a Palavra a nós, que nos situamos, desde Jesus de Nazaré, na sequência desses “mediadores da Voz”, como cristãos que somos? O que é que podemos refletir, deduzir e concluir, como “discípulos”, responsáveis pela transmissão fiel da Palavra de Deus?…
Porém, uma coisa é certa – na convicção de S. Paulo –: Todos, “sejam eles casados, solteiros, virgens…” todos têm (temos) os seus (nossos) votos ou compromissos para cumprir, segundo a nossa vocação e estado de vida… [2ª Leit.(1 Cor 7)]. É a “urgência” da Palavra!
Pois se pretendemos que Deus fale pela nossa boca, ou que a nossa voz seja o reflexo fiel da voz de Deus, deveremos aprender de todos aqueles profetas – e de estes de hoje! – que falaram e falam em nome de Deus, e tentar imitá-los. Em primeiro lugar, em como se deve escutar… para, a seguir, saber como se deve falar. Pois, “falsos profetas” sempre houve e sempre haverá… como também houve e haverá os que sabem escutar e viver a Palavra (a voz de Deus)… e, pelo contrário, os que “ao ouvirem a voz do Senhor, são capazes de fechar os seus corações…”, como nos avisa o Salmo Responsorial da 1ª leitura, [ Sl 94 (95) ].
Por isso nós, discípulos de Jesus,
sentimos no íntimo da nossa vida,
a urgência de transmitirmos fielmente
a Tua voz, ó Pai, que nos interpela…
Queremos ter abertos sempre
os ouvidos do corpo e da alma,
para escutarmos a Tua Palavra,
e nunca fecharmos os nossos corações
como outros, infelizmente, fazem;
ou como aqueles outros de Meriba
ou aqueles do dia de Massa no deserto;
ou como fecham os ouvidos e o espírito
tantos outros que, lamentavelmente,
pretendem ignorar a voz da Tua Palavra,
apesar de estar a ver, por toda a parte,
as maravilhas da Tua Criação…
Quem dera, Senhor nosso Deus,
que todos ouvissem a Tua voz,
para chegarmos a ser o Teu povo,
as ovelhas do Teu rebanho!
[ do Salmo Responsorial / 94 (95) ]
29 Janeiro, 2015
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Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
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