Ciclo B – Batismo do Senhor / domingo… )
O ESPÍRITO «EM FORÇA»
Por aproximação ao estilo humano – outra vez o sentido antropológico! – é “natural” associarmos as três grandes Forças/Dimensões do Universo criado, a cada uma das três Pessoas da Divina Trindade…
E nesta nossa caminhada litúrgica – sempre Nova e sempre antiga porque «re-Ciclada?» – acabamos de iniciar o novo Ciclo litúrgico (B) e já podemos observar o “protagonismo” sucessivo das três Divinas Pessoas da Trindade. No tempo do Advento (como resumo da Obra da Criação anterior) as antigas Profecias deram o protagonismo a Deus-Pai Criador. Nestes dias do Natal, foi a vez da Encarnação de Deus, na Pessoa do Deus-Filho, que inicia assim a Obra da Redenção-Salvação, que vem a ser como a Nova Criação ou «Re-Criação». E agora que este Filho Jesus se prepara para iniciar já a sua “Vida Pública” para o anúncio do Reino (o “seu Evangelho”), irrompe, entrando mesmo em força de Amor, a Ação da terceira Pessoa, o Deus-Espírito Santo, na sua Obra de Santificação e Divinização…
Na primeira leitura de hoje, do profeta Isaías (o chamado «segundo Isaías») aparece, com todo o vigor da energia divina, a ação misteriosa e poderosa do «espírito» sobre aquele «servo de Javé», que há de chegar num futuro de Salvação. “Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações… Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações…»”. (Is 42 / 1º L.). Será, então, a força e o vigor divinos deste Espírito que, ao repousar sobre ele (o futuro Messias Salvador), O transformará em “aliança do povo e luz das nações”, capaz de: levar a justiça aos povos; proclamar fielmente essa justiça até a estabelecer na terra; abrir os olhos aos cegos; tirar da prisão os que habitam nas trevas; etc.
O apóstolo Pedro, por sua vez – quinhentos anos volvidos daquela profecia de Isaías – pode constatar já a sua realização histórica, no tempo e na pessoa de Jesus de Nazaré; até porque Deus realiza sempre as suas promessas, e as profecias nunca deixam de ser cumpridas. Eis a parte central do discurso de Pedro, que hoje encontramos nos «Atos dos Apóstolos», da segunda Leitura: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele»” (At 10 / 2ª L.). Também aqui fica bem claro que a Missão Salvadora do Messias é realizada pela “unção de Jesus de Nazaré com a força do Espírito Santo”.
E nesta sequência, ao escutarmos hoje, no Evangelho, o relato que faz Marcos do Batismo de Jesus, entendemos perfeitamente as palavras introdutórias do próprio João Batista. Vejamos primeiro o relato de Marcos: “Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele”. Cá está, portanto, o protagonismo do Espírito, em figura de pomba. Mas o testemunho prévio que dá João Batista é este: “«Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo»…” (Mc 1 / 3ª L.). É evidente que só Quem está “ungido” (possuído) pela força do Espírito poderá batizar, não apenas na água mas também “no Espírito Santo” e no fogo… Aliás, logo há de vir, ao seu devido tempo, a plena efusão do Espírito…
Fica, então, concluída, mas aberta e lançada ao futuro, a Obra Maravilhosa da Criação “sonhada por Deus”. E é, portanto, normal e natural que, neste episódio evangélico do Batismo de Jesus, apareça a manifestação («epifania») integral e completa do Mistério da Santíssima Trindade: o Pai, na voz que se ouve vinda do Céu; o Filho, na pessoa de Jesus de Nazaré que está a ser batizado no rio Jordão; e o Espírito Santo que, em figura de pomba, é “infundido profusamente” naquele Homem-Deus, que é Jesus.
A Voz do Senhor, poderosa e majestosa,
é hoje para nós a Força do Espírito…
E queremos ser ungidos, como Jesus,
com essa energia e vigor que transforma,
para sermos capazes de levar luz às nações,
de transformar-nos em aliança de paz para todos…
Mas Tu, ó divino Espírito de Jesus,
infunde em nós o sopro e a bênção da Tua paz;
que sejamos fiéis às «promessas do Batismo»
e que espalhemos entre todos o amor fraterno
ao sentirmo-nos realmente filhos de Deus.
Espírito Santo de Amor e fogo,
enche os nossos vazios e alumia as zonas escuras…
E tal como a voz do Pai ressoou sobre as nuvens
e o Filho Jesus nos deu o Sacramento do Batismo,
Tu, ó Espírito Criador e Santificador, infunde,
em nossos corações, os dons que mais precisamos…
[ do Salmo Responsorial / 28 (29) ]
4 Abril, 2015
«MULHER… APAIXONADA»
Luis López Sem categoria 0 Comments
«MULHER… APAIXONADA»
Neste «tempo de Aleluias!», da Páscoa “florida”, trazemos a lembrança daquele “poema” tão antigo (de uma “liturgia cristã” tão antiga, quando todas as “liturgias” eram naquele latim tão antigo) que dizia assim: «Dic nobis, Maria, quid vidisti in via?»… Mensagem em código que será decifrado no seu momento.
A verdade é que Pedro e João, e os dois discípulos de Emaús, e Maria Madalena… são alguns dos “personagens” bem presentes, desde a primeira hora, naqueles acontecimentos em volta da Ressurreição de Jesus de Nazaré. Da sinceridade e coragem de todos eles, cada qual à sua maneira – também nas falhas! – podemos aprender lições para a nossa vida de discípulos que lutam por serem fiéis e amigos autênticos de Jesus…
Escolhemos hoje Maria Madalena, essa mulher transformada pelo Amor, “aquela de quem tinham sido expulsos sete demónios”(Lc 8)… Mas poderia ser aquela outra mulher “que amou muito porque muito lhe foi perdoado”(Lc 7)… Ou, então, aquela outra, irmã de Marta e de Lázaro, “que veio onde estava Jesus à mesa, e, quebrando um vaso de perfume de grande valor, derramou-o sobre a cabeça do seu Mestre”(Mc 14)… Qualquer uma destas mulheres, que são figura e protótipo da «mulher apaixonada» por Deus, logo que encontraram a verdade do Amor na Pessoa de Jesus, abandonaram outros amores, escuros e falhados, para pôr o seu coração inteiro no seu Mestre e Senhor (“Rabi”), custe o que custar e aconteça o que acontecer! É que – e “elas” sabem-no muito bem! – para Deus, em Jesus, tudo o que, no passado, possa ter havido de mal e de pecado nas nossas vidas, já não conta, ficou esquecido; diríamos como que, para essas coisas, Deus não tem “memória”.
Desde logo, hão de vir dias terríveis e horas escuras, sobretudo na paixão e morte de Cristo… mas “elas” estarão sempre entre os mais fiéis, seguindo-Lhe até ao pé da cruz, onde as encontramos – nomeadamente Maria Madalena – junto com Maria, a Mãe de Jesus, ela também «mulher apaixonada» mais do que todas! Assim o escutávamos, na leitura da Paixão, nesta Sexta-feira Santa: “Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19).
E lá está ela, a Madalena, ao pé da cruz do seu Amor crucificado, alheia ao que possam pensar, dizer ou fazer os outros… até porque já tinha sido libertada de sete espíritos malignos… É que o amor verdadeiro é mais forte do que a morte! Não admira, por isso, que seja este amor de fortaleza como que o íman que a impeça separar-se d’Ele, mesmo após a Sua morte. Também não admira que seja ela – a Madalena – a primeira a visitar o sepulcro antes do amanhecer: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada… Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predileto de Jesus…” (Jo 20 / 3ª L.). É verdade que ainda não é alegria o que ela sente, mas tristeza pela desaparição do corpo do seu Amado… Mesmo assim, já se sente impelida a levar a notícia aos “outros amigos”. Porém, a pena não tardará a transformar-se em Alegria plena e em Aleluias, quando, logo a seguir, tenha o seu encontro pessoal com o próprio Jesus, Vivo e Ressuscitado. Ainda assim, não foi um reconhecimento imediato, até que Jesus a chama pelo seu nome: “Maria!”. A partir desse momento, tudo fica claro e luminoso… e, ao mesmo tempo, fica “decifrado” aquele nosso «enigma» inicial. É que os discípulos das primeiras comunidades cristãs, a que pertencia Maria Madalena, compuseram um «hino litúrgico» com aquelas palavras: «Diz-nos, Maria, o que é que viste no teu caminho?». Ao que ela respondia: «Eu vi o sepulcro de Cristo Vivo e a glória do Ressuscitado! Vi as testemunhas dos Anjos!… Ressuscitou Cristo, minha Esperança …» (ver: “Sequência” ou hino / Domingo de Páscoa).
E a paixão por Cristo desta mulher, continuará em aumento toda a sua vida – já naquelas primitivas comunidades cristãs – entre os principais discípulos do Mestre, Jesus de Nazaré, Vivo para sempre! Aliás, nela como nas outras, fez-se realidade a exortação de Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo… Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus…” (Cl 3 / 2ª L.). E oxalá que o seja também para todos nós!
Realmente, podemos dizer que estão a cumprir-se as palavras de Jesus, aplicadas, em certa ocasião, a uma destas «mulheres apaixonadas»: “Em verdade vos digo: ali onde chegar o anúncio deste Evangelho em todo o mundo, ficará a saber-se o que fez esta mulher, para memória sua”. (Mc 14, 9).
Aleluia! Este é o Dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria!…
«Dic nobis, Maria, quid vidisti in via?»
– Diz-nos, Maria Madalena,
o que é que viste no teu caminho?
Tu que foste testemunha matinal
no dia da Ressurreição, diz-nos, Maria!
– «Vi o sepulcro de Cristo Vivo
e toda a Glória do Ressuscitado…».
E nós, discípulos e amigos de Jesus,
queremos experimentá-Lo “Transfigurado”;
sentirmos a Sua presença ressuscitada;
podermos dizer como tu, Maria, com verdade:
«Vive Cristo, a minha Esperança, Aleluia!».
E proclamar, com o salmista neste dia:
Nós não morremos mas havemos de viver
para contar e cantar as obras do Senhor!
[ do Salmo Responsorial / 117 (118) ]