(Ciclo B – Dom.34-T.C.- JESUS CRISTO REI)
«NÃO ESTÁS LONGE DO REINO»
Estas palavras, quando menos, apresentam-se confusas. Para já, o termo “reino”, neste caso, não tem o significado vulgar que lhe atribuímos (de “monarquias”, “realezas” ou “impérios” terrenos); e diga-se coisa parecida da expressão “estar longe” ou perto… desse reino. Então, a conclusão é simples: deve tratar-se de uma realidade fora dos limites deste mundo, aliás, de uma outra dimensão… Digamos, de passagem, que essas palavras do nosso «título» foram dirigidas, por Jesus, àquele escriba que manifestava uma atitude de sinceridade e “sabedoria”: “Tu não estás longe do Reino de Deus” (Mc 12, 34). E para que ficasse ainda mais claro (ou mais “misterioso”?) o sentido desse “reino”, o mesmo Jesus tinha proclamado, em várias ocasiões, afirmações como esta: “O Reino de Deus está entre vós” ou “está dentro de vós” (Lc 17, 21). Assim sendo, o verdadeiro Mistério continua… Vejamos, então, se a Palavra de hoje nos ajuda a “iluminá-lo”, para logo assumi-lo pela fé… já que não será possível compreendê-lo por se tratar de um “mistério”.
Aquele «filho do homem» que aparecia na “visão” do profeta Daniel (1ª leitura), estava destinado a receber – quando “ele” surgisse – uma «realeza» tal que o «reino» correspondente não teria fim… “Sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram e o seu reino não será destruído”.(Dn 7 / 1ª L.). Via-se, desde logo, que aquele reino não podia ser do género dos que eram conhecidos naquela altura… Havia qualquer coisa que deveria mudar profundamente!
Mas foi o próprio Jesus, naquele diálogo que teve com o governador romano Pôncio Pilatos, que, à frente daquela audiência que O estava a condenar, anunciou claramente: “«O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui»”… E quando Pilatos lhe faz a pergunta direta “Logo Tu és rei?”, Jesus tem igualmente uma resposta direta: “«É como dizes: Sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»”. (Jo 18 / 3ª L.). Quer dizer, este mistério de «o reino que traz Jesus» não cabe, portanto, nas coordenadas desta realidade presente espácio-temporal, embora é «aqui e agora» que começa. E é igualmente nesta terra que já está presente e atuante – “em gérmen” – na vida de todos e cada um dos que optam por seguir este «Caminho» do Evangelho de Jesus.
Sabemos muito bem que, para se exprimir com mais clareza, o mesmo Jesus utilizou, “inventou”, diversas parábolas: as conhecidas como «Parábolas do Reino»… Por exemplo: “«O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo…”; “«O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda…”; “«O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura…”; “«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo…”; “«O Reino do Céu é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar…”. (Mt 13…). Etc.
Temos, pois, um Reino que – para além do nome – nada tem a ver, pelo que se vê, com os reinos deste mundo… E é para nos interrogarmos acerca de qual deverá ser, então, a nossa atitude perante este Reino, ou o que é que ele exige, na verdade, de nós e da nossa vida, presente e futura?…
Pelo menos o início da nossa resposta para esta questão temo-la naquelas últimas palavras da explicação que Jesus dá a Pilatos (“Eu nasci e vim ao mundo a fim de dar testemunho da verdade; e todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»”). Trata-se, por isso, de vivermos na Verdade para escutarmos a Sua Voz, ou, vice-versa, seguirmos a Sua Palavra para sermos da Verdade. Tanto faz! Em conclusão: deveremos viver “dando testemunho desta verdade”, tal como Jesus fez, pois – também nós! – “para isso nascemos e vimos a este mundo”!
Senhor Jesus, «Alfa e Ómega» do Tempo;
princípio e fim do que tem existência caduca…
mas «princípio sem fim» de tudo o que é imortal!
O Teu trono real de luz e de majestade
manifesta-se na Santidade e no Amor;
porque o Teu reino não é deste mundo,
e atua desde o interior pois está dentro de nós,
respeitando sempre a liberdade de todos.
Assim, o Teu trono de amor é firme desde sempre
e a Tua realeza de santidade será eterna…
Quando vieres “entre as nuvens do céu
os olhos de todos os homens Te verão,
mesmo os olhos dos que Te trespassaram”.(*)
Entretanto, a todos queremos fazer partícipes
do nosso compromisso, utilizando aquela canção:
«Neste mundo que faz da matéria seu deus e seu fim,
quem tem fé, por favor, não se omita fingindo não ter.
Quem não tem, por favor, nunca deixe a matéria vencer.
Eu, porém, acredito que o Reino de Deus vive em mim».
[ do Salmo Responsorial / 92 (93) ] (*)-(Ap 1 / 2ª L.)
27 Novembro, 2015
«NÃO ESTAMOS LÁ». VAMOS «A CAMINHO»!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – 1º Domingo do Advento)
«NÃO ESTAMOS LÁ». VAMOS «A CAMINHO»!
A nossa tendência natural é – bem instalados cá! – alcançarmos o «gozo máximo» em todos os sentidos (e “com” todos os “sentidos”!?). Não é verdade? Ou seja que, por instinto, tendemos à «instalação no prazer»… Porém, na realidade, o que se verifica é que isso não é possível! Pois não é próprio desta vida, ou desta experiência terreal finita e caduca, ficarmos por cá “instalados”, na maior! Aliás, a realidade, penosa e aflitiva, que se constata neste mundo, é bem outra… E cá está o cerne e núcleo da questão, de resto, bem expresso e “denunciado” em toda a Bíblia – na antiga e nova Aliança – como é fácil verificar.
Particularmente, a Palavra da Eucaristia de hoje, na sua globalidade, dá por suposto que o cenário deste mundo é só “de passagem”, e portanto subordinado às «contingências» do espaço e do tempo, que, por definição, são limitadas e transitórias.
Para que os seus contemporâneos, no meio dos infortúnios daquele presente, não perdessem a fé e a esperança, o profeta Jeremias parecia intuir, por inspiração de Deus, que a solução viria no futuro, mas com toda a certeza: “Eis o que diz o Senhor: «Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel… e farei germinar para David um rebento de justiça… Então, Jerusalém viverá em segurança…»” (Jr 33 / 1ª L.). A interpretação deste texto bíblico, como de todos os que se referem ao «Messias» (“rebento”), não é aquela que à primeira vista possa parecer. Sabemos já que a vinda definitiva do Messias Salvador só acontece, real e verdadeiramente (e terá de o ser para a nossa libertação total e absoluta) quando tiver lugar o fim da nossa vida mortal, temporal e terrena. Este «encontro» é que deverá ser Salvador e Feliz!
Entretanto, e já que «esta vida não é a Vida», Jesus vai deixando-nos a Sua “Mensagem” (“Evangelho”), neste caso em forma de avisos e alertas: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida…”. Atenção, não convém, portanto, ficar a dormir, como à espera de que tudo nos caia das nuvens. É preciso “vigiar e orar”! O que diz Jesus é exatamente isto: “Que esse dia (isto é, o da nossa «partida deste mundo»!) não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo…”. Ninguém poderá alegar que não foi avisado ou prevenido, quanto mais não for, pelos acontecimentos que observamos no dia a dia à nossa volta e no resto do mundo, e que concordam com o “alerta” de Jesus. “Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, alegrai-vos, porque a vossa libertação está próxima”… Pois é, realmente “estas coisas que começam a acontecer” são aquelas que, como dizíamos, observamos, a diário, à nossa volta. Para isso, basta termos abertos os olhos, os da cara e os do coração… E então, sim, “havemos de ver o Filho do homem vir numa nuvem (ou na forma que for) com grande poder e glória”. (Lc 21 / 3ª L.).
São Paulo, por seu lado, deixa-nos o seu “alerta” em forma de desejo veemente, a pensar precisamente no «dia da vinda de Jesus». E o faz na sua primeira Carta, endereçada aos cristãos de Tessalónica, quando escreve: “O Senhor confirme os vossos corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos”. (1 Ts 3 / 2ª L.).
Será que, a fim de contas, vamos ficar persuadidos e convictos de que «AINDA NÃO ESTAMOS LÁ, MAS VAMOS A CAMINHO»? Ou iremos continuar a pôr os nossos “sentidos” – corporais e espirituais – naquelas coisas “perecedoiras”, caducas, transitórias,… como toda a “glória deste mundo que passa” («Sic transit gloria mundi»)? A escolha é nossa!
Para Ti, Senhor, elevo a minha alma,
o meu espírito e todos os meus sentidos,
os afetos e afeições do meu coração…
pois, cá em baixo, ó Pai nosso,
nada há que os possa encher e satisfazer…
Mostra-me, Senhor, “os Teus” caminhos
– que são de misericórdia e fidelidade
para os que «guardam a tua Aliança» –
já que “os meus” se desviam da direção certa…
Ensina-me, então, Senhor, as Tuas veredas,
os caminhos e sendas da Tua Verdade.
Que a minha vida cá – apenas «caminhada» –
não se agarre a coisas caducas e finitas,
mas a tudo o que é transcendente
e tem valor e porte de eternidade…
Tu, ó Pai, que guias os humildes na justiça,
orienta o meu caminho na fidelidade,
para eu ser capaz de ensinar aos transviados
os caminhos da verdade e da justiça,
as sendas da verdadeira Liberdade e Felicidade.
[ do Salmo Responsorial / Sl 24(25) ]