56b- Escatologia - Diversa «sorte final»

  (Ciclo B – Domingo 33 do T. Comum…) 

«ESCATOLOGIA» – DIVERSA «SORTE FINAL»!

Ainda há poucos dias, “passávamos” pelos “disfarces” do Halloween (resultado e produto de uma mistura de tradições pagãs e religiosas; curiosamente, “halloween” significava, na origem, “Véspera de Todos os Santos”). E verifica-se, mais uma vez, que o ser humano precisa de experimentar, periodicamente, sensações contraditórias; um misto de beleza e fealdade, de negrura e claridade, de medo e coragem, de fadas e bruxas, de terror e audácia, de morte e vida, de diabos e santos… Será que o bem e o positivo resplandecem mais e melhor ao emergir do mal e do negativo (!?)… Pois parece evidente que, no mais profundo e íntimo dos humanos, existe essa luta radical entre o mal e o bem; e que, para sentir a beleza da Vida e a sua transcendência «na vitória final», é necessário experimentar a garra da morte «no decorrer das lutas precedentes»… E assim, aos poucos, vai ficando – em nós – uma espécie de sedimento íntimo, ao mesmo tempo que se levanta, no mínimo uma questão radical: Qual será a minha «sorte final»? De que lado estarei eu situado? Será que – antes de aquela última fase dita «escatológica» – terei eu sido responsável ou protagonista da minha vitória, ou derrota, final?…

A Palavra deste domingo projeta realmente uma luz radiante sobre estas questões e outras semelhantes. E repare-se que o profeta Daniel (1ª Leitura) escrevia ainda no AT, ou seja, quando a crença numa possível transcendência, ou existência de um “Além” de supervivência, apareciam apenas através de uma ténue nebulosa que só permitia adivinhar… Contudo, a palavra de Daniel desponta já com toda a clarividência: “Mas, nesse tempo, virá a salvação para o teu povo, para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus. Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno” (Dn 12). Começa-se, então, a vislumbrar a implicação da liberdade e vontade humanas no resultado último, isto é, na consequente “retribuição”, para bem ou para mal.

Fiquemos, porém, com o maravilhoso texto conclusivo do Profeta (que parece mais próprio do NT): “Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade”.(Dn 12 / 1ª L.).

Cristo Jesus – o Autor e Fautor da “viragem” do AT para o NT – veio apoiar e confirmar esta “verdade”, ainda em embrião, do tempo dos últimos profetas: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai»”. É que, verdadeiramente, naquela altura («na hora da verdade») “hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu”. Assim sendo, em todo e qualquer momento da nossa vida, devemos estar preparados (“a postos”!) “sabendo que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta”. (Mc 13 / 3ª L.).

Mas quem ler com atenção o Evangelho de hoje (melhor se for todo o c. 13) pode ficar perplexo perante essa série de anúncios premonitórios, de propósito misturados, e de tal maneira sequenciados que o tempo e o espaço parecem escapar a toda a lógica humana… Sem qualquer “demarcação”, sucedem-se acontecimentos próximos – “Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” – e eventos de um futuro indeterminado, mais ou menos longínquo (“as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória”…). Esta «aparente ilógica» é interpretada tendo em conta que devemos estar em estado de constante alerta e vigilância, mas sossegados e de consciência tranquila, já que o aviso é claro: “Esse dia e essa hora, ninguém os conhece”. E pouco importa que se trate do nosso “dia e hora” pessoal e particular (o da «minha morte»), ou se refira a qualquer outro “dia e hora” Final. Pois (jogando com o termo) «afinal só pode haver um final para cada pessoa»!

 

Guarda-me e defende-me, Senhor,

porque espero em Ti, meu refúgio!

Eu sei que está nas Tuas mãos

o meu destino – presente e futuro –

e por isso a minha alma fica confiada

e até o meu corpo descansa tranquilo…

Estando Tu sempre na minha presença

eu tentarei viver sempre na Tua, Senhor,

e assim nunca vacilarei nem tremerei:

ainda que tenha de passar pela aflição

ou por caminhos de negrura e de morte…

Porque Tu, ó Pai, não me deixarás,

sobretudo na “minha hora derradeira”,

nem deixarás o Teu fiel na mansão dos mortos,

mesmo tendo de sofrer a corrupção do corpo…

Dar-me-ás a conhecer os caminhos da vida,

a gostar da alegria plena junto de Ti, Senhor,

as delícias eternas na Tua presença!

[ do Salmo Responsorial / 15 (16) ]