57b- Não estás longe do reino

 (Ciclo B – Dom.34-T.C.- JESUS CRISTO REI) 

«NÃO ESTÁS LONGE DO REINO»

Estas palavras, quando menos, apresentam-se confusas. Para já, o termo “reino”, neste caso, não tem o significado vulgar que lhe atribuímos (de “monarquias”, “realezas” ou “impérios” terrenos); e diga-se coisa parecida da expressão “estar longe” ou perto… desse reino. Então, a conclusão é simples: deve tratar-se de uma realidade fora dos limites deste mundo, aliás, de uma outra dimensão… Digamos, de passagem, que essas palavras do nosso «título» foram dirigidas, por Jesus, àquele escriba que manifestava uma atitude de sinceridade e “sabedoria”: “Tu não estás longe do Reino de Deus” (Mc 12, 34). E para que ficasse ainda mais claro (ou mais “misterioso”?) o sentido desse “reino”, o mesmo Jesus tinha proclamado, em várias ocasiões, afirmações como esta: “O Reino de Deus está entre vós” ou “está dentro de vós” (Lc 17, 21). Assim sendo, o verdadeiro Mistério continua… Vejamos, então, se a Palavra de hoje nos ajuda a “iluminá-lo”, para logo assumi-lo pela fé… já que não será possível compreendê-lo por se tratar de um “mistério”.

Aquele «filho do homem» que aparecia na “visão” do profeta Daniel (1ª leitura), estava destinado a receber – quando “ele” surgisse – uma «realeza» tal que o «reino» correspondente não teria fim… “Sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram e o seu reino não será destruído”.(Dn 7 / 1ª L.). Via-se, desde logo, que aquele reino não podia ser do género dos que eram conhecidos naquela altura… Havia qualquer coisa que deveria mudar profundamente!

Mas foi o próprio Jesus, naquele diálogo que teve com o governador romano Pôncio Pilatos, que, à frente daquela audiência que O estava a condenar, anunciou claramente: “«O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui»”… E quando Pilatos lhe faz a pergunta direta “Logo Tu és rei?”, Jesus tem igualmente uma resposta direta: “«É como dizes: Sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»”. (Jo 18 / 3ª L.). Quer dizer, este mistério de «o reino que traz Jesus» não cabe, portanto, nas coordenadas desta realidade presente espácio-temporal, embora é «aqui e agora» que começa. E é igualmente nesta terra que já está presente e atuante – “em gérmen” – na vida de todos e cada um dos que optam por seguir este «Caminho» do Evangelho de Jesus.

Sabemos muito bem que, para se exprimir com mais clareza, o mesmo Jesus utilizou, “inventou”, diversas parábolas: as conhecidas como «Parábolas do Reino»… Por exemplo: “«O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo…”; “«O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda…”; “«O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura…”; “«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo…”; “«O Reino do Céu é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar…”. (Mt 13…). Etc.

Temos, pois, um Reino que – para além do nome – nada tem a ver, pelo que se vê, com os reinos deste mundo… E é para nos interrogarmos acerca de qual deverá ser, então, a nossa atitude perante este Reino, ou o que é que ele exige, na verdade, de nós e da nossa vida, presente e futura?…

Pelo menos o início da nossa resposta para esta questão temo-la naquelas últimas palavras da explicação que Jesus dá a Pilatos (“Eu nasci e vim ao mundo a fim de dar testemunho da verdade; e todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»”). Trata-se, por isso, de vivermos na Verdade para escutarmos a Sua Voz, ou, vice-versa, seguirmos a Sua Palavra para sermos da Verdade. Tanto faz! Em conclusão: deveremos viver “dando testemunho desta verdade”, tal como Jesus fez, pois – também nós! – “para isso nascemos e vimos a este mundo”!

Senhor Jesus, «Alfa e Ómega» do Tempo;

princípio e fim do que tem existência caduca…

mas «princípio sem fim» de tudo o que é imortal!

O Teu trono real de luz e de majestade

manifesta-se na Santidade e no Amor;

porque o Teu reino não é deste mundo,

e atua desde o interior pois está dentro de nós,

respeitando sempre a liberdade de todos.

Assim, o Teu trono de amor é firme desde sempre

e a Tua realeza de santidade será eterna…

Quando vieres “entre as nuvens do céu

os olhos de todos os homens Te verão,

mesmo os olhos dos que Te trespassaram”.(*)

Entretanto, a todos queremos fazer partícipes

do nosso compromisso, utilizando aquela canção:

«Neste mundo que faz da matéria seu deus e seu fim,

quem tem fé, por favor, não se omita fingindo não ter.

Quem não tem, por favor, nunca deixe a matéria vencer.

Eu, porém, acredito que o Reino de Deus vive em mim».

[ do Salmo Responsorial / 92 (93) ]   (*)-(Ap 1 / 2ª L.)