1c- Não estamos lá. Vamos a caminho.

(Ciclo C – 1º Domingo do Advento)

«NÃO ESTAMOS LÁ». VAMOS «A CAMINHO»!

A nossa tendência natural é – bem instalados cá! – alcançarmos o «gozo máximo» em todos os sentidos (e “com” todos os “sentidos”!?). Não é verdade? Ou seja que, por instinto, tendemos à «instalação no prazer»… Porém, na realidade, o que se verifica é que isso não é possível! Pois não é próprio desta vida, ou desta experiência terreal finita e caduca, ficarmos por cá “instalados”, na maior! Aliás, a realidade, penosa e aflitiva, que se constata neste mundo, é bem outra… E cá está o cerne e núcleo da questão, de resto, bem expresso e “denunciado” em toda a Bíblia – na antiga e nova Aliança – como é fácil verificar.

Particularmente, a Palavra da Eucaristia de hoje, na sua globalidade, dá por suposto que o cenário deste mundo é só “de passagem”, e portanto subordinado às «contingências» do espaço e do tempo, que, por definição, são limitadas e transitórias.

Para que os seus contemporâneos, no meio dos infortúnios daquele presente, não perdessem a fé e a esperança, o profeta Jeremias parecia intuir, por inspiração de Deus, que a solução viria no futuro, mas com toda a certeza: “Eis o que diz o Senhor: «Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel… e farei germinar para David um rebento de justiça… Então, Jerusalém viverá em segurança…»” (Jr 33 / 1ª L.). A interpretação deste texto bíblico, como de todos os que se referem ao «Messias» (“rebento”), não é aquela que à primeira vista possa parecer. Sabemos já que a vinda definitiva do Messias Salvador só acontece, real e verdadeiramente (e terá de o ser para a nossa libertação total e absoluta) quando tiver lugar o fim da nossa vida mortal, temporal e terrena. Este «encontro» é que deverá ser Salvador e Feliz!

Entretanto, e já que «esta vida não é a Vida», Jesus vai deixando-nos a Sua “Mensagem” (“Evangelho”), neste caso em forma de avisos e alertas: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida…”. Atenção, não convém, portanto, ficar a dormir, como à espera de que tudo nos caia das nuvens. É preciso “vigiar e orar”! O que diz Jesus é exatamente isto: “Que esse dia (isto é, o da nossa «partida deste mundo»!) não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo…”. Ninguém poderá alegar que não foi avisado ou prevenido, quanto mais não for, pelos acontecimentos que observamos no dia a dia à nossa volta e no resto do mundo, e que concordam com o “alerta” de Jesus. “Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, alegrai-vos, porque a vossa libertação está próxima”… Pois é, realmente “estas coisas que começam a acontecer” são aquelas que, como dizíamos, observamos, a diário, à nossa volta. Para isso, basta termos abertos os olhos, os da cara e os do coração… E então, sim, “havemos de ver o Filho do homem vir numa nuvem (ou na forma que for) com grande poder e glória”. (Lc 21 / 3ª L.).

São Paulo, por seu lado, deixa-nos o seu “alerta” em forma de desejo veemente, a pensar precisamente no «dia da vinda de Jesus». E o faz na sua primeira Carta, endereçada aos cristãos de Tessalónica, quando escreve: “O Senhor confirme os vossos corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos”. (1 Ts 3 / 2ª L.).

Será que, a fim de contas, vamos ficar persuadidos e convictos de que «AINDA NÃO ESTAMOS LÁ, MAS VAMOS A CAMINHO»? Ou iremos continuar a pôr os nossos “sentidos” – corporais e espirituais – naquelas coisas “perecedoiras”, caducas, transitórias,… como toda a “glória deste mundo que passa” («Sic transit gloria mundi»)? A escolha é nossa!

 

Para Ti, Senhor, elevo a minha alma,

o meu espírito e todos os meus sentidos,

os afetos e afeições do meu coração…

pois, cá em baixo, ó Pai nosso,

nada há que os possa encher e satisfazer…

Mostra-me, Senhor, “os Teus” caminhos

– que são de misericórdia e fidelidade

para os que «guardam a tua Aliança» –

já que “os meus” se desviam da direção certa…

Ensina-me, então, Senhor, as Tuas veredas,

os caminhos e sendas da Tua Verdade.

Que a minha vida cá – apenas «caminhada» –

não se agarre a coisas caducas e finitas,

mas a tudo o que é transcendente

e tem valor e porte de eternidade…

Tu, ó Pai, que guias os humildes na justiça,

orienta o meu caminho na fidelidade,

para eu ser capaz de ensinar aos transviados

os caminhos da verdade e da justiça,

as sendas da verdadeira Liberdade e Felicidade.

[ do Salmo Responsorial / Sl 24(25) ]