2c- Questão de «caminhos»!

 

(Ciclo C – 2º Domingo do Advento)

QUESTÃO DE «CAMINHOS»!

«Ó grandes e gravíssimos perigos! / Ó caminho de vida nunca certo: / que aonde a gente põe sua esperança, / tenha a vida tão pouca segurança!» (Camões “Os Lusíadas”. Canto I, 105 ). Quantas vezes os poetas – sempre profetas e vice-versa – anunciam ou denunciam “caminhos” diversos… até chegar a proclamar «Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar» (A. Machado)! Mas isto seria já outra história…

Os versos de Camões, porém, levantam a questão da possibilidade humana de transitar por “caminhos da vida… de muito pouca segurança” porque atravessam “grandes e gravíssimos perigos”. A consequência lógica é esse pessimismo ou desesperança que envolve o poeta… Mas – devemos perguntar-nos – é que não existem outros caminhos de certeza e segurança? Ou então, será que aqueles «caminhos inseguros, nunca certos» podem e devem ser transformados em caminhos seguros, de satisfação e júbilo? Uma coisa parece certa: quem anda a percorrer caminhos sem perspetiva de futuro nem esperança final, sempre poderá mudar a direção ou encontrar outro sentido para a sua vida. Não é?

Agora, deixemos falar o profeta, para termos a outra face da medalha. E tentemos interpretar o tipo de caminhos a que se está a referir Baruc “para que Israel possa caminhar em segurança”, quando escreve: “Os filhos de Israel tinham abandonado a Cidade (Jerusalém), caminhando a pé, levados pelos inimigos; mas agora é Deus que os reconduz à Casa, trazidos em triunfo”… Produziu-se exatamente uma viragem na direção ou uma «inversão no sentido»! Mas isto só foi possível porque eles (“Israel”) se voltaram para Deus e imploraram o Seu auxílio, a fim de Ele intervir no seu favor. Então, “Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales, para se aplanar a terra, a fim de que Israel pudesse caminhar em segurança, na glória de Deus”… (Br 5 / 1ª L.).

Por sua vez, um outro profeta – desta vez «o precursor» João Batista – conseguiu ser ainda mais claro e preciso, quando veio como “arauto” do Messias Jesus, e andava por aquelas terras “a pregar um batismo de penitência para a remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto…». Mas, afinal, o que é que era preciso mudar para que fosse possível esse “batismo de penitência e essa remissão dos pecados”? Que coisa proclamava aos quatro ventos essa “voz no deserto”? O que é que ela queria significar exatamente? Pois, mais uma vez, é QUESTÃO DE “CAMINHOS”: “«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus»”. (Lc 3 / 3ª L.).

Assim foi avançando, até concluir, esta “linguagem figurada e simbólica” (típica de «profetas e poetas») prometendo a “salvação de Deus para toda a criatura”. Cabe-nos, a cada um de nós, “decifrar” esta figura parabólica «do caminho» e «dos caminhos»escrita e transmitida para nós –. Está em jogo «o nosso caminho», que é preciso encontrar ou preparar ou “con-verter”… e, uma vez decidido, «segui-lo» com entusiasmo e fidelidade.

São Paulo – que sabia bem, por experiência pessoal, o que significava “inverter o sentido” daquele seu «caminho antes da con-versão» – tentou sempre apontar “caminhos novos e verdadeiros” aos homens e mulheres do seu tempo, gentes de boa vontade, cristãos ou não, e projetar a Luz de Cristo sobre as suas vidas de “caminhantes”… E hoje deixa-nos (na 2ª Leitura, tirada da sua Carta aos Filipenses) mais do que um conselho, uma convicção da sua vivência pessoal: “Deus é testemunha de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus. Por isso Lhe peço que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e discernimento, para que possais distinguir o que é melhor (no processo do «caminho» a seguir) e assim chegar puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo…” (Fl 1 / 2ª L.).

 

Os nossos antepassados transmitiram-nos,

– os nossos pais disseram-nos –

que Tu, ó Deus, “fizeste regressar com júbilo

os cativos de Sião que tinham saído exilados”…

É como os agricultores e gente da lavoura,

que “vão semear, entre o suor e as lágrimas,

mas quando regressam com a colheita,

o caminho transforma-se em júbilo e alegria”.

A Tua Palavra, Senhor e Pai nosso, avisa-nos

dos caminhos que se abrem à nossa frente:

uns, que podem levar à autodestruição e à morte;

outros, que conduzem à Vida e à Felicidade…

Nós precisamos, ó Pai, da força do Teu Amor

para transformar os caminhos tortos e tortuosos

em calçadas e estradas de rumo certo;

para sermos capazes, em todo o tempo,

de “abater os montes” e de “altear os vales”…

Queremos seguir os passos do teu Filho,

à Luz da Sua Palavra que sempre nos guia…

pois, afinal, “Jesus é o nosso Caminho certo,

a nossa Verdade e a nossa Vida”!

 [ do Salmo Responsorial / Sl 125 (126) ]