(Ciclo B – Domingo 4 de PÁSCOA…)
«HÁ PASTORES E… PASTORES!»
Oxalá a história da nossa humanidade tivesse “acontecido” de outra maneira – poderão pensar alguns – porque, infelizmente, está cheia de chefes, mandões e governantes (“pastores” dos “rebanhos humanos”?)… que só pensam em viver à custa do povo que dominam e exploram (“as ovelhas que pastoreiam”) mas sempre disfarçados. E o pior de tudo é que “estes senhores comandantes” – sejam eles de cores políticas, religiosas, militares… – persistem em não quererem aprender a lição que foi dada, há já dois mil anos, por aquele «pastor bom», saído de Nazaré, para todos aprenderem como devem ser os “bons pastores”…
As palavras deste Jesus, que refletem o Seu exemplo de vida, continuam a ecoar para quem quiser ouvir: “O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas”…(Jo 10). Graças a Deus que, a pesar de tudo, já começa a abundar esta classe de “bons pastores” – aliás, guiados pelo Papa Francisco e os seus gestos vitais – que tentam seguir os passos e o estilo do Bom Pastor, e vão dando a vida dia após dia, pelas suas ovelhas, até entregar, se é preciso, toda a vida de vez, como também fez «o Príncipe dos pastores»… Os que assim não forem, só serão falsos pastores!
Mas esses que chegam a dar a vida como Jesus, aceitam também a cruz e a morte de livre vontade, porque sabem que a vida que entregam lhes será “devolvida” pelo mesmo Cristo Jesus, que tem esse poder: “Ninguém Me tira a vida, sou Eu que a dou espontaneamente. E tenho o poder de a dar e de a retomar”… (Jo 10 / 3ª L.).
Por consequência, todos “os bons pastores” hão de viver em função de Jesus (o Bom Pastor) com Ele e por Ele. Se assim não for, poderão acabar disfarçados de bons pastores, mas continuarão a ser “lobos vorazes com peles de ovelhas”. Mesmo que anunciem aos quatro ventos que têm nas suas mãos a salvação das “suas ovelhas”, outra coisa não fazem do que explorá-las e viverem a custa delas, embora sob a falsa aparência de “salvadores”… Oh, como eles estão longe da verdadeira salvação, enquanto continuem a procurá-la em falsas seguranças! Pois a Palavra, pela boca dos primeiros discípulos de Jesus, é também categórica: “E em nenhum outro (fora de Jesus) há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos»” (At 4). É assim que Pedro e João o explicavam àquela gente admirada pela cura que efetuaram naquele paralítico: “É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença”… (At 4 / 1ª L.).
Não é, portanto, por uma força e poder próprios, que os bons pastores guiam o rebanho, e acompanham e cuidam as ovelhas de que são responsáveis, mas só com a força que lhes vem de Cristo, o Bom Pastor, e pelo poder do seu Nome. É que, tanto os “pastores” como as “ovelhas”, somos todos irmãos, porque filhos do mesmo Deus, por obra e graça do Filho, que “deu e retomou” a vida, pela salvação de todos. Sim, todos somos filhos de Deus, pelo amor admirável do Pai, como nos adverte João, na sua primeira carta: “Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de facto… Na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é”. (1 Jo 3 / 2ª L.).
Então, podemos concluir esta reflexão com um apelo “vocacional”: Quem é que não se deixa cativar e seduzir por este «Bom Pastor», para seguir um dos múltiplos e variados “caminhos”, que estão a descobrir e trilhar tantos «bons pastores», amigos de Jesus? Exatamente: estamos a falar disso que chamamos “vocação”, ou seja, aquele estilo de vida em que podemos sentir-nos realizados e sermos plenamente felizes!
Senhor Jesus, Bom Pastor,
nós queremos ser sempre das Tuas ovelhas!
Damos-Te graças de todo o coração
porque Tu és mesmo bom,
e é eterna a Tua misericórdia!
Continuamente dás a vida por nós todos,
e assim nos alimentas da Tua própria Vida.
Seremos nós capazes, Jesus,
de darmos a vida por Ti e pelos irmãos?…
É isso que significa sermos bons pastores,
além de sermos ovelhas fiéis da Tua grei.
Prometemos seguir os Teus passos
até aonde o Teu apelo e “vocação”
nos queira conduzir e colocar…
Sempre fiéis ao “Teu sonho sobre nós”!
Porque só no Teu Nome, Senhor,
encontramos a nossa salvação
e a felicidade mais completa e essencial.
E Tu serás sempre, para as nossas vidas,
a pedra basilar que os outros rejeitaram,
mas que nós aceitamos e abraçamos
como a pedra angular da nossa casa:
Isso é que é admirável aos olhos de todos!
[ do Salmo Responsorial / Sl 117 (118) ]
30 Abril, 2015
AMOR QUE NÃO DÓI, NÃO É!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo B – Domingo 5 de PÁSCOA…)
AMOR QUE NÃO DÓI, NÃO É!
Santa Teresa – «a de Jesus» (ou de Ávila) – deixou-nos, num dos seus diálogos espirituais com Jesus, o seguinte testemunho. Ela queixava-se deste modo: Senhor, porque é que, os Teus amigos, temos de sofrer tantas provas que Tu permites, algumas até bem terríveis? Jesus lhe responde: Já deves saber, minha filha, que Eu – como diz a Escritura – corrijo os que amo e permito as provas para os meus amigos! Ao que Teresa replica: Agora já sei porque é que tens tão poucos amigos! (São assim os “diálogos” entre amigos verdadeiros!).
Temos, aliás, a própria experiência humana quanto às relações de amor e de amizade. De maneira consciente ou inconsciente, desconfiamos de um amigo que perante uma dificuldade, decorrente da nossa amizade, retrocede e “desanda”. Ou, quem é que confia num amor que não é capaz de enfrentar qualquer sacrifício para demonstrar e salvar esse amor? Outra coisa é que eu seja coerente ou não com o que exijo àquele que amo! Não admira, então, que haja tantos desencantos e ruturas no amor e tantos desenganos na amizade!
Assim sendo, estaremos todos de acordo, julgo eu, em que vale bem a pena aprofundar neste importante tema do amor/amizade, à luz da Palavra de hoje.
E agora, podemos perguntar-nos: Que objetivo tem o facto de termos de sofrer quando amamos, ou porque tem de aumentar mais o sofrimento quanto mais aumenta o amor? Claro que, a níveis simplesmente humanos e psicológicos, até podemos encontrar algumas respostas mais ou menos coerentes… Todavia, no Evangelho de hoje, Jesus dá-nos a chave de uma interpretação mais lógica. Ele compara-se a uma videira ou cepa na qual nós somos os ramos ou sarmentos, e cujo agricultor é o Seu Pai: “…«Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto, e limpa todo aquele que dá fruto para que dê ainda mais fruto…” (Jo 15). Ou seja, o agricultor – que é nosso Pai Deus – é quem cortou e continuará a cortar, na Sua Videira, que é o Filho e que somos nós, os ramos secos que não frutifiquem, pois estes só prestam para se deitarem ao fogo. “Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem” (Jo 15). Mas o Pai também “corta”, de um outro modo, “todo aquele ramo que dá fruto, para que dê ainda mais fruto”. É a isto que se chama “podar”, e que praticam todos os vinhateiros nas cepas das suas vinhas. Sem esta “poda”, que se realiza regularmente, os frutos seriam escassos e fracos, ou nulos. Podemos pensar que, nesta operação de “poda”, a planta da videira sofre, à sua maneira, pois até “sangra” pelos cortes que suporta nos sarmentos, deixando jorrar uma parte da sua seiva (ou “sangue”)!…
Portanto, o amor, como o sarmento da vide, para crescer e frutificar deverá sofrer uma certa “poda”, de vez em quando… Assim, agora já entendemos: um amor que não perceba de sacrifícios não é amor! Ou então, «Amor que não dói, não é!». E disto falam, por experiência, todos os verdadeiros amantes apaixonados (como Teresa de Jesus). Pois sabem muito bem que só podem dar mais e mais fruto, se permanecerem unidos – pelo Amor! – a JESUS, que é a videira: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim…»”. (Jo 15 / 3ª L.). Por seu lado, o discípulo João vem confirmar isto mesmo, na sua primeira carta, ao concluir: “Quem cumpre o mandamento do amor – amarmo-nos uns aos outros, como Ele nos amou – esse permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu”. (1 Jo 3 / 2ª L.).
Permanecer unido – à Cepa – significa e exige aceitar essa penosa “poda” no sarmento, “prova de autenticidade”, inerente a todo o Amor verdadeiro!
Quanto a mim, “Senhor da vinha”,
prometo permanecer unido a Ti,
porque só assim a seiva é vida,
a mesma Vida, Tua e nossa,
– vida e amor ou amor e vida –
vida que em nós frutifica por Ti…
Quero celebrar isto no meio da assembleia,
diante da multidão dos Teus amigos;
vou proclamar que sou um ramo Teu,
que o meu coração vive por Ti e para Ti…
Também eu não acredito, Senhor,
no amor que não quer sofrer,
na amizade que não suporta o sacrifício.
Eu, cá por mim, aceito “ser podado”,
mesmo quando não compreenda
ou não veja a necessidade do sofrimento,
porque quero amar de verdade…
Ainda que tenha de gritar como Tu,
«meu Deus, porque me abandonaste?»,
eu irei até ao fim contigo, Senhor!
E aqueles que me rodeiam aprenderão
esta “lição de amor da videira”;
e os que vierem depois de nós,
por todas as gerações vindouras,
hão de receber esta seiva de Amor:
o teu Reino, Senhor, sobre todas as gentes!
[ do Salmo Responsorial / Sl 21-II (22-II) ]