16b- Não amas se não confias...

 (Ciclo B – Domingo 2 de PÁSCOA…) 

NÃO AMAS SE AINDA NÃO CONFIAS!

Há quem afirme, a respeito de outrem: «Eu era capaz de pôr a mão no fogo pela verdade da afirmação dessa pessoa»! Que bom quando isso se afirma entre pessoas, na verdade e de maneira convicta! Tal atitude denota que o seu conhecimento recíproco, bem como a sua perfeita sintonia, chegaram a produzir uma forte segurança mútua. É uma delícia viver num ambiente onde se respira essa harmonia de confiança!

Bom, mas alguém poderá pensar que, na nossa sociedade atual, a atmosfera que se respira não é bem essa. Lá isso é verdade. Mas olhem que “eu ponho a mão no fogo” para demonstrar que, precisamente neste mundo nosso, há muitos grupos – desde logo anônimos e quiçá voluntariamente ignorados por muitos – que estão a viver, sim, a viver (neste nosso século XXI como, aliás, em todos os anteriores séculos de cristianismo, com as normais falhas humanas) o estilo admirável daquelas primeiras comunidades cristãs, nossas “avós” na fé e na confiança mútua. E o seu estilo de vida comunitária era tal, que até os pagãos exclamavam: «Olhai como eles se amam!». Os primeiros escritos cristãos deixaram constância disso, como se lê, por exemplo, na Palavra de hoje.

O relato dos Atos dos apóstolos é bem claro e perentório: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia mas tudo entre eles era comum”. E era mesmo assim, ainda que pareça uma utopia ilusória! Mais ainda, descreve-se, com toda a naturalidade mas de forma radical, que “todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos”… para que ninguém, de entre eles, passasse necessidade. (At 4 / 1ª L.).

Pois, sim senhor, seguindo o exemplo daquelas “primeiras” – e mesmo que muitos pretendam ignorá-lo – existem atualmente muitas “comunidades”, integradas por pessoas que renunciam à «posse e propriedade pessoal» de seja o que for, para poder assistir e socorrer a quem passa necessidade. É evidente que «os meios de comunicaçãoos mass média» ignoram-no sistematicamente, preferindo a publicação e a publicidade de tudo aquilo que «comove, perturba ou diverte pela negativa», nas “Primeiras Páginas” informativas! Assim de simples e claro, embora triste e lamentável! Porém, a verdade anda por aí, está presente como «fermento na massa»! Só é preciso reconhecê-la, assumi-la e proclamá-la!

Ora bem, o que fica claro nestes casos é que existe uma total confiança mútua entre as pessoas que assim vivem e se amam. Se assim não for, não poderiam agir nem viver como vivem e agem, neste mundo e sociedade “da hora que passa”!

E poderíamos agora perguntar-nos: O que é primeiro, confiar na pessoa, ou amá-la? Será antes o amor? Ou será primeiro a confiança? Uma coisa é certa: se faltar uma delas a outra não tem razão de ser. Aliás, qualquer uma delas supõe a outra, em toda a pessoa coerente e fiel. Quem ama confia e quem confia ama. De outro modo, como é que se poderiam entender estes textos da Palavra de hoje, onde aparece alguém que não é capaz de confiar na palavra dos seus “amigos”? Lemos no Evangelho: “Disseram-lhe (a Tomé) os outros discípulos: «Vimos o Senhor!». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei»”…(Jo 20 / 3ª L.). É evidente que o discípulo Tomé não amava os seus “colegas”, pois se os amasse aceitaria, confiaria nas palavras deles. Só “se fia”(?) da palavra dos outros, quem “os ama”!

Aqui entra, é evidente, não só a fé humana mas sobretudo a fé divina, como observamos na primeira Carta de João, desde uma perspetiva diferente. “Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos”…(1 Jo 5 / 2ª L.). Em conclusão: Se não confias não amas, e vice-versa!

 

Digam as comunidades onde todos se amam:

é eterna a Tua Misericórdia, Senhor!

Digam todos os grupos humanos

que respiram verdadeiro amor e confiança:

é eterno o Teu Amor e ternura de Pai!

Porque só a Tua misericórdia

pode perdoar a nossa falta de fé e confiança;

e só o Teu Amor infinito poderá transformar

os nossos ódios em fraterna harmonia,

e a nossa falta de amor mútuo

em verdadeira amizade e confiança.

Foi isto, ó Pai, que o Teu Filho Jesus

veio ensinar-nos com a Sua vida e a Sua palavra,

porque é eterna a Tua misericórdia!

Ele se entregou, de uma vez por todas,

até à morte e morte de cruz,

para criar comunidades de irmãos

e uma Igreja onde caibam todos aqueles

que quiserem aprender a viver amando…

Mas porque voltou à Vida Jesus, nosso Irmão;

e porque O sentimos vivo em nós e connosco…

então podemos proclamar com gozo:

«A pedra que os construtores rejeitaram

veio tornar-se pedra angular.

Tudo isto veio do Senhor…».

Exultemos e cantemos de alegria!

 [ do Salmo Responsorial / 117 (118) ]