17ba- Falhaste, caíste... Érgue-te!

 (Ciclo B – Domingo 2 de PÁSCOA…) 

«FALHASTE, CAÍSTE?… ERGUE-TE!!!»

Não sei se conhecem a parábola daquele artista oleiro cujas obras-mestras de branca argila lhe fugiam das mãos, ou por descuido próprio ou pelo facto de (e cá está a magia!) os seus bonecos artísticos “ganharem vida” para andar a brincar com «o seu criador e dono». E é claro, quando caiam ao chão, partiam em vários pedaços… Mas, o mais maravilhoso da magia desta história é que aquele oleiro era capaz de juntar todos os cacos para recompor a figura, que, aliás, ficava transformada e transfigurada numa outra melhor… Interessante, não é? Desde logo, há artistas que são o máximo!

E agora perguntamos nós: Porque será que o nosso Deus – desde muito antigo, diríamos até desde “o início da Criação” – gostava de se comparar com um oleiro? Divino Oleiro, que cria e molda o homem, à sua imagem, com as Suas divinas mãos ofegantes!

Bom. E agora, esse ser humano, saído das mãos e do coração do Criador, como é que este «homem de argila» se comporta com o seu dono e senhor, ou, melhor, com o seu Deus e Pai (que foi assim que Jesus nos ensinou a chamar a este «Divino Oleiro»)? A Palavra de hoje, além de colocar novas interrogações, dá-nos sobretudo as respostas que procuramos e que nos interessam…

Poderá ser por ignorância, ou certamente por fraqueza, ou até por alguma dose de malícia… mas nada há na humana conduta – usando agora a sábia linguagem do povo – que “não tenha arranjo”, isto é, que não possa ser “reconvertido” ou “reciclado”… para se transformar, sempre, em “algo de melhor” (como naquela parábola)! E, coisa curiosa, (re)ciclar quer dizer “voltar ao ciclo ou círculo”, do qual alguma coisa tinha saído. É que, quando falhamos, saímos do «ciclo da Vida divina»… mas sempre podemos entrar novamente nesse Ciclo Vital. Por uma divina reciclagem!

E para que não haja engano ou confusão e fique bem claro que a autoria da nossa «reconversão» não está em nós, o apóstolo João, na sua primeira Carta, declara e regista que o Autor da nossa Salvação é o próprio Filho de Deus, Cristo Jesus. “…Escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”.(1 Jo 2 / 2ª L.).

Ainda mais definitivo, para não haver dúvida nenhuma, é o mesmo Jesus, após a Sua Ressurreição, quando explica aos seus discípulos – ainda cheios de medo –: “«Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados…»”.(Lc 24 / 3ª L.). Como observamos aqui, “o arrependimento” («conversão») e “o perdão dos pecados” («transfiguração») são possíveis graças à morte e Ressurreição do Messias, nosso Salvador!

Como é evidente, para esta “transformação”, deverá haver a colaboração correlativa da nossa parte, sem o qual – “direito” indispensável da nossa liberdade! – ficaria fechada, voluntariamente, a porta da nossa salvação.

Portanto, um primeiro gesto ou movimento cabe a cada um de nós, com a íntima certeza de que somos continuamente assistidos pela Graça (amizade, ternura) do Pai Deus. Ele vai estar sempre disposto a nos abraçar e perdoar (lembram-se do «filho pródigo»?) mas isto não poderá acontecer se nós não “nos voltarmos e formos ter com o Pai”. O início da conversão (=“voltar para”) há de ser da nossa parte. É o que tentava explicar Pedro, como se lê nos Atos dos Apóstolos: “…Agora, irmãos, eu sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes… Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados»” (At 3 / 1ª L.). Ou seja, o primeiro passo é: “arrependei-vos e convertei-vos”. Este apelo irá sempre dirigido a todos e cada um de nós!  «Caíste?… Não importa.  Ergue-te!!!».

Brilhe sobre nós, Senhor, a luz do Teu rosto!…

Eu estou certo, Deus e Pai nosso,

de que a Tua graça e amizade

me envolvem e rodeiam por todo o lado,

mesmo quando me sinto falhado e caído…

Reconheço que, na minha tribulação,

sempre senti a Tua proteção sobre mim,

e me atendeste quando Te invoquei;

por isso não vou desanimar nem desistir

quando estiver preso do mal e do pecado…

Antes, como «filho pródigo» confiante,

“levantar-me-ei” para ir ter conTigo, ó Abbá!

E assim, deito-me e adormeço tranquilo,

repousando feliz e em segurança…

               [ do Salmo Responsorial – Sl 4 ]