19b- Amor que não dói, não é!

 (Ciclo B – Domingo 5 de PÁSCOA…)  

AMOR QUE NÃO DÓI, NÃO É!

Santa Teresa – «a de Jesus» (ou de Ávila) – deixou-nos, num dos seus diálogos espirituais com Jesus, o seguinte testemunho. Ela queixava-se deste modo: Senhor, porque é que, os Teus amigos, temos de sofrer tantas provas que Tu permites, algumas até bem terríveis? Jesus lhe responde: Já deves saber, minha filha, que Eu – como diz a Escritura – corrijo os que amo e permito as provas para os meus amigos! Ao que Teresa replica: Agora já sei porque é que tens tão poucos amigos! (São assim os “diálogos” entre amigos verdadeiros!).

Temos, aliás, a própria experiência humana quanto às relações de amor e de amizade. De maneira consciente ou inconsciente, desconfiamos de um amigo que perante uma dificuldade, decorrente da nossa amizade, retrocede e “desanda”. Ou, quem é que confia num amor que não é capaz de enfrentar qualquer sacrifício para demonstrar e salvar esse amor? Outra coisa é que eu seja coerente ou não com o que exijo àquele que amo! Não admira, então, que haja tantos desencantos e ruturas no amor e tantos desenganos na amizade!

Assim sendo, estaremos todos de acordo, julgo eu, em que vale bem a pena aprofundar neste importante tema do amor/amizade, à luz da Palavra de hoje.

E agora, podemos perguntar-nos: Que objetivo tem o facto de termos de sofrer quando amamos, ou porque tem de aumentar mais o sofrimento quanto mais aumenta o amor? Claro que, a níveis simplesmente humanos e psicológicos, até podemos encontrar algumas respostas mais ou menos coerentes… Todavia, no Evangelho de hoje, Jesus dá-nos a chave de uma interpretação mais lógica. Ele compara-se a uma videira ou cepa na qual nós somos os ramos ou sarmentos, e cujo agricultor é o Seu Pai: “…«Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto, e limpa todo aquele que dá fruto para que dê ainda mais fruto…” (Jo 15). Ou seja, o agricultor – que é nosso Pai Deus – é quem cortou e continuará a cortar, na Sua Videira, que é o Filho e que somos nós, os ramos secos que não frutifiquem, pois estes só prestam para se deitarem ao fogo. “Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem” (Jo 15). Mas o Pai também “corta”, de um outro modo, “todo aquele ramo que dá fruto, para que dê ainda mais fruto”. É a isto que se chama “podar”, e que praticam todos os vinhateiros nas cepas das suas vinhas. Sem esta “poda”, que se realiza regularmente, os frutos seriam escassos e fracos, ou nulos. Podemos pensar que, nesta operação de “poda”, a planta da videira sofre, à sua maneira, pois até “sangra” pelos cortes que suporta nos sarmentos, deixando jorrar uma parte da sua seiva (ou “sangue”)!…

Portanto, o amor, como o sarmento da vide, para crescer e frutificar deverá sofrer uma certa “poda”, de vez em quando… Assim, agora já entendemos: um amor que não perceba de sacrifícios não é amor! Ou então, «Amor que não dói, não é!». E disto falam, por experiência, todos os verdadeiros amantes apaixonados (como Teresa de Jesus). Pois sabem muito bem que só podem dar mais e mais fruto, se permanecerem unidos – pelo Amor! – a JESUS, que é a videira: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim…»”. (Jo 15 / 3ª L.). Por seu lado, o discípulo João vem confirmar isto mesmo, na sua primeira carta, ao concluir: “Quem cumpre o mandamento do amor – amarmo-nos uns aos outros, como Ele nos amou – esse permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu”. (1 Jo 3 / 2ª L.).

Permanecer unido – à Cepa – significa e exige aceitar essa penosa “poda” no sarmento, “prova de autenticidade”, inerente a todo o Amor verdadeiro!

Quanto a mim, “Senhor da vinha”,

prometo permanecer unido a Ti,

porque só assim a seiva é vida,

a mesma Vida, Tua e nossa,

– vida e amor ou amor e vida –

vida que em nós frutifica por Ti…

Quero celebrar isto no meio da assembleia,

diante da multidão dos Teus amigos;

vou proclamar que sou um ramo Teu,

que o meu coração vive por Ti e para Ti…

Também eu não acredito, Senhor,

no amor que não quer sofrer,

na amizade que não suporta o sacrifício.

Eu, cá por mim, aceito “ser podado”,

mesmo quando não compreenda

ou não veja a necessidade do sofrimento,

porque quero amar de verdade…

Ainda que tenha de gritar como Tu,

«meu Deus, porque me abandonaste?»,

eu irei até ao fim contigo, Senhor!

E aqueles que me rodeiam aprenderão

esta “lição de amor da videira”;

e os que vierem depois de nós,

por todas as gerações vindouras,

hão de receber esta seiva de Amor:

o teu Reino, Senhor, sobre todas as gentes!

            [ do Salmo Responsorial / Sl 21-II (22-II) ]