58c- O nosso «espelho» maternal

 (Ciclo C – Imaculada Conceição – 08-dezembro)

O NOSSO «ESPELHO» MATERNAL

                Vêm-me agora à memória as palavras do apóstolo Tiago, na sua Carta católica: “Quem se contenta com ouvir a Palavra, sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que contempla a sua fisionomia num espelho; mal acaba de se contemplar, sai dali e esquece-se de como era” (Tg 1, 23). Espelho este, que vai ser hoje, para nós, mais do que um «espelho mágico»!…

E é para nos perguntarmos: Seremos nós capazes de contemplar e reconhecer esta nossa “fisionomia”, de que fala Tiago, ou seja, a imagem afeada ou deturpada que apresentamos quando, na nossa vida, ignoramos a Palavra de Deus, que ouvimos ou que não queremos ouvir? Vamos ver se é verdade que estamos dispostos a escutar a Palavra de hoje e a vivê-la realmente. Porque o “espelho” onde nos podemos contemplar é exatamente o exemplo e modelo da nossa Mãe, a «Virgem Imaculada».

Teremos de nos “comparar” com Ela – ainda mais sendo seus filhos! – não para nos sentirmos “envergonhados por acharmo-nos nus” (?) ou cheios de imperfeições, mas para tentarmos aperfeiçoar a nossa semelhança com a Mãe. Observemos, antes de mais, como “se desculpavam” os nossos «primeiros pais» quando dialogavam com o Pai Deus após aquela «falha original»: “Adão respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»…”(Gn 3). Verdadeiramente, como a nossa natureza é fraca e débil logo que nos aparece a primeira tentação! Não somos nós nem melhores nem piores do que os nossos pais, se bem que nós temos um «espelho de perfeição» que eles não tinham, o da «nossa Mãe Imaculada», onde podemos “olhar-nos” sempre que quisermos, especialmente quando nos sintamos nus, ou quando sejamos tentados e atacados pelo espírito do Mal, «a descendência daquela antiga serpente»: “Criarei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência (da “serpente”) e a descendência dela (da mulher). Esta, esmagar-te-á a cabeça e tu a atingirás no calcanhar»” (Gn 3 / 1ª L.).

Mas os “paralelismos antitéticos” continuam. E assim, lemos neste mesmo texto bíblico, logo a seguir: “O homem (Adão) deu à mulher o nome de ‘Eva’, porque ela foi a mãe de todos os viventes” (Id.). E sabemos que este nome «Eva» é a “antítese”, e o inverso, de «Ave», o (pro)nome daquela outra Mulher, Maria, que – por ser “imaculada” desde a origem – começaria a sua existência “esmagando a cabeça da descendência daquela serpente», o Maligno, o inimigo fundamental da nossa salvação, o causante de todos os “males” deste mundo…

O correspondente texto bíblico paralelo (antitético) aparece no Evangelho de hoje:  “O nome da Virgem era Maria… Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus… Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus… Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra»” (Lc 1 / 3ª L.). Estão aqui, portanto, os “Nomes” fundamentais – «Maria», «Jesus», «Filho de Deus» – capazes de destruir «todo o poder» daqueles outros “nomes” («Adão», «Eva», «Serpente», e sobretudo «Maligno»!).

Ora bem, onde é que nos colocamos nós! A que partido “nos afiliamos”? Que nomes tomamos “por bandeira”?…

Como dizíamos, o nosso “espelho” é bem claro e luminoso. Começa por ser «Maria», a Virgem Imaculada, nossa Mãe… e continua e acaba, necessariamente, no seu filho e Filho de Deus, «JESUS» (Nome que lhe dera o Anjo antes de ser concebido no seio materno”/Lc 2). Porque afinal, “não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar”(At 4,12). E foi realmente “em Cristo Jesus que o Pai nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos…” (Ef 1 / 2ª L.). E é mesmo assim: Deus escolheu-nos antes da criação do mundo – tal como fez com a Virgem Imaculada para nela “se encarnar” – ; escolheu-nos e predestinou-nos para sermos Seus filhos – tal como fez com Maria Imaculada para ser Sua Mãe e nossa Mãe! –. Ora, o Pai é que sabe fazer escolhas!!!

 

É verdade, Mãe, ninguém como tu,

que foste escolhida e soubeste “responder”;

ninguém como tu, que foste predestinada

“imaculada” desde o primeiro instante do teu ser – ;

ninguém como tu, Maria, “cheia de graça”,

para nos ajudar a agradecer e louvar o Senhor

com aquele cântico novo, o teu “Magnificat”,

pelas maravilhas que Ele operou em ti

desde o instante da tua “Conceição Imaculada”…

Assiste-nos sempre, ó Mãe, a fim de percebermos

que a vitória do Teu Filho Jesus “sobre os nossos inimigos,

pala Sua mão e o Seu santo braço”,

é também a tua vitória sobre a «serpente»,

e é igualmente a nossa vitória sobre o mal,

se formos capazes de nos “rever” e contemplar

no teu «espelho imaculado» e luminoso…

[ do Salmo Responsorial  / Sl 97(98) ]