VOCAÇÕES… «EM CADEIA»
Pode parecer normal confundir, por vezes, a voz de uma pessoa com a de outra. Porém, confundir uma voz humana com a voz de Deus, ou vice-versa, isso já não se afigura tão “normal”. A Palavra de hoje, certamente, quer dar-nos uma lição a partir dessa “confusão de vozes” (que não de línguas!). Mas para isso, é necessário, da nossa parte, tentarmos interpretar o relato do menino Samuel, que nos aparece na primeira Leitura. Esta criança (podemos imaginar, dos seus 8-10 anos?) morava numa das habitações do Templo de Jerusalém, onde se preparava para “uma missão futura”(!) sob a tutela do Sacerdote Heli. Durante a noite, enquanto o menino dormia, “o Senhor chamou Samuel, e ele respondeu: «Aqui estou». E, correndo para junto de Heli, disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Mas Heli respondeu: «Eu não te chamei; torna a deitar-te»…”. É interessante observar que o próprio relato – após a segunda vez que “aquela voz” se deixa ouvir – tenta explicar ou justificar essa “confusão de vozes” com uma afirmação, ainda mais enigmática: “Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor”. (1 Sm 3 / 1ª L.).
Desde logo, ao ouvir aquela voz, o rapazinho fica convencido de estar a escutar a voz do seu tutor e guia, o sacerdote Heli. E agora nós, poderíamos perguntar-nos: Se na verdade, era Deus que queria comunicar com o Samuel, porque é que Ele não escolheu um tom de voz diferente de todos os outros tons que o menino conhecia? O que é que Deus pretendia dizer-nos, a todos, ao escolher precisamente o timbre de voz da pessoa que acompanhava e orientava aquela criança? Qualquer um de nós pode dar uma primeira resposta válida ou satisfatória. Por exemplo: é compreensível que Deus quisesse dar uma certa “autoridade moral” àquela pessoa que é responsável e que dirige os destinos de outra… É possível. No entanto, se damos um passo mais e refletimos melhor, podemos intuir uma outra resposta mais geral e concluinte: o Senhor Deus gosta, prefere… diríamos que “é o seu estilo”, comunicar-Se com os homens através de outros homens, e nunca “diretamente”(?) embora pudesse fazê-lo!
Bom, mas para prosseguirmos a nossa reflexão da Palavra de hoje, na linha das respostas à «vocação de Deus para cada um de nós», concluamos este relato profético com a resposta exemplar do rapazito (futuro profeta Samuel) àquela voz de Deus que o chamava (!?): “«Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». E Samuel foi crescendo; e o Senhor estava com ele, e nenhuma das suas palavras deixou de cumprir-se” (1 Sm 3).
No Evangelho de hoje, como era de esperar, encontramos igualmente exemplos perfeitos de fidelidade ao seguimento da vocação. E o relato é precisamente da autoria de um dos protagonistas (o evangelista João); trata-se dos primeiros discípulos em seguir Jesus e a Sua Palavra. Descobrir e seguir a própria vocação – ou numa outra linguagem, “seguir a própria estrela” – não é simplesmente responder e caminhar ao sabor do vento… de gostos ou fantasias… de oportunidades ou ilusões… Mas é realmente saber escutar essa voz interior, que tem o tom e timbre das conhecidas como “causas segundas” (bem evidente no caso do Samuel); e é confiar sinceramente numa Pessoa que não pode falhar, deixando-se levar por um Amor que envolve, arrasta e transforma (tal como aconteceu àqueles primeiros seguidores de Jesus de Nazaré). Neste caso será João Batista (como antes fora o sacerdote Heli) o instrumento, “a voz”, a “causa segunda”, que Deus vai utilizar para comunicar – por caminhos diversos – a Sua “vocação de Amor” a cada homem e mulher… “Quando João Batista… vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus»… então, dois dos seus discípulos, ao ouvirem aquelas palavras, seguiram Jesus… e ao perguntar-Lhe: «Mestre, onde moras?», Ele responde: «Vinde Ver!»”. (Jo 1 / 3ª L.). E tanto lhe ficou gravada, a um deles (João), essa “vocação”, que até se lembra – a muitos anos de distância – da hora do dia em que aconteceu, e deixa-o assim registado: “Era por volta das quatro horas da tarde”… Mas, vejamos como o processo das “causas segundas em cadeia” continua; porque, logo a seguir, vai ser o colega de João – André – quem vai transmiti-lo imediatamente ao seu irmão Simão: “«Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’-; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’ ”. (Jo 1)… Maravilhosos episódios vocacionais e admiráveis exemplos de rapidez e de fidelidade no seguimento da vocação!
“Admiráveis”, sim, mas também “imitáveis”! Mas isto já depende de nós!
Nós viemos à vida, Senhor e Pai nosso,
apenas e só, pelo Teu infinito Amor…
Nós estamos neste mundo que passa,
para fazer a Tua Vontade, ó Deus!…
Por isso, cada um de nós deve clamar dia e noite:
«Aqui estou!». Cumpra-se em mim a Tua Palavra!.
Abriste-me os ouvidos para escutar a Tua “voz”
porque os sacrifícios e oblações não Te agradavam…
Então, Senhor, eu descobri esta verdade:
«De mim está escrito no livro da Lei
que faça a Tua vontade.
Assim o quero, ó meu Deus,
a Tua lei está no meu coração».
Eu confio em Ti, Senhor, e prometo
proclamar a Tua justiça e santidade,
pela minha vida e pela minha palavra:
Diante de todos os povos, Senhor,
anunciarei a Tua bondade e fidelidade!…
[ do Salmo Responsorial / 39 (40) ]
15 Janeiro, 2015
VOCAÇÕES… «EM CADEIA»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
VOCAÇÕES… «EM CADEIA»
Pode parecer normal confundir, por vezes, a voz de uma pessoa com a de outra. Porém, confundir uma voz humana com a voz de Deus, ou vice-versa, isso já não se afigura tão “normal”. A Palavra de hoje, certamente, quer dar-nos uma lição a partir dessa “confusão de vozes” (que não de línguas!). Mas para isso, é necessário, da nossa parte, tentarmos interpretar o relato do menino Samuel, que nos aparece na primeira Leitura. Esta criança (podemos imaginar, dos seus 8-10 anos?) morava numa das habitações do Templo de Jerusalém, onde se preparava para “uma missão futura”(!) sob a tutela do Sacerdote Heli. Durante a noite, enquanto o menino dormia, “o Senhor chamou Samuel, e ele respondeu: «Aqui estou». E, correndo para junto de Heli, disse: «Aqui estou, porque me chamaste». Mas Heli respondeu: «Eu não te chamei; torna a deitar-te»…”. É interessante observar que o próprio relato – após a segunda vez que “aquela voz” se deixa ouvir – tenta explicar ou justificar essa “confusão de vozes” com uma afirmação, ainda mais enigmática: “Samuel ainda não conhecia o Senhor, porque, até então, nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor”. (1 Sm 3 / 1ª L.).
Desde logo, ao ouvir aquela voz, o rapazinho fica convencido de estar a escutar a voz do seu tutor e guia, o sacerdote Heli. E agora nós, poderíamos perguntar-nos: Se na verdade, era Deus que queria comunicar com o Samuel, porque é que Ele não escolheu um tom de voz diferente de todos os outros tons que o menino conhecia? O que é que Deus pretendia dizer-nos, a todos, ao escolher precisamente o timbre de voz da pessoa que acompanhava e orientava aquela criança? Qualquer um de nós pode dar uma primeira resposta válida ou satisfatória. Por exemplo: é compreensível que Deus quisesse dar uma certa “autoridade moral” àquela pessoa que é responsável e que dirige os destinos de outra… É possível. No entanto, se damos um passo mais e refletimos melhor, podemos intuir uma outra resposta mais geral e concluinte: o Senhor Deus gosta, prefere… diríamos que “é o seu estilo”, comunicar-Se com os homens através de outros homens, e nunca “diretamente”(?) embora pudesse fazê-lo!
Bom, mas para prosseguirmos a nossa reflexão da Palavra de hoje, na linha das respostas à «vocação de Deus para cada um de nós», concluamos este relato profético com a resposta exemplar do rapazito (futuro profeta Samuel) àquela voz de Deus que o chamava (!?): “«Falai, Senhor, que o vosso servo escuta». E Samuel foi crescendo; e o Senhor estava com ele, e nenhuma das suas palavras deixou de cumprir-se” (1 Sm 3).
No Evangelho de hoje, como era de esperar, encontramos igualmente exemplos perfeitos de fidelidade ao seguimento da vocação. E o relato é precisamente da autoria de um dos protagonistas (o evangelista João); trata-se dos primeiros discípulos em seguir Jesus e a Sua Palavra. Descobrir e seguir a própria vocação – ou numa outra linguagem, “seguir a própria estrela” – não é simplesmente responder e caminhar ao sabor do vento… de gostos ou fantasias… de oportunidades ou ilusões… Mas é realmente saber escutar essa voz interior, que tem o tom e timbre das conhecidas como “causas segundas” (bem evidente no caso do Samuel); e é confiar sinceramente numa Pessoa que não pode falhar, deixando-se levar por um Amor que envolve, arrasta e transforma (tal como aconteceu àqueles primeiros seguidores de Jesus de Nazaré). Neste caso será João Batista (como antes fora o sacerdote Heli) o instrumento, “a voz”, a “causa segunda”, que Deus vai utilizar para comunicar – por caminhos diversos – a Sua “vocação de Amor” a cada homem e mulher… “Quando João Batista… vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus»… então, dois dos seus discípulos, ao ouvirem aquelas palavras, seguiram Jesus… e ao perguntar-Lhe: «Mestre, onde moras?», Ele responde: «Vinde Ver!»”. (Jo 1 / 3ª L.). E tanto lhe ficou gravada, a um deles (João), essa “vocação”, que até se lembra – a muitos anos de distância – da hora do dia em que aconteceu, e deixa-o assim registado: “Era por volta das quatro horas da tarde”… Mas, vejamos como o processo das “causas segundas em cadeia” continua; porque, logo a seguir, vai ser o colega de João – André – quem vai transmiti-lo imediatamente ao seu irmão Simão: “«Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’-; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’ ”. (Jo 1)… Maravilhosos episódios vocacionais e admiráveis exemplos de rapidez e de fidelidade no seguimento da vocação!
“Admiráveis”, sim, mas também “imitáveis”! Mas isto já depende de nós!
Nós viemos à vida, Senhor e Pai nosso,
apenas e só, pelo Teu infinito Amor…
Nós estamos neste mundo que passa,
para fazer a Tua Vontade, ó Deus!…
Por isso, cada um de nós deve clamar dia e noite:
«Aqui estou!». Cumpra-se em mim a Tua Palavra!.
Abriste-me os ouvidos para escutar a Tua “voz”
porque os sacrifícios e oblações não Te agradavam…
Então, Senhor, eu descobri esta verdade:
«De mim está escrito no livro da Lei
que faça a Tua vontade.
Assim o quero, ó meu Deus,
a Tua lei está no meu coração».
Eu confio em Ti, Senhor, e prometo
proclamar a Tua justiça e santidade,
pela minha vida e pela minha palavra:
Diante de todos os povos, Senhor,
anunciarei a Tua bondade e fidelidade!…
[ do Salmo Responsorial / 39 (40) ]