TENHO EU A “MINHA ESTRELA”?

Todas as “fantasias”, tal como as “histórias de ciência-ficção”, fábulas, parábolas, contos… têm – pelo menos! – um fundamento real (histórico). Existe sempre uma base ou alicerce verídico sobre o qual é construída – ou reconstruída – cada lenda, conto, narrativa ou fabulação. Aliás, estou convencido de que toda e cada “lenda” ou “ficção” é fruto e resultado de várias ou muitas realidades históricas, acontecidas em lugares e tempos diferentes, e sobrepostas sucessivamente… (segundo aquela filosofia popular de: «quem conta um conto acrescenta um ponto»).

Sabem aquela de «O quarto rei mago»?… O tal que se afastou dos outros “três colegas” para ajudar em toda e qualquer necessidade que foi encontrando pelo caminho?… E que, por este motivo, chegou a Jerusalém “trinta anos mais tarde”(!), quando Jesus acabava de morrer na cruz e já estava sepultado?… E sabem que, quando ele voltava triste e desiludido para a sua terra, o próprio Jesus – já Ressuscitado e Glorioso – lhe apareceu no caminho para lhe revelar a Verdade da sua Recompensa?… As palavras que o “quarto rei mago” escutou de Jesus – diz a “lenda” – foram estas, pouco mais ou menos: «Não estejas triste, meu caro amigo, por não teres podido contemplar e adorar o Menino Jesus!… Tu já o tinhas visto muitas vezes, nos rostos de tantas pessoas pobres e necessitadas que ajudaste em todos estes anos… Tu já Me tinhas visto tantas vezes! Não Me reconheces?… Pois em verdade, em verdade te digo: “Muito em breve estarás comigo no Paraíso”!».

E agora, continuamos com as perguntas: Será que não houve, no tempo histórico, muitas pessoas que, por ajudar os seus semelhantes, perderam os seus bens, o seu tempo, as suas oportunidades, os seus interesses imediatos?… Ou será que não existiram muitíssimas pessoas que foram capazes de seguir “a sua estrela”, na inspiração interior, até encontrar a meta dos seus sonhos, a sua realização pessoal?… Então teremos nós de concluir que a “história dos três reis magos” – para além de ter tido diversos fundamentos históricos e algumas “profecias” na Antiga Aliança – não deixa de estar bem pensada e construída. («Se não é verdadeira, vem mesmo a calhar!», diz uma máxima da sabedoria popular). Isaías tinha-o “profetizado”(?) vários séculos antes: “…Pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor” (Is 60 / 1ª L.). Ponhamos agora todos os presumíveis “acontecimentos reais” a que aludíamos anteriormente, e teremos uma história que, pelo facto de ser considerada globalmente como fantasia ou ficção, isso não quer dizer que careça de qualquer valor histórico e, menos ainda, de valor moral, espiritual ou teológico… Todo o contrário!

Mas a Palavra da Liturgia de hoje é ainda muito mais rica que todos esses “tesouros e riquezas das nações” que traziam os “reis magos”… Já o próprio nome da festividade Litúrgica – «EPIFANIA» – quer transmitir o que “significa”. Esta criança que nasceu de modo tão simples e pobre vem demonstrar assim, que a Salvação, o Amor de Deus, é para todos e não terá nenhum tipo de barreiras ou fronteiras. Quem é que disse então que a salvação era apenas para o povo eleito dos hebreus?… “Os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho” (escreve Paulo aos fiéis de Éfeso / 2ª L).

Este Jesus Menino, Salvador-Infante, manifesta-se (epifania) igualmente aos “gentios”, estrangeiros, que vivem afastados e estão representados nesses “reis magos” do Nascente remoto. (“Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O” / 3ª L.- Mt 2). O Amor de Deus Pai, a Sua Salvação, vem para todos, desde que cada quem – no uso da sua liberdade – ponha da sua parte o que exige este “caminho de Salvação” em que nos movemos…

Deveremos, antes de mais, encontrar a “nossa estrela”. Procurá-la se ainda não a descobrimos! E a nossa estrela não é outra coisa que “o sonho de Deus para cada um de nós”; aquilo que também chamamos “vocação” e que nos faz profundamente felizes, ao sentirmo-nos realizados e satisfeitos. É que se vivemos “sem estrela”, andamos desorientados e por caminhos que levam a nenhuma parte… E o que é que diriam hoje os nossos “reis magos” a tanta gente que vive (mal vive!) tristemente, sem a alegria do rosto nem o sorriso nos olhos, e a mercê de todos os ventos… com essa angústia íntima de quem não vê claro qualquer futuro de Esperança Feliz? O que é que nos querem dizer hoje “os magos”? Como é que devemos imitar o seu exemplo para encontrarmos a “estrela” e segui-la apesar das dificuldades, dos silêncios e das noites?…

Temos ao nosso dispor, e para a nossa meditação, a Palavra do Evangelho de hoje (Mt 2), que – lida, refletida e orada nas calmas – pode iluminar-nos e transmitir a força de vontade que precisamos… neste nosso “caminho de Salvação”. Pois, mãos à obra!

 

E agora, Senhor, sentimo-nos solidários

com todos os que, neste mundo nosso,

continuam desorientados e tristes

apesar da “epifania” do Teu Filho Jesus,

Luz verdadeira que ilumina tudo e todos!

Graças ao Teu Amor, Deus e Pai nosso,

já não estamos sem esperança de salvação.

Apareceu entre nós o Teu Filho,

que – na sua “manifestação” universal –

traz a paz, a justiça e o perdão…

para todos: pequenos e grandes,

os de perto e os de longe,

amigos e inimigos, maus e os bons,

pobres e ricos, justos e pecadores…

para o pobre e fraco que pede auxílio

e o miserável que não tem amparo.

Obrigado, Pai, Abbá, pelo Filho que nos dás;

porque a sua Estrela aponta já

o nosso presente e futuro de Felicidade.

Floresce já a justiça nos nossos dias

e a paz profunda e verdadeira

em todos os corações simples…

Queremos dar-Te infinitas graças, Senhor,

pelos “tesouros que hoje nos ofereces”

na Pessoa do Teu Amado Filho, Jesus.

E aceita o nosso melhor “Presente”,

que é também Jesus-Menino,

adorado pelos Magos no colo de Maria…

           [ do Salmo Responsorial / 71 (72) ]