21c- Aprender a «sentir o invisível»

 (Ciclo C – Domingo 7 da Pás.- ASCENSÃO)  

APRENDER A «SENTIR O INVISÍVEL»

Parece comum e vulgar aceitar-se que «o essencial é invisível aos olhos» (pelo menos desde que apareceu, nos meados do séc. XX, o livrinho «O Principezinho» de Saint-Exupéry). Mas a verdade é que não são muitos os que conseguem “ver-sentir”, «com os olhos do coração», o que não é visível aos olhos do corpo. No mesmo “livrinho” fica patente que se pode experimentar, sentir realmente, a presença d@ amig@ na distância, ou seja, na sua ausência corporal e visível…

Claro que esta capacidade de sentir-ver “o invisível” (e “intangível”) não aparece como “por geração espontânea”; será necessário um bom treino, às vezes até custoso e demorado!…

A Palavra de hoje também levanta esta questão, mas, sobretudo, oferece-nos alguma pista para este treino ou processo de transformação. Se há uma coisa de que não temos dúvida, como aliás aqueles discípulos testemunhas daquela “desaparição” visível de Jesus (Ascensão), é que, a partir daí, já não o voltaram a ver-tocar corporalmente. É verdade, não obstante, que será preciso começar por “decifrar” aquele enigma (“trocadilho”) de expressões enunciadas por Jesus: “Vou… Mas fico… e Voltarei…” – lembram-se? –.

O próprio Jesus quer – e deverá ser a nossa obrigação – que aprendamos a «sentir a Sua presença ausente». Para tal, já nos adiantou e preparou no sentido de que devemos receber primeiro o Espírito Santo, porque só através d’Ele (invisível como o próprio termo “espírito” significa) poderemos chegar a sentir a ação permanente de Jesus Salvador, indefinidamente… E embora sem a presença “corporal” de Jesus, seremos “revestidos com a força do alto”. “«Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto…»”. (Lc 24 / 3ª L.). Certamente, Ele “não nos deixa órfãos” depois da Sua partida, como também tinha prometido.

Mas vai esclarecer, noutra altura, um par de questões. Primeiro, que essa Infusão do Espírito em nós, será uma espécie de “batismo” – naquela primeira vez tremendo e espetacular –. Esta é a promessa de Jesus, assim de precisa: “«Vós, porém, sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias…»”. (At 1). E, em segundo lugar, também elucida essa tal “força do alto”, que vai transformar os seus discípulos nas “Suas verdadeiras testemunhas”, intrépidas e corajosas. “«Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas… até aos confins da terra»”. (At 1 / 1ª L.).

O apóstolo Paulo, por sua vez – e partindo já da sua experiência pessoal – com essa intuição inspirada que lhe caracteriza, “traduz” aquela expressão de Jesus, acerca do Espírito, para esta outra de “um espírito de sabedoria e de revelação”, capaz de “iluminar os olhos do coração”, que veem e sentem “o invisível”. Ele escreve aos cristãos de Éfeso: “O Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados…” (Ef 1 / 2ª L.). Tanto era assim, entre aqueles discípulos das primeiras comunidades cristãs – como refletíamos no domingo passado – que, com toda a naturalidade, “personificavam” o Espírito Santo, considerando-O como “integrante das suas comunidades”… (Lembram-se?: “O Espírito Santo e nós decidimos…”/At 15, 28). Aliás, este livro dos Atos está cheio de alusões ao Espírito Santo, considerado como “pessoa”, e dialogando com Ele, de tu para tu, e da maneira mais simples e natural.

Para eles, estava bem patente que, realmente, «tinham aprendido a “sentir-ver” O invisível», Cristo Jesus, exatamente através da Pessoa Divina do Espírito Santo – “Seu Espírito” – consoante o intenso desejo do mesmo Jesus!

 

Sim, Jesus, depois de Te louvarmos com alegria,

pela Tua Ascensão triunfal para a Glória do Céu,

para onde subiste, como Deus e Senhor,

em júbilo e ao som da trombeta, e após batermos palmas…

temos de deixar de olharmos para o alto,

e voltar à lida diária, onde Tu “já não és visível”

Porque foste Tu, Jesus, nosso Cristo Salvador,

quem proclamou bem alto para todos saberem:

“Felizes os que, sem terem visto, acreditam!”.

E, ao dizeres isto, reconhecias e assumias

que a Fé será sempre um Dom divino gratuito,

e que ninguém poderá dizer com verdade que,

se não tem fé, é porque ninguém lha deu,

ou porque não conseguiu conquistá-la…

E, apoiados naquelas Tuas palavras, Jesus,

nós sabemos que não se pode falar em fé

quando já se viu ou tocou o que quer que fosse,

como também sabemos quão difícil é

pretendermos crer ou «sentir-ver o invisível»

sem aceitar a Força do Espírito em nós…

Por isso, Jesus, eis a nossa frequente oração:

«Envia e infunde nos nossos corações

o Teu Espírito Santo, Advogado, Paráclito, que

– em batismo de Fogo, mais do que de água! –

além de nos confirmar nas Tuas Palavras,

nos fará sentir a Tua presença invisível»…

Porque estamos certos e convictos de que

“Tu estás sempre connosco até ao fim dos tempos”.

                         [ do Salmo Responsorial / 46 (47) ]