18c- Cristo - «Pastor» e «Cordeiro»

 (Ciclo C – Domingo 4 de PÁSCOA) 

 CRISTO – «PASTOR» E «CORDEIRO»!

Sabem aquela história da «ovelhinha traquina»?… Pertencia a um rebanho que se recolhia no seu redil, protegido por uma vedação, ao abrigo de qualquer perigo. Mas aquela ovelha irrequieta acabou por descobrir, na cerca do seu curral, uma pequena frincha ou greta, e por aí furou até conseguir fugir, livre, em direção às montanhas… Mas eis que, enquanto ela caminhava, já nas primeiras sombras da noite, sentiu atrás de si um certo animal feroz que lhe vinha no encalço. Acelerou a marcha e começou a entrar em pânico… De repente, sentiu que uns braços amigos a salvavam daquele final terrível. Era o seu querido pastor… E quando este devolveu a sua ovelhinha para o aprisco, na companhia e segurança das outras ovelhas, os amigos do pastor – além de se alegrarem com ele pela ovelha salva – diziam a este: Não entendemos porque é que deixas aberta aquela frincha na cerca do redil. Mas ele respondia sempre: «É preciso garantir-lhe a liberdade!».

E a Palavra de hoje – como tantas outras, objeto das nossas Reflexões – demonstra que esta é a atitude de Deus (o Pastor e “Pai Misericordioso”) e a de Jesus (o Bom Pastor e “Rosto Misericordioso de Deus”) a respeito das Suas “ovelhas”, que somos nós todos. Respeitará sempre a nossa “liberdade” porque nos fez “livres”!

Por outro lado, houve poetas cristãos – aliás, seguindo a inspiração de uma longa tradição Bíblica – que atribuíram a Jesus “o apelativo nome” de «Cordeiro e Pastor» (quem escreveu, por ex.: «Pastor e Cordeiro, sem choça nem lã, / onde vais, com o frio desta manhã?»). E não deixa de ser estranha e misteriosa esta “conjunção” de «cordeiro» e «pastor» (na mesma pessoa naturalmente impossível). Não fosse a Palavra de hoje a desvelar o enigma, e demonstrar que, em Jesus, é bem real.

– Quanto a “Pastor”, é o próprio Jesus, como sabemos muito bem, que a Si mesmo se define como tal. Já na parte anterior do c. 10 de João, começa por afirmar abertamente e com clareza, “Eu sou o bom pastor…”(no v. 11). Depois, insistirá, nos vários versículos seguintes: “«Eu dou a minha vida pelas ovelhas… Eu ofereço a minha vida para a retomar depois… Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente»”… E na segunda parte do capítulo (já na Leitura de hoje) descreve como são as Suas ovelhas e como é a Sua relação com elas: “Dizia Jesus aos judeus: «…As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço-as e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão…” (Jo 10 / 3ª L.). Porém, a figura do “Pastor” (do “bom pastor”) já tinha sido reivindicada pelo próprio Deus, como podemos confirmar em vários Textos do AT (Ez 34; Jr 23; Sl 22/23). Mas Jesus, como estamos a ver, eleva este “Título” – referido a Si mesmo – ao sumo grau de perfeição e de entrega total. Ele é realmente “O Pastor”!

– Quanto a “Cordeiro”, vai ser o Apocalipse (na segunda leitura) a revelar-nos o autêntico sentido de ‘Cordeiro aplicado a Jesus’, ao fazer a ligação entre o «cordeiro pascal», sacrificado pelos judeus como supremo ato de culto, e este verdadeiro “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29). E ficará perfeitamente evidente, após essa reiterada proclamação de Jesus de “dar a Sua vida pelas ovelhas”, e, sobretudo, depois de já ter realizado – no tempo – a Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Em consequência, será proclamada solenemente esta verdade pelo livro do Apocalipse ou Revelação (onde, aliás, aparece até vinte vezes o termo Cordeiro referido a Jesus, Ressuscitado e Glorioso). Falando numa espécie de “Liturgia Celeste”, onde Anjos e Santos aclamam e louvam cheios de Alegria, diz assim o nosso Texto: “Uma multidão imensa, que ninguém podia contar… estava de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro… vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão… Eram os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro… E o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva…” (Ap 7 / 2ª L.). Ou seja, Cristo é, igualmente, “O Cordeiro”!

Cabe-nos, então, seguirmos o exemplo e os passos deste «Pastor e Cordeiro», Cristo Jesus, respondendo, todos e cada um de nós, a essa “Vocação pessoal e universal” que, felizmente, nos “compromete”. Exatamente como os Seus primeiros discípulos – nossos primeiros pais na Fé – que “eram luz das nações para levar a salvação até aos confins da terra… sempre cheios da alegria e do Espírito Santo…”. (At 13 / 1ª L.). O que equivale a dizer: A “Vocação” de sermos, também nós – lembram-se? – «pastores de outras ovelhas», nossos irmãos.

 

Pai da misericórdia, Pastor Bom,

queremos ser de verdade “o Teu povo,

as ovelhas e cordeiros do Teu Rebanho”

Sempre sentimos o gozo e a alegria de repetir:

“Tu é que nos fizeste, Senhor,

e por isso, só a Ti queremos pertencer!”…

Mas agora somos conscientes, Senhor Jesus,

do nosso compromisso como “pastores”,

que ousam, como Tu, ser também “cordeiros”;

sim, Jesus, chegamos a ser “cordeiros imolados”

quando “nos entregamos”, conTigo, pelos irmãos…

Que bom, sermos, cada um, «pastor e cordeiro»,

todos no Teu único Rebanho, onde cantamos:

“O Senhor é bom, eterna é a Sua misericórdia,

a Sua fidelidade dura de geração em geração”!…

 [ do Salmo Responsorial / 99 (100) ]