23b- Deus é Amor! Trindade é Comunidade!

 

 (Ciclo B – Domingo da SS. TRINDADE)

DEUS É AMOR! TRINDADE É COMUNIDADE!   

Se alguma realidade nos parece normal, natural, essencial, na nossa existência humana, social, é a necessidade inata que temos de nos encontrarmos e de nos comunicarmos com os outros seres humanos, nossos semelhantes… e também com os outros seres vivos (em primeiro lugar com os animais mas também com as plantas).

Descobre-se claramente a grande verdade que é aquela afirmação que encontramos, logo no início da Bíblia, de que “o homem-mulher foi criado à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1-2)… Será que nessas realidades, de «casal», de «família», de «comunidade»… somos já imagem e semelhança de Deus? Ou será que, ao longo da nossa existência terrena deveremos construir essa semelhança comunitária com Deus? Mas qual a “imagem de Deus” que será mester imitar, “copiar”, através de um processo de aproximação? E em que sentido?…

Vejamos. Para já, está bem patente, na Palavra de hoje, que precisamente pelo facto de «Deus ser Amor» – lembram-se? – também este mesmo Ser Divino não pode ser “único”, “singular”, “unipessoal”… mas terá de se manifestar como um “Ser-em-ralação”, com capacidade – na sua essência divina – de “amar” e de “ser amado”, de dar amor e de o receber…

O que é que “nos declara”, então, a Palavra de hoje?

Jesus, no Evangelho deste dia, revela-nos, de maneira aberta e precisa, o profundo Mistério da Trindade, ao dizer aos discípulos: “Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28 / 3ª L.). Que maravilhosa revelação! Deus já não é – como parecia – um Ser solitário, que não pode estabelecer relações em Si mesmo (“intra-relações”). Pelo contrário, ao constituir – na Sua essência divina – a Comunidade Perfeita (“Trindade”), o Seu Amor inter-Pessoal é completo, e portanto o exemplo acabado para toda a comunidade, família, casal… Isto é, «a pessoa do Pai e a pessoa do Filho amam-Se entre Si, com um Amor que constitui a pessoa do Espírito Santo»: é assim que no-lo ensina a ciência de Deus que chamamos Teologia. Mas, como também sabemos, embora em três Pessoas, continua a ser Um único Deus, de acordo com a Palavra: “Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro…” (Dt 4 / 1ª L.). Como é possível, ser, ao mesmo tempo, Um e Três? Bom, comecemos por lembrar que também não é por acaso que o evocamos como «o mistério dos mistérios»! Todavia, não é assim tão difícil a sua compreensão, dado que, se bem o pensamos, afinal a “Família” é UNA embora em várias pessoas, como é UNO o “Casal” sem deixar de ser duas pessoas, como a “Comunidade” é UNA, ainda que integrada por várias e diversas pessoas…

Ora bom, já temos o modelo e exemplo para os nossos grupos humanos, mas como é que devemos proceder? Seguramente o “esquema” que Paulo nos apresenta, na sua carta aos Romanos (segunda leitura da Eucaristia) pode constituir um «programa de vida comunitária», essa realidade misteriosa que está na essência da nossa natureza humana. Ele escreve: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus (o Espírito Santo) são filhos de Deus (o Pai). E nós não recebemos um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adoção filial, pelo qual exclamamos: «Abbá, Pai»… O próprio Espírito dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus… E portanto, somos herdeiros de Deus e ‘co-herdeiros’ com Cristo (o Filho)…” (Rm 8 / 2ª L.).

É questão, portanto, de deixarmo-nos guiar e conduzir pelo Espírito, para assim, sentirmo-nos verdadeiros filhos de Deus Pai e irmãos autênticos de Cristo, o Filho Primogénito. Porque só assim – como bem assinala o apóstolo – nunca viveremos no temor dos escravos, mas na confiança e amor dos filhos, pois é o mesmo Espírito que clama desde o íntimo do nosso coração: “Abbá, Pai!”. E, enquanto filhos, entramos na “herança” junto com Cristo Jesus.

Oxalá sejam assim as nossas… comunidadesfamílias… casais…!

 

Todo e qualquer povo, Senhor,

deve sentir-se escolhido para Tua herança.

Do teu Amor Trinitário essencial,

– enquanto Pai, Filho e Espírito –

nascem as Tuas obras maravilhosas

e se adornam os céus que criaste…

Porém, mais do que tudo isso,

pela Tua vontade criadora, ó Pai,

pela entrega salvadora do Teu Filho,

e pelo Amor santificador do Espírito…

quereis – como Vossa primeira e principal criação –

gerar, alimentar, construir “comunidade”

“onde se juntem duas ou mais pessoas,

em nome de Jesus”, o Filho,

e pelo Amor do Espírito Santo…

Ó Amor Trinitário – Comunitário –,

cria, alimenta, orienta e transforma

– pois és Deus uno e trino, fonte de Amor –

as nossas pequenas comunidades!

[ do Salmo Responsorial / 32 (33) ]