24b- Corpo de Cristo - Corpo de homem

(Ciclo B – Dom.- SS. CORPO E SANGUE DE CRISTO)

 «CORPO DE CRISTO» – «CORPO DOS HOMENS»!

Sabemos já (e até o “povo fiel” intuiu esta verdade em certos lugares!) que dizer “Corpo de Cristo” equivale a dizer «Corpo de Deus» – lembram-se? –.

Mas há uma outra “verdade” que, logo à partida, não será tão fácil de intuir ou adivinhar, ainda que seja consequência da anterior, verdade esta que para nós, os humanos, resulta uma autêntica “revelação”, admirável e desconcertante.

O mesmo Jesus falou tantas vezes no seu Evangelho nesta verdade, mas nós teimamos em esquecê-la ou interpretá-la erradamente! Citemos aqui apenas alguns textos: “O que fizerdes aos outros é a Mim que o fazeis”; “quem vos acolhe, me acolhe a Mim e quem vos rejeita é a Mim que rejeita”; “um simples copo de água dado a alguém”, por amor, é dado ao próprio Cristo-Deus; etc. Vê-se com clareza que «O Verbo Incarnado» está mesmo “encarnado em todos e cada um dos seres humanos”. E se isto é verdade para todos, ainda mais verdade será para quem d’Ele se alimenta no Sacramento da Eucaristia: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, vive em Mim e Eu nele”

Mas a Palavra de hoje – já desde os primórdios do AT – quer introduzir-nos nesta “nova” verdade, que é, ao mesmo tempo, outro grande mistério. É assim que se pode interpretar – numa perspetiva Messiânica – o texto seguinte do Êxodo. “Moisés… mandou, depois, que alguns jovens israelitas oferecessem holocaustos e imolassem novilhos, como sacrifícios pacíficos ao Senhor… Então, Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo, dizendo: «Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco, mediante todas estas palavras»”. (Ex 24 / 1ª L.). Vemos aqui que “o sangue de novilhos” imolados pelos jovens, “sangue aspergido” por Moisés, parece constituir como que um “elo de união” – uma união solidária? – entre o Povo e o seu Deus. Porque diz textualmente “sangue da aliança que o Senhor firmou convosco”. Mesmo assim, isto não passa ainda de uma longínqua “figura” daquilo que viria acontecer, séculos mais tarde, no decorrer da história, na pessoa de Jesus de Nazaré.

É o autor da carta aos Hebreus quem “o interpreta” e explica – com clarividente inspiração – quando já tinha acontecido a passagem salvadora do Messias Jesus pela história: “Cristo… não derramou sangue de cabritos e novilhos, mas o seu próprio Sangue… E assim, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno, Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha, para purificar a nossa consciência…” (Hb 9 / 2ª L.).

É que, quando isto se escreve, já o próprio Cristo Jesus tinha instaurado “a Nova Aliança”, ao instituir a Eucaristia naquela última Ceia com os seus discípulos, na véspera da sua Paixão e Morte: “Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens…»” (Mc 14 / 3ª L.). Trata-se portanto do Seu próprio corpo e sangue, ou seja, d’Ele mesmo! Significa então que, “ao comermos este Corpo e Sangue”, passamos a ser “carne da sua Carne”, em palavras Suas (que tantas vezes repetimos e cantamos!).

Como são maravilhosas, e ao mesmo tempo terríveis, as consequências que derivam desta verdade! São excelentes para nós porque «somos transformados em Cristo», mas são também terríveis quanto à sua exigência, já que, ao sentirmo-nos por isso mesmo «transformados nos nossos próximos», deveremos agir coerentemente!

Tanto assim, que alguém afirma: Quem, ao “comungar” Cristo, não “comunga com” os seus irmãos, também não “comunga” Cristo! É a tal coerência, dita por outras palavras: «Há que comer os irmãos para comer Jesus!». São palavras maiores (!?).

 

O salmo de hoje convida-nos a louvar:

E nós, Jesus, tomamos nas nossas mãos

e elevamos o Teu “cálice de salvação”,

com toda a coerência de que somos capazes,

não apenas para invocar o Teu nome

mas para sentirmo-nos na verdade unidos a Ti,

e, com a mesma força coerente, unidos

a todos os nossos irmãos, sem distinção.

Seremos nós capazes de agradecer-Te

tudo quanto nos deste por este Mistério?

De “servos, filhos da tua serva”,

fizeste-nos filhos do Pai-Deus,

chamaste-nos “teus amigos”… e mais,

fizeste-nos “carne da tua carne”!

Por isso, Jesus, quando Te “comungamos”

comemos igualmente os membros do Teu Corpo!

Que aprendamos então a «comungar com eles»

para podermos «comungar conTigo»:

Como é isto difícil, Senhor Jesus!

Faz-nos, pois, partícipes do Teu Amor,

a fim de que – quando Te “comemos”

saibamos “comer” o nosso próximo,

ou seja, aceitá-lo e assumi-lo – assimilá-lo!

tal como eles são, para – eles e nós –

sermos cada vez melhores…

 [ do Salmo Responsorial / 115 (116) ]