21b- Vou, mas fico e... voltarei!

 (Ciclo B – Domingo 7 de P. – ASCENSÃO) 

«VOU, MAS FICO E… VOLTAREI!»

Quem é que pode fazer semelhante afirmação, ou lançar um desfio deste género?… Aliás, o que se verifica, na realidade, é outra coisa. Bem claro o recolhe a “sabedoria popular”: «Ou nadar ou guardar a roupa» pois fazer essas duas coisas ao mesmo tempo é impossível. Ou então: «Ninguém pode tocar os sinos e andar na procissão», exatamente pela mesma razão e motivo…

Porém, para Jesus de Nazaré, até o que não parece, foi sempre possível (não em vão Ele tinha afirmado: “Nada é impossível para Deus”- Mt 19, 26), pois Ele é – em Si mesmo – o filho do Homem e o Filho de Deus.

Assim sendo, Jesus vai afirmando (em vários textos de outros evangelistas): “«Ouvistes que vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’»” (Jo 14, 28). E pouco antes de Se elevar para o Céu, declara-lhes: “E ficai a saber que Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20 / como diz a Antífona do Aleluia de hoje). Ou seja, vou-me embora, estou convosco e voltarei a vós. Não pode ser mais explícito e claro, embora, para aqueles discípulos, e quiçá para nós, bastante confuso.

Primeiro, diz que tem de ir embora, porque a Sua missão nesta vida terrena acabou. De facto, afirmam-no, na Palavra de hoje, quer o evangelista Marcos quer o autor dos Atos, Lucas. “O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus” (Mc 16 / 3ª L.). “Eu narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu…” (At 1 / 1ª L.). Toda a missão, neste mundo, tem um início e um fim, para todos e cada um de nós, como o teve para Jesus.

Mas aquelas outras palavras que, como ficou dito, Ele tinha pronunciado (Eu estou sempre convosco”) começam a cumprir-se desde agora. É o mesmo evangelho de Marcos que o confirma, a seguir à Ascensão: “Eles partiram a pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles…” (Mc 16 / 3ª L.). É evidente, que toda a missão e apostolado dos Seus discípulos, em todo o tempo e lugar, só pode ser eficaz e salvadora se O Ressuscitado está n’eles. Se Ele faltasse, ou se nós cortássemos a união com Ele, (“como o sarmento da videira”) – lembram-se? – então nada seria possível!

E falta-nos a terceira parte do “mistério”: “Eu voltarei a vós”. Como é que vai voltar se já está connosco? Mas o Evangelho afirma-o de vários modos, por exemplo, quando, no episódio da Ascensão de Jesus, aqueles dois jovens vestidos de branco, aparecidos nas nuvens, dizem: “«Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu»” (At 1 / 1ª L.). Ou seja, “do mesmo modo que foivirá”. Significa então que, entre uma “ida” passada e uma “volta” futura, está situado o espaço da nossa vida mortal. É preciso entendermos isto: tanto a «partida» como o «retorno» referem-se ao sensível, visível ou palpável. Enquanto a «permanência» connosco – no espaço e no tempo da nossa vida mortal transitória – é invisível, oculta ou velada, porque acontece a nível do espírito e não dos sentidos corporais.

E é precisamente aqui, nesta “presença real no íntimo do nosso ser”, onde devemos apostar todo o nosso esforço vital para realizarmos a nossa missão e compromisso. Pois é a este nível que se joga o Amor e a Felicidade – lembram-se? – para cada um de nós e para todos. Só assim compreendemos o sentido transcendente deste desejo e mandato de Cristo nesta Sua “despedida” da Ascensão: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo…” (Mc 16 / 3ª L.). «Evangelho» que é «a Boa Notícia» de Salvação para todos!

É bom convidarmos todos os povos

a bater palmas e aclamar-Te, Jesus,

com brados de alegria, com os hinos mais belos,

– como nos propõe e anima o Salmo

porque o Teu triunfo é definitivo

sobre a morte e a favor da Vida:

Louvado e Amado por sempre. Aleluia!…

Mas também não podemos ficarmos

a “olhar apenas para o alto”,

como aqueles primeiros discípulos,

aguardando pela Tua “vinda” futura, não!

Convictos da Tua fiel permanência em nós,

a nossa tarefa, missão e compromisso,

– como, aliás, fizeram aqueles discípulos

deverá consistir em entregar sempre

a nossa vida e as nossas energias

em favor de todos os irmãos,

sedentos e famintos de Salvação…

Obrigado, Jesus, por ficares connosco!

            [ do Salmo Responsorial / Sl 46 (47) ]