42b- Eterna juventude!

 (Ciclo B – Domingo 19 do T. Comum…) 

«ETERNA JUVENTUDE»?

A história da humanidade foi sempre rica em mitos e lendas cujo objetivo era encontrar aquela espécie de “talismã” (objeto ou substância) capaz de transformar as coisas ou as pessoas em algo sempre melhor, sempre mais perfeito, sempre transcendente, imortal, eterno… Assim, por exemplo, a chamada “pedra filosofal”, que transmutaria em “ouro” todo e qualquer metal inferior que tocasse; ou o “elixir da longa vida” (dito igualmente “o elixir da imortalidade”) continuamente procurado em algumas culturas… Outros aventureiros tentaram explorar novas terras à procura da lendária «Fonte da juventude», cujas águas transmitiriam, evidentemente, a eterna juventude… Para não falar de algumas mitologias, como a grega, cuja “ambrósia” (manjar dos deuses do Olimpo) tomado por qualquer mortal, lhe transferiria a imortalidade; ou como a mitologia nórdica, por seu lado, cuja deusa Iduna (guardiã do pomar sagrado) ofereceria maçãs aos homens para lhes tornar imortais

E porque será – perguntamos nós – que existe no mais íntimo do ser humano esta ânsia de se perpetuar, de transcender, de se eternizar…? É evidente que, para conseguir isto, acudirá sempre a todos os meios possíveis, como se está a ver. Mas – coisa curiosa! – a maior parte das vezes esses meios tem a ver com a alimentação, ou seja, com substâncias que acabam por se transformar em nós mesmos, quando ingeridas e assimiladas… Bem sabia isto o Pai Deus, Criador de tudo e de todos, nomeadamente deste homem “mortal” com ânsias de transcendência!

Assim sendo, vemos aquele Mensageiro que, transmitindo a Palavra de Deus, comunica ao profeta Elias, nos alvores da Antiga Aliança, que «deve comer para percorrer um longo caminho»: “O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Elias levantou-se, comeu e bebeu. Depois, fortalecido com aquele alimento… caminhou até ao monte de Deus, Horeb”. (1 Rs 19 / 1ª L.). E é para perguntar-nos: qual o sentido “prefigurado” que podem ter aqui as palavras «comer e beber», «longo caminho», «monte Horeb»?…

O Filho, Jesus de Nazaré, não devia conhecer menos do que o Pai esta realidade humana de «comer e assimilar para perdurar» quando quis avançar com “o Alimento Eucarístico”, até porque o vivia na Sua mesma natureza carnal. Havia que inventar “algo” que se transformasse, por assimilação, na própria natureza humana.

Mas as Suas primeiras palavras, neste sentido, por evidentes e radicais, tornar-se-iam em confusas e “insuportáveis” (Jo 6, 60) e, desde logo, misteriosas para aqueles ouvintes… Mas Jesus tem de ser, desde o início, claro e contundente, radical e verdadeiro (“em verdade, em verdade” dizia): “«No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer… Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida… Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente»”.(Jo 6 / 3ª L.). É evidente que “a morte” de que Jesus fala é a “morte definitiva”, não a morte temporal… E não há dúvida – para quem tem fé em Jesus – que este “Alimento” é superior aos manás, aos elixires, às ambrósias, às maçãs do pomar da deusa Iduna, a todas as águas das “fontes da juventude”

Até porque, além do mais, o nosso Deus (o Pai de Jesus!) é superior a todos os deuses («ídolos») “feitos pelas mãos humanas” (Sl 113b) de todas as «mitologias», imaginadas pelos filhos dos homens… Compreende-se então a exortação final que Paulo nos faz: “Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai no amor, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se como vítima agradável a Deus” (Ef 4 / 2ª L.). E vítima transformada em «Alimento»!

 

O bom alimento, ó Jesus, é para o saborear;

e o Teu próprio Corpo é o melhor Alimento;

é a Tua Pessoa que se entrega totalmente…

Por isso lançamos a todos este convite do salmo:

Saboreai e vede como o Senhor é bom!

Se Tu, Jesus, afirmaste verdadeiramente

(“em verdade, em verdade vos digo”)

que “quem Me come viverá por Mim”,

para que o louvor do Senhor Deus

esteja sempre na nossa boca e coração,

também o teu Corpo e Sangue, Jesus,

deverá estar na nossa boca e coração,

ou seja, teremos de comer-Te e assimilar-Te,

para que, então, Tu te transformes em nós

e nós fiquemos transfigurados em Ti…

Assim, cada um de nós há de proclamar:

«“este pobre” alimentou-se do Senhor

e foi salvo da morte e de todos os inimigos»…

Sim, voltai-vos todos para o manjar Eucarístico;

alimentai-vos do mesmo “Corpo de Deus”

– Pão da Vida, “alimento dos fortes”

e ficareis radiantes pelo gozo da imortalidade

até ao amanhecer do Dia-sem-final!

[ do Salmo Responsorial / 33 (34) ]