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(Ciclo C – Domingo 27 do Tempo Comum)  

«ATÉ QUANDO, SENHOR, O MAL VAI VENCER

É normal, compreensível, para nós humanos, desejarmos e ansiarmos, até com aflição, todo o que deleita e nos dá prazer, gozo, alegria… Aliás, é evidente; pois não devemos esquecer que fomos criados para, um dia, atingirmos esse estado de Amor e Felicidade, tantas vezes almejado…

Acontece, porém, que, o mesmo Criador que pôs no mais íntimo do nosso ser esses horizontes, essas metas e objetivos gloriosas, que são a realização “natural” da nossa vida… esse mesmo Criador e Pai – omnisciente e omnipotente – deu-nos uma «liberdade» capaz do melhor e do pior, como sabemos perfeitamente, mesmo por experiência pessoal. Como consequência desta liberdade – à que nós não queremos renunciar e que Ele vai respeitar sempre! – surge, à nossa frente, um caminho inevitável, um itinerário a que não poderemos fugir, que tem de aparecer semeado de sofrimentos, mágoas, amarguras, tristezas… numa palavra, “cruzes”. Ou, por outras palavras, são aquelas reiteradas e recorrentes «tribulações» ou «adversidades» tão frequentes nos “Salmos” do AT, salmos esses que são «orações» onde se refletem os diversos “estados vitais” das pessoas, através dos tempos e dos espaços… de todas as gerações.

Mas não devemos estranhar isto, se pensarmos no facto – real e normal do campo da Ciência físico-natural – de ser indispensável «gastar – queimar – uma força ou energia para realizar um trabalho» (“leis universais da termodinâmica”?). E uma vez que o nosso “mundo humano” está inserido, imerso, neste “mundo material”, resulta como algo normal que «se contagie» necessariamente das suas «leis naturais»… Mesmo assim, continuaremos a perguntar-nos pelo sentido profundo e último da existência desse “mal” no mundo, e daquelas suas consequências «em forma de cruzes»…

Bom, mas a Palavra de hoje – também neste assunto – vem agora ao nosso encontro para nos iluminar. E observamos como «o homem», desde sempre, clamou contra a “violência” e se revoltou perante a “injustiça”, a “opressão”, a “discórdia”… Aqui, através de uma oração inspirada, a do profeta Habacuc, em forma de várias questões lançadas ao próprio Javé-Deus: “Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?”… E o mais curioso é que, na resposta que dá o Senhor – e que manda “gravar em tábuas” – parece como que não quer “resolver” esses interrogantes, a não ser quando, finalmente, deixa aberta uma janela de esperança: “Vede como sucumbe aquele que não tem alma reta; mas o justo viverá pela sua fidelidade»”.(Hab 1.2 / 1ª L.).

Há, portanto, uma coisa que não pode nem deve falhar, em toda esta «história»: é a “fé e confiança” no poder misericordioso e paciente de Deus, nosso Pai. Assim, é compreensível que S. Paulo continue a insistir com estes conselhos (ao seu discípulo Timóteo): “Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste… Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor… Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus… segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo…” (2 Tm 1 / 2ª L.).

E este mesmo Jesus Cristo, no Seu Evangelho, como era de esperar, traça-nos a pista mais radical e coerente. Mas não pelo facto espetacular de nos dar o poder – “mediante uma palavra” – de “arrancarmos uma amoreira e transplantá-la no mar”, senão “pela fé” que isso supõe, e que terá de ser pelo menos “como um grão de mostarda”. Assim, aceitaremos e assumiremos a nossa situação real e a nossa “vocação” de “simples servos”; que, após ter realizado fielmente o seu serviço, prolongam a sua atitude de humildade «que é de verdade». Afinal, nós “não fazemos mais do que aquilo que devemos fazer”. (Lc 17 / 3ª L.). Todo o mais é com Ele!

Então, ao concluirmos, parece ficar a questão inicial: será que, ainda, O MAL HÁ DE VENCER? – Mas à vista da Palavra, respondemos: Não, de maneira nenhuma! A sua vitória é só aparente! Porque DEUS (o Amor, o Bem) tem e terá sempre a última Palavra! E nós com Ele, “pela fé”!

 

Apesar de termos visto as Tuas obras, Senhor,

que são todas de Amor e de Bondade, ainda podemos duvidar;

ainda podem ficar duros os nossos corações

Todas as obras, visíveis e invisíveis, da Tua Criação,

estão a mostrar-nos, bem patente, ó Pai,

que de Ti só pode vir o que é Bom e o que gera Paz.

Todo o que, neste mundo, reflete “o mal”

só pode ter origem no «espírito maligno»

e nos homens maléficos que são “os seus sequazes”,

que criam deuses e ídolos ao seu belo prazer…

Quanto a nós, Senhor, proclamamos bem alto

que só Tu és o nosso Deus e Salvador,

e nós – formando “o Teu povo e Tua grei” –

somos as ovelhas do Teu Rebanho.

E queremos fechar os nossos ouvidos

aos malfeitores, que publicam e alargam os males…

para escutarmos, apenas e só, a Tua Voz, Pai,

e nunca endurecermos os nossos corações

Pelo poder da fé e confiança que temos em Ti,

e com a força e energia do Teu Espírito,

– apesar de tantos sinais contraditórios

e superando os pessimismos da nossa sociedade –

nós, conTigo, venceremos o mal com o Bem!

 [ do Salmo Responsorial / 94 (95) ]