
(Ciclo C – Domingo 24 do Tempo Comum)
DUAS «FACES» DE DEUS?
Mais uma vez, o “sentido antropológico” da linguagem humana, nas suas relações com Deus, em Quem projeta atributos e pensamentos puramente humanos [“antropo” = homem]. Vemo-lo, desta vez, naquele diálogo “chocante” entre Deus e Moisés – tão semelhante ao de Abraão e Deus, lembram-se? – e que agora aparece-nos, logo na primeira leitura. Neste caso, é um diálogo muito mais breve. “O Senhor disse ainda a Moisés:
– «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação»… Então, Moisés falou, procurando aplacar o Senhor:
– «Por que razão, Senhor, se há de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo… Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel… Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo”. (Ex 32 / 1ª L.).
É assim que agiria ou reagiria qualquer ser humano “normal”. Reparemos nas palavras e expressões que os autores deste livro do Êxodo põem na boca de Deus (“tenho observado… um povo de dura cerviz… deixa que a minha indignação se inflame e os destrua… ”); ou, pela voz de Moisés (“procurando aplacar o Senhor… por que se há de inflamar?… lembrai-vos dos vossos servos…”); ou, aliás, na própria atitude de Deus (“então o Senhor desistiu do mal…”). Todos sabemos que o Senhor Deus, como tal, nem quer “observar” o pecado, nem é “dominado pela indignação” para “destruir”; também não precisa de “se lembrar”… nem é possível Ele “desistir” de nada… Todas elas são expressões e atitudes antropológicas, que nós, os humanos, estamos empenhados em transferir para Deus… e ficamos como se nada fosse connosco! Apesar da boa vontade do autor deste “texto sagrado”, não deixa de ser uma imagem falsa de Deus ou, pelo menos, inexata: o Deus terrível e castigador… Embora – como sempre – acabe por triunfar a «face compassiva» do Senhor.
Esquecemos – também nós – que Deus é muito diferente de como no-l’O pinta o AT, ainda que aqueles nossos ancestrais irmãos não podiam imaginar as coisas de outra maneira, uma vez que ninguém lhes tinha “revelado como era na verdade aquele Deus todo-poderoso”… Nós, é que já não temos justificação alguma se assim continuarmos a imaginar o Senhor Deus, depois de termos recebido a Revelação do Filho, Jesus de Nazaré. Se bem nos lembramos, não é a primeira vez que falamos nisto, pois já em várias ocasiões recordámos que foi o mesmo Jesus, o Filho, quem nos ofereceu a melhor revelação acerca da “essência” de Deus, ao afirmar, abertamente, que «Deus é PAI» – nada menos! – o Pai (“Abbá”) de todos… Assim, resulta normal que Paulo, na sua carta a Timóteo, se glorie e confie na misericórdia do Filho, Jesus Cristo, herdada do «Seu Pai misericordioso»: “…Mas eu alcancei misericórdia… quando ainda era descrente… para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua bondade e compaixão…” (1 Tm 1 / 2ª L.). Segundo isto, se alguém podia “pintar-nos o genuíno retrato de Deus” esse era Jesus, o Filho!
Vejamos. De todos é conhecida – ou talvez não? – essa maravilhosa parábola, dita «do filho pródigo» (Lc 15 / 3ª L.), que constitui – na opinião generalizada de todos os que a conhecem, “espertos” ou não – «a melhor página escrita» na história da literatura universal, em qualquer cultura que se possa descobrir ou imaginar… E, desde logo, não apenas desde o ponto de vista literário, mas em todos os aspetos (humano, psicológico, sociológico…) e sobretudo no plano espiritual de Salvação. E, como diria alguém, «quem encontrar algo de similar ou de melhor, que o apresente!».
Mas o que não vamos fazer agora – ninguém pense nisso! – é transcrever aqui qualquer texto ou citação desta Parábola. Seria, na minha opinião, como desfazê-la ou “profaná-la” (entenda-se!). Por isso, o nosso conselho hoje é que seja lida, na íntegra, e, se possível, refletida e meditada calmamente… já que a sua riqueza é inesgotável!
Deixamos, isso sim, esta máxima ou “moral da história”: «Com um Deus-PAI assim, quem pode temer, seja lá o que for!?». Ou, como diz o refrão daquela canção: «Aconteça o que acontecer, nós temos um Pai que espera por nós!».
Quantas vezes terei de pensar em Ti, Senhor,
para tomar esta sábia e atrevida decisão:
“Vou partir e vou ter contigo, ó meu Pai!”.
Sim, Pai, porque o facto de saber
como é grande a Tua bondade e misericórdia
não me livra de reconhecer o meu pecado…
Peço que Te compadeças de mim,
que apagues todas as minhas faltas,
e me laves de todas as culpas e desvarios…
Tu que és um Deus clemente e compassivo,
ensina-me a perdoar como Tu sempre perdoas…
Cria em mim, ó Pai, um coração puro e limpo,
e faz nascer dentro de mim um espírito firme.
Que eu tenha sempre dentro de mim
o Teu espírito de pureza e santidade…
Nem sequer os meus lábios podem louvar-Te
se Tu não abres e purificas a minha boca.
Há uma coisa que devo ter bem presente:
«Tu não queres os sacrifícios sem a misericórdia»;
preferes, Pai, um coração arrependido
e agrada-Te sempre o espírito humilde…
[ do Salmo Responsorial / 50 (51) ]
10 Setembro, 2016
DUAS «FACES» DE DEUS?
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 24 do Tempo Comum)
DUAS «FACES» DE DEUS?
Mais uma vez, o “sentido antropológico” da linguagem humana, nas suas relações com Deus, em Quem projeta atributos e pensamentos puramente humanos [“antropo” = homem]. Vemo-lo, desta vez, naquele diálogo “chocante” entre Deus e Moisés – tão semelhante ao de Abraão e Deus, lembram-se? – e que agora aparece-nos, logo na primeira leitura. Neste caso, é um diálogo muito mais breve. “O Senhor disse ainda a Moisés:
– «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação»… Então, Moisés falou, procurando aplacar o Senhor:
– «Por que razão, Senhor, se há de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo… Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel… Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo”. (Ex 32 / 1ª L.).
É assim que agiria ou reagiria qualquer ser humano “normal”. Reparemos nas palavras e expressões que os autores deste livro do Êxodo põem na boca de Deus (“tenho observado… um povo de dura cerviz… deixa que a minha indignação se inflame e os destrua… ”); ou, pela voz de Moisés (“procurando aplacar o Senhor… por que se há de inflamar?… lembrai-vos dos vossos servos…”); ou, aliás, na própria atitude de Deus (“então o Senhor desistiu do mal…”). Todos sabemos que o Senhor Deus, como tal, nem quer “observar” o pecado, nem é “dominado pela indignação” para “destruir”; também não precisa de “se lembrar”… nem é possível Ele “desistir” de nada… Todas elas são expressões e atitudes antropológicas, que nós, os humanos, estamos empenhados em transferir para Deus… e ficamos como se nada fosse connosco! Apesar da boa vontade do autor deste “texto sagrado”, não deixa de ser uma imagem falsa de Deus ou, pelo menos, inexata: o Deus terrível e castigador… Embora – como sempre – acabe por triunfar a «face compassiva» do Senhor.
Esquecemos – também nós – que Deus é muito diferente de como no-l’O pinta o AT, ainda que aqueles nossos ancestrais irmãos não podiam imaginar as coisas de outra maneira, uma vez que ninguém lhes tinha “revelado como era na verdade aquele Deus todo-poderoso”… Nós, é que já não temos justificação alguma se assim continuarmos a imaginar o Senhor Deus, depois de termos recebido a Revelação do Filho, Jesus de Nazaré. Se bem nos lembramos, não é a primeira vez que falamos nisto, pois já em várias ocasiões recordámos que foi o mesmo Jesus, o Filho, quem nos ofereceu a melhor revelação acerca da “essência” de Deus, ao afirmar, abertamente, que «Deus é PAI» – nada menos! – o Pai (“Abbá”) de todos… Assim, resulta normal que Paulo, na sua carta a Timóteo, se glorie e confie na misericórdia do Filho, Jesus Cristo, herdada do «Seu Pai misericordioso»: “…Mas eu alcancei misericórdia… quando ainda era descrente… para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua bondade e compaixão…” (1 Tm 1 / 2ª L.). Segundo isto, se alguém podia “pintar-nos o genuíno retrato de Deus” esse era Jesus, o Filho!
Vejamos. De todos é conhecida – ou talvez não? – essa maravilhosa parábola, dita «do filho pródigo» (Lc 15 / 3ª L.), que constitui – na opinião generalizada de todos os que a conhecem, “espertos” ou não – «a melhor página escrita» na história da literatura universal, em qualquer cultura que se possa descobrir ou imaginar… E, desde logo, não apenas desde o ponto de vista literário, mas em todos os aspetos (humano, psicológico, sociológico…) e sobretudo no plano espiritual de Salvação. E, como diria alguém, «quem encontrar algo de similar ou de melhor, que o apresente!».
Mas o que não vamos fazer agora – ninguém pense nisso! – é transcrever aqui qualquer texto ou citação desta Parábola. Seria, na minha opinião, como desfazê-la ou “profaná-la” (entenda-se!). Por isso, o nosso conselho hoje é que seja lida, na íntegra, e, se possível, refletida e meditada calmamente… já que a sua riqueza é inesgotável!
Deixamos, isso sim, esta máxima ou “moral da história”: «Com um Deus-PAI assim, quem pode temer, seja lá o que for!?». Ou, como diz o refrão daquela canção: «Aconteça o que acontecer, nós temos um Pai que espera por nós!».
Quantas vezes terei de pensar em Ti, Senhor,
para tomar esta sábia e atrevida decisão:
“Vou partir e vou ter contigo, ó meu Pai!”.
Sim, Pai, porque o facto de saber
como é grande a Tua bondade e misericórdia
não me livra de reconhecer o meu pecado…
Peço que Te compadeças de mim,
que apagues todas as minhas faltas,
e me laves de todas as culpas e desvarios…
Tu que és um Deus clemente e compassivo,
ensina-me a perdoar como Tu sempre perdoas…
Cria em mim, ó Pai, um coração puro e limpo,
e faz nascer dentro de mim um espírito firme.
Que eu tenha sempre dentro de mim
o Teu espírito de pureza e santidade…
Nem sequer os meus lábios podem louvar-Te
se Tu não abres e purificas a minha boca.
Há uma coisa que devo ter bem presente:
«Tu não queres os sacrifícios sem a misericórdia»;
preferes, Pai, um coração arrependido
e agrada-Te sempre o espírito humilde…
[ do Salmo Responsorial / 50 (51) ]