(Ciclo C – Domingo 2 de PÁSCOA) 

«MISERICÓRDIA»… OU NADA!

Muito já foi escrito acerca da Misericórdia – e ainda bem! – sobretudo nestes tempos nossos, por ocasião do «Jubileu da Misericórdia» e pelo “carisma sedutor” do nosso Papa Francisco, ele próprio “sinal e exemplo vivo de misericórdia”! Aliás, este «2 domingo de Páscoa» passou a denominar-se – exatamente desde o ano 2000 – «Domingo da Divina Misericórdia» (por iniciativa de um outro Papa, São João Paulo II), após ter tido várias “denominações” através da sua história de vinte séculos (Domingo “in albis”, Domingo de “Quasimodo”, Domingo “na Oitava” da Páscoa…). E sabemos também que a origem desta devoção à “Divina Misericórdia” está – mormente – nos escritos da mística polaca Santa Faustina Kowalska, nas primeiras décadas do século XX…

Tudo isto leva-nos, hoje e agora, a tentarmos descobrir, na Palavra deste domingo, se haverá outro caminho, para os seres humanos, fora da Misericórdia, “recebida” e “oferecida”. Ou, por outras palavras, se será possível viver sem estarmos envolvidos por uma espécie de “Manto Misericordioso”.

Nos Atos dos Apóstolos ficou registado que, os primeiros discípulos de Cristo (naquelas incipientes comunidades cristãs) “tinham um só coração e uma só alma”; onde, evidentemente, era a misericórdia que tudo embebia e impregnava. E estes mesmos seguidores de Jesus, diz a primeira leitura de hoje, “unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão (do Templo); nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os…” (At 5 / 1ª L.). É que “esse povo” sentia (intuía) que eles viviam como que «envolvidos por uma atmosfera ou ambiente de amor e misericórdia»; tanto que um autor daquela época deixou escrito que «Os pagãos, ao observá-los, diziam: “Olhai como eles se amam!”». Mas havia também aqueles “outros (os que tinham recusado Jesus Nazareno até condená-l’O à morte de cruz) que não se atreviam a juntar-se a eles”. E porquê? Não será porque, ao rejeitarem Jesus, estavam afastando-se da Sua Misericórdia?… Que pena quando, conscientemente, não se quer aceitar “a Misericórdia”… mas “só a Lei”!

Há outros, porém, que se deixam envolver pelo medo ou invadir por temores diversos, que os impedem de se abrirem e caminhar para o Amor: “Estavam fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus…”. Nesses casos, só a presença de Jesus Vivo pode trazer a Paz e a Misericórdia. “Veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!»”. E para que aprendessem não apenas a receber o perdão e a misericórdia divina mas também a perdoar e ser misericordiosos, uns com os outros, terá de lhes infundir o Seu Espírito: “Então soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados”. (Jo 20 / 3ª L.).

Todavia, também os próprios amigos de Jesus, perante uma presença d’Ele, imprevista ou súbita, podem sentirem-se dominados por um género de “pavor inconsciente”; como lhe aconteceu, até, ao “discípulo amado”, que se exprime assim: “Voltei-me e vi alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto”. Terá que ser esse “alguém semelhante a um filho do homem” a transmitir a calma e o sossego de Quem é «o Príncipe da Paz» e o «Rosto da Misericórdia» [“Misericordiae Vultus”]. Assim o reconhece a seguir esse tal discípulo João (autor do Apocalipse): “Mas Ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos…” (Ap 1 / 2ª L.).

Se admitimos e assumimos, por um lado, a liberdade humana, com todas as suas implicações… e, ao mesmo tempo, a fraqueza e fragilidade de todo o ser humano, com a sua natural inclinação para o mal (‘malícia original’)… então, resta-nos somente o «salva-vidas» da MISERICÓRDIA, a divina e a humana! Agarremo-nos, pois, à «Misericórdia divina», o que supõe sermos «misericordiosos como o Pai». Pois a única verdade é esta: «Para nós – frágeis humanos mas filhos de Deus – fora da Misericórdia não há Salvação!». Ou MISERICÓRDIA ou NADA!

Oramos, agora, Senhor, com o nosso Salmo,

o Salmo da «nossa História de Misericórdia»,

o hino à «Tua Misericórdia nas nossas vidas»…

Será como o nosso «grande Hallel» (*) de Louvor:

Graças e louvores a Ti, ó Senhor,

– porque é eterna a Tua misericórdia! –

Diga connosco a Igreja Universal, a Casa de todos:

– é eterna a Tua misericórdia! –

Digam connosco todos os amigos de Deus:

– é eterna a Tua misericórdia! –

Tu, Senhor, fizeste em nós grandes maravilhas,

– porque o Teu amor é eterno!

Para nós criaste esta Terra e os seres viventes,

– porque o Teu amor é eterno! – 

Venceste as “trevas do nada” e “me” criaste,

– porque o Teu amor é eterno! –  

E “sonhaste”, para nós, todo o Universo

– porque o Teu amor é eterno!

Dividiste ao meio «as águas do Mal»

– porque é eterna a Tua misericórdia! –

mas, com «as águas batismais do Bem»,

deste-nos “a Vida e a Filiação” divinas

– porque o Teu Amor é eterno! –

Tu nos livras dos inimigos da nossa Alma

– porque é eterna a Tua misericórdia! –

Dás o alimento a todos os seres vivos

– porque o Teu amor é eterno!

mas reservas para nós o Pão Eucarístico

– porque é eterna a Tua misericórdia! –

Prometes a Glória Eterna como herança

– porque o Teu amor é eterno!

Tudo o que existe Louve o Teu Amor Eterno

– porque é eterna a Tua misericórdia!!! –

[ do Salmo Responsorial / 117 (118) ] (*)

– e Salmo 135 (136).