– A PALAVRA, refletida ao ritmo Litúrgico –

 (Ciclo C – Domingo 2 de PÁSCOA)

“Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações… fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte… que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas»… Ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem… Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos”… (Ap 1,12-13.17-18 / 2ª L).

O texto é tirado do início do Livro do Apocalipse (ou ‘Revelação’) cujo autor inspirado é João – o evangelista – quando “estava (desterrado) na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1,9). O «género literário do Apocalipse» (chamado por isso género ‘apocalíptico’) é «caraterizado pela sua natureza profética e simbólica»…  A primeira missão que, neste caso, recebe o Apóstolo – como se vê – é a de enviar aquelas ‘sete cartas’ aos “anjos” (‘bispos’) das sete comunidades cristãs (“igrejas”) de outras tantas cidades, situadas no território norte-ocidental da atual Turquia (Anatólia/Ásia Menor). Estas cidades são: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia. O número mágico (sete-‘7’) que indica perfeição, plenitude… representa (no caso das sete igrejas) a totalidade da Igreja de Cristo.    

A – É natural que João (de avançada idade) se apresente como “companheiro nas tribulações” daqueles a quem escreve. Sabemos – pelo que ele indica e por outros registos paralelos – que o próprio João sofre agora a deportação na ilha de Patmos, após ter sido já torturado em Roma…

B – Os biblistas, especialistas neste género apocalíptico, coincidem em que esta classe de escritos, quer no AT (ex. livro do profeta Daniel) quer no NT (como é o caso deste Apocalipse) pertencem àquela literatura bíblica que aparece em épocas de perseguição, crise e/ou mortes violentas

A – Estamos, portanto, nos inícios das perseguições dos Cristãos pelos imperadores romanos, que se iniciaram com Nero (pelos anos 60 dC) e que se prolongariam por quase 300 anos. Na altura – após 20 anos já de perseguições – o apóstolo João está a ser ‘castigado’ e exilado por Domiciano.

B – Ele, então, começa a escrever, “inspirado (movido) pelo Espírito” para – nessa ‘conjuntura’ – tentar “revelar” os caminhos de Deus sobre o futuro, consolando e encorajando os justos que são perseguidos, iluminando-os, ao mesmo tempo, com a certeza da vitória final e da Glória futura

A – Conhecendo, pois, aquele anúncio de Jesus de Nazaré aos seus discípulos, «No mundo tereis tribulações. Mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»(Jo 16,33), enfrenta-se o que for preciso!

B – Observemos com atenção que esta situação crítica de ‘perseguições e mortes’, vivida nesses primeiros séculos pela Igreja de Cristo, está a ser “revelada” agora a João por Esse que é “Alguém semelhante a um filho do homem”, que “poisa nele a sua mão direita” para o libertar do “medo”!

A – Realmente, quem é capaz de fazer isso senão ‘Aquele’ que pode dizer: “Eu estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e do Hades (casa dos mortos)”?

A-B: Juntamos as nossas vozes e aleluias a essa ‘milícia celeste’ dos filhos de Deus,

“que ninguém pode contar”, para – no meio das nossas provações e mortes! – aclamar:

«Eis que chegou o tempo da salvação, da força e da realeza do nosso Deus

e do poder do seu Cristo! Porque foi precipitado ‘o Acusador’ dos nossos irmãos,

que os acusava diante de Deus, dia e noite… E todos clamam: Ámen! Aleluia!» (Ap 12). 

// PARA uma outra REFLEXÃO ALARGADA:

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