– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico – 

 (Ciclo C – Domingo 3 de PÁSCOA) 

«AMIGOS, AMIGOS… “NEGÓCIO” INCLUÍDO!»

  Tendo nós “mergulhado” – nas últimas Reflexões (da Eucaristia Dominical) – no Mar imenso da Misericórdia infinita de Deus Pai-Mãe… parece lógico continuarmos a aprofundar no AMOR, essa realidade essencial inesgotável… Até porque “Amor” e “Misericórdia” são inseparáveis (há quem diga que acabam por ser a mesma coisa!). E se, mais ainda, lembramos que “miseri-córdia” (‘miséria-coração’) significa isso mesmo, «pôr o “coração” (o Amor) sobre a “miséria” humana», então verificamos que – misericórdia e amor – são mutuamente inerentes.

Então, continuemos, como é hábito, a nossa “imersão” na Palavra dominical; neste caso, nos Textos bíblicos da Eucaristia do domingo 3 de Páscoa.

Imaginem que lançarmos a seguinte pergunta a “um amigo” – assim, sem mais, e por três vezes! – “Tu amas-me de verdade?”, essa pessoa ficaria, quando menos, espantada, e desde logo, metida num compromisso! Aliás, pergunta que aparece também “traduzida” deste jeito: «Tu és deveras meu amigo?»… Não admira, portanto, que a pessoa atingida comece a ficar triste e preocupada, quando se sente – sinceramente – amiga verdadeira daquela outra pessoa. E nós perguntamos: Será assim tão indispensável e necessário comprovar que esse amor seja (ou não) autêntico?

Vejamos. “…Jesus perguntou: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»… «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros»… Segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?»… «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Pergunta-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas”… (Jo 21 / 3ª L.). Tem razão o provérbio popular quando diz: «Amor com amor se paga». E, para que não haja dúvida, vai o aviso profético de Jesus a Pedro, na conclusão deste evangelho: “…Quando eras novo… mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me»” (Jo 21).

Está-se a ver porque é que este Amor deve ser verdadeiro, ou seja, de entrega total, “de oblação”. É que, sem essa classe de amor não é possível aceitar e assumir o sacrifício ou sofrimento – a cruz! – que vai exigir a «missão» confiada (a Pedro e a cada um de nós!): “Apascentar os Seus cordeiros… Apascentar as Suas ovelhas”!

Só um Amor de total entrega, sem condições, que, aliás, é conhecido como «amor oblativo» (o mais oposto aos amores egoístas e interesseiros de que o nosso mundo, infelizmente, está cheio)… só aquele amor será capaz de abraçar a difícil tarefa e «missão» de “pastorear ovelhas e cordeiros”, que são todos os Humanos, de qualquer origem, raça, cultura, estilo, posição… Porque, na verdade, é preciso muita energia interior – a energia e o vigor que surgem deste «amor-misericórdia» – para guiar, defender, procurar, abraçar, perdoar… e até “dar a vida pelo rebanho”, tal como fez e faz o Bom Pastor, que vai à nossa frente e nos acompanha sempre («Emanuel») “até ao fim dos tempos!”. Cá está, então, a nossa vocação e missão, o «negócio» da Salvação: a dos outros e a nossa. Agora se compreende que Jesus exija «Amigos, amigos… “negócio” incluído». Pois é requerido “aquele amor” para realizar «este negócio»! Um Amor “necessário” para um negócio “exigente”!

E já sabemos que, logo no início do cristianismo, aqueles primeiros discípulos de Jesus, capitaneados por Simão Pedro, começam a sofrer as primeiras consequências, pelo facto de serem coerentes com aquele compromisso firme de “amigos-amigos!”. “Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus” (At 5 / 1ª L.). É que, naquela altura em que tinham sido encarcerados e estavam a ser julgados, “Pedro e os outros Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens»”. E não se livraram da flagelação antes de serem soltos. Pedro, porém, tinha-lhes lançado em rosto: “O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador…»” (At 5). Esta Exaltação e Glória de Cristo são confirmadas no Apocalipse (da segunda leitura)como recompensa pela Sua Entrega Total, só por Amor: “…Miríades de miríades… em coro, clamavam em alta voz: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor»” (Ap 5 / 2ª L.).

Um Caminho semelhante, superando – como “eles” – os tragos e trances difíceis (“as cruzes”) é o que nós devemos percorrer para realizar essa «vocação-missão» de Amor, seguindo sempre de perto o nosso Bom Pastor, que «nos amou primeiro, e se entregou por nós» (1Jo 4, 10.19).

Aleluia, eu Te louvo e glorifico, Senhor,

porque sempre me salvas, Aleluia!

Porque Tu já me amavas de verdade

– muito antes de eu poder querer-Te –

desde a tua eterna Divindade

e não só no espaço da minha existência temporal…

Eu sei – nós sabemos – desde já,

que “amor exige amor” de igual maneira.

Sabemos que só com grande amor da nossa parte

poderemos “pagar” o Teu carinho imenso…

Amor que nos obriga e nos transforma

em “pastores amigos do rebanho”,

dedicados e doados aos irmãos, a todos,

alegres e contentes quando sofrendo por eles…

Sim, ó Pai, porque Tu convertes

o nosso pranto em júbilo e em festa

sempre que arrancas a nossa alma

da escuridão e do temor da morte…

O nosso amor por eles e por Ti

ultrapassa as lágrimas da noite,

pois sabemos que, ao amanhecer,

volta sempre a luz nova da alegria,

até ao «Dia-definitivo-sem-ocaso»…

[ do Salmo Responsorial / 29 (30) ]