– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 4 da Quaresma)

 

“…Mas ele (o filho mais velho) respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’»”. (Lc 15,29-32 / 3ª L).

 

Pode acontecer que, ao lermos esta parábola, notemos imediatamente a falta da “mãe” nesta ‘família’. Poderíamos imaginar simplesmente que a mãe ‘já tinha falecido’(?)… Porém, nós preferimos pensar que o «autor desta incomparável parábola, ‘insuperável’» – o próprio Jesus, o Filho de Deus – pretendia revelar que, na essência mesma do Pai-Deus, está o «ser Pai-Mãe indivisível». Se assim não fosse, como é que Ele podia ter “criado” – no mundo dos ‘humanos’ – o ser de “mãe” e o ser de “pai”?… Esta complementaridade entre a “mulher” e o “homem” constitui, decerto, a melhor maravilha da vida humana. (Embora – como seres livres – nem todos possam ou queiram (!?) compreender ou aceitar esta realidade).

 

A – Humanamente falando, pondo de lado a figura ‘materna’ pareceria ficar mais reforçada e relevante a figura do pai… No entanto, a verdadeira intenção do «autor» fica expressa na breve introdução anterior!

B – Ora, cingindo-nos ao texto, iremos notar e analisar a atitude do filho mais velho, tentando tirar – ainda que seja pela negativa – as lições que esta ‘personagem’ espelha para todos e cada um de nós…

A – Este filho começa por não concordar com a decisão do pai ao receber aqueloutro filho desse modo, até ao ponto de não querer entrar em casa para a festa, apesar de “o pai sair para instar com ele”

B – Numa primeira aproximação, pode parecer-nos que este filho teria uma certa razão. Pois “tantos anos como tinha servido ao pai…”; e precisamente “regressava do campo” de trabalhar! …

A – É um reflexo dos humanos quando entramos nesse ‘círculo mercantilista’ de exigir contrapartida por tudo o que ‘fazemos de bom’(!?). Isto, só nos leva a um egoísmo materialista e mesquinho…

B – A partir daí, deixam de existir os ‘laços de amizade’, de amor, que nos uniam às pessoas; até desaparecem os ‘laços de sangue’. (Sim, aquele que antes era ‘meu irmão’, agora é “esse teu filho(!)”)…

A – E reparemos, no entanto, que o pai tenta repor as coisas no seu lugar, ao responder-lhe, “porque este teu irmão” (em vez de ‘este meu filho’), como querendo restabelecer a “fraternidade” entre os ‘seus dois filhos’!

B – Aliás, é mesmo assim! E a nós, custa-nos tanto aceitar que o pai perdoe e reconcilie os filhos consigo – todos – !… Certamente porque também nós não queremos e não sabemos perdoar os irmãos!

A – Será preciso que o pai nos venha lembrar que nunca renunciará à sua paternidade com relação a nós: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu”?… Ora, isso sim: Sempre “filho”, apesar de tudo!

 

A-B: Terás de nos perdoar, Abbá (Pai-Mãe), por renegarmos(!) da “filiação” recebida

e também por termos renunciado(!) tantas vezes à nossa condição de “irmãos”…

Quando ‘fujamos’ como o filho mais novo: que nos lembremos sempre da Tua Casa;

e se nos revermos na situação do mais velho, ó Pai: que saibamos perdoar e amar

com a sinceridade e humildade necessárias para vivermos a nossa ‘fraternidade’.

    

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