
(Ciclo C – Domingo 11 do Tempo Comum)
ÉS PERDOADO, PARA PODERES AMAR!
Ninguém pode dizer, na verdade: Eu fiz isto ou aquilo, então mereço…! Isso poderia ser uma exigência atrevida para aquela pessoa que “pode dar-nos o que achamos merecer”… Porém, qualquer um pode objetar: Mas «o operário é merecedor do seu salário» e essa retribuição é de justiça. Tudo bem. Só que, com relação a Deus, as coisas acontecem numa outra dimensão, pelo facto de Ele pôr sempre a Misericórdia “por cima e antes” da Justiça – lembram-se? –. O que significa, como já sabemos, que a Justiça não se pode ignorar, pois está na base das relações humanas… Mas o Pai-Deus, que defende a Justiça, põe sempre à frente o Perdão (que é Amor) para que os seus filhos possam então «amar e merecer»… Se não for assim, qual seria então o sentido das palavras que Jesus dirige àquela mulher pecadora, para todos ouvirem? “São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7 / 3ª L.). Na própria “parábola” contada por Jesus («os dois devedores») fica bem esclarecido, para quem quiser entender.
Mesmo assim, essas últimas palavras de Jesus não deixam de ser enigmáticas à primeira vista. E até podemos dar-lhes uma interpretação errada se deduzirmos que Jesus lhe perdoa os pecados só porque ela amou muito. As palavras finais dão-nos a chave interpretativa para ver que a realidade é muito diferente; exatamente ao invés: «Porque ela se sente “muito perdoada” é que “muito ama”»! Onde estaria aqui então o merecimento prévio da parte dela? Não existe. E fica claro que, “para Deus em Cristo Jesus”, primeiro é «o Amor que Perdoa» e depois todo o resto que, então sim, já poderá depender mais de nós!
Por conseguinte, nós, no meio disto, onde é que nos colocamos? Desde logo, a nossa atitude não pode ser a de quem se apresenta diante do «credor» como quem não é «devedor», porque tal não seria justo (e a justiça, dizíamos, deve estar na base de tudo). Utilizando aquela «parábola», “Jesus continua: «Certo credor tinha dois devedores… Qual deles ficará mais seu amigo?». Respondeu Simão: «Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou». Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem»…(Lc 7 / 3ª L.). Mas, se bem o pensamos, temos de reconhecer que nós costumamos ir pela vida adotando atitudes de exigência por aquilo que julgamos “merecimentos pessoais”… Acontece, contudo, que quando Deus nos ama e perdoa – ou nos perdoa porque nos ama – está a dar-nos muito mais do que aquilo que “achamos merecer”…
Como deveria ser então a nossa conduta neste “campo”? A Palavra desta Eucaristia continua a dar-nos algumas pistas precisas e claras.
Desde logo, uma postura de humildade e arrependimento, à semelhança do rei David, que, perante o profeta Natã, não tem outra saída senão reconhecer arrependido o seu pecado: “Então David disse a Natã: «Pequei contra o Senhor». Natã respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado…»”. (2 Sm 12 / 1ª L.). E sabemos que este humilde e sincero “clamor” de um David arrependido e contrito inspirou aquele Salmo maravilhoso de sincera conversão [Sl 50(51)], conhecido como «o Miserere». E quantas vezes temos nós de seguir o exemplo de humildade e contrição deste “amigo de Deus” e profeta-rei!
Reconhecida e louvada até pelos seus inimigos, uma atitude de Jesus de Nazaré, que chamava a atenção, é que “nunca fazia aceção (discriminação) de pessoas”. Aparece evidente no episódio de hoje com a mulher pecadora… Quando parece que todos louvam Simão, o fariseu, por ter convidado Jesus, enquanto desprezam aquela “indigna mulher” (que veio estragar a festa), Jesus põe as coisas no seu lugar!… Não é verdade que nós – quantas vezes! – julgamos, e tratamos, às pessoas do nosso entorno consoante o “apreço” ou a “indiferença” (quando não o “desapreço”) que nos merecem?… Se assim for, temos um caminho a percorrer como discípulos de Jesus, a quem, é suposto, devemos imitar!
Paulo, por seu lado, não tem dúvida no que diz respeito a questões relativas à nossa postura perante “a lei” ou perante “a fé”… Para não haver confusões, ele opta pelo “amor”; e após demonstrar, na sua Carta, que onde há “fé e amor” já não tem razão de ser “a lei” (que “distingue”, julga ou condena), lança, para todos, este desafio exemplar: “Com Cristo estou crucificado. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2 / 2ª L.). E esta deve ser também a nossa “meta”!
Bastou eu pensar “Vou confessar a minha falta”,
e logo senti o Teu perdão para a minha culpa…
Bem sabemos, Senhor, que, ao perdoares,
“nunca fazes aceção de pessoas”,
porque o Pai amoroso que Tu és
não pode “discriminar” os Seus filhos…
Assim, satisfeitos e confiantes no Teu Amor,
continuamos a cantar e louvar, neste Salmo:
Feliz daquele que se sente perdoado,
e é leal, humilde e sincero com o Senhor:
esse viverá tranquilo e sossegado
como a criança ao colo da mãe…
Felizes os que podem alegrar-se no Pai-Deus
ao sentirem-se em segurança no meio dos perigos!
Alegrai-vos, ó justos, e regozijai-vos no Senhor;
exultai, todos os que sois retos de coração!…
[ do Salmo Responsorial / 31 (32) ]
11 Junho, 2016
ÉS PERDOADO, PARA PODERES AMAR!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 11 do Tempo Comum)
ÉS PERDOADO, PARA PODERES AMAR!
Ninguém pode dizer, na verdade: Eu fiz isto ou aquilo, então mereço…! Isso poderia ser uma exigência atrevida para aquela pessoa que “pode dar-nos o que achamos merecer”… Porém, qualquer um pode objetar: Mas «o operário é merecedor do seu salário» e essa retribuição é de justiça. Tudo bem. Só que, com relação a Deus, as coisas acontecem numa outra dimensão, pelo facto de Ele pôr sempre a Misericórdia “por cima e antes” da Justiça – lembram-se? –. O que significa, como já sabemos, que a Justiça não se pode ignorar, pois está na base das relações humanas… Mas o Pai-Deus, que defende a Justiça, põe sempre à frente o Perdão (que é Amor) para que os seus filhos possam então «amar e merecer»… Se não for assim, qual seria então o sentido das palavras que Jesus dirige àquela mulher pecadora, para todos ouvirem? “São-lhe perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7 / 3ª L.). Na própria “parábola” contada por Jesus («os dois devedores») fica bem esclarecido, para quem quiser entender.
Mesmo assim, essas últimas palavras de Jesus não deixam de ser enigmáticas à primeira vista. E até podemos dar-lhes uma interpretação errada se deduzirmos que Jesus lhe perdoa os pecados só porque ela amou muito. As palavras finais dão-nos a chave interpretativa para ver que a realidade é muito diferente; exatamente ao invés: «Porque ela se sente “muito perdoada” é que “muito ama”»! Onde estaria aqui então o merecimento prévio da parte dela? Não existe. E fica claro que, “para Deus em Cristo Jesus”, primeiro é «o Amor que Perdoa» e depois todo o resto que, então sim, já poderá depender mais de nós!
Por conseguinte, nós, no meio disto, onde é que nos colocamos? Desde logo, a nossa atitude não pode ser a de quem se apresenta diante do «credor» como quem não é «devedor», porque tal não seria justo (e a justiça, dizíamos, deve estar na base de tudo). Utilizando aquela «parábola», “Jesus continua: «Certo credor tinha dois devedores… Qual deles ficará mais seu amigo?». Respondeu Simão: «Aquele – suponho eu – a quem mais perdoou». Disse-lhe Jesus: «Julgaste bem»…(Lc 7 / 3ª L.). Mas, se bem o pensamos, temos de reconhecer que nós costumamos ir pela vida adotando atitudes de exigência por aquilo que julgamos “merecimentos pessoais”… Acontece, contudo, que quando Deus nos ama e perdoa – ou nos perdoa porque nos ama – está a dar-nos muito mais do que aquilo que “achamos merecer”…
Como deveria ser então a nossa conduta neste “campo”? A Palavra desta Eucaristia continua a dar-nos algumas pistas precisas e claras.
Desde logo, uma postura de humildade e arrependimento, à semelhança do rei David, que, perante o profeta Natã, não tem outra saída senão reconhecer arrependido o seu pecado: “Então David disse a Natã: «Pequei contra o Senhor». Natã respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado…»”. (2 Sm 12 / 1ª L.). E sabemos que este humilde e sincero “clamor” de um David arrependido e contrito inspirou aquele Salmo maravilhoso de sincera conversão [Sl 50(51)], conhecido como «o Miserere». E quantas vezes temos nós de seguir o exemplo de humildade e contrição deste “amigo de Deus” e profeta-rei!
Reconhecida e louvada até pelos seus inimigos, uma atitude de Jesus de Nazaré, que chamava a atenção, é que “nunca fazia aceção (discriminação) de pessoas”. Aparece evidente no episódio de hoje com a mulher pecadora… Quando parece que todos louvam Simão, o fariseu, por ter convidado Jesus, enquanto desprezam aquela “indigna mulher” (que veio estragar a festa), Jesus põe as coisas no seu lugar!… Não é verdade que nós – quantas vezes! – julgamos, e tratamos, às pessoas do nosso entorno consoante o “apreço” ou a “indiferença” (quando não o “desapreço”) que nos merecem?… Se assim for, temos um caminho a percorrer como discípulos de Jesus, a quem, é suposto, devemos imitar!
Paulo, por seu lado, não tem dúvida no que diz respeito a questões relativas à nossa postura perante “a lei” ou perante “a fé”… Para não haver confusões, ele opta pelo “amor”; e após demonstrar, na sua Carta, que onde há “fé e amor” já não tem razão de ser “a lei” (que “distingue”, julga ou condena), lança, para todos, este desafio exemplar: “Com Cristo estou crucificado. Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2 / 2ª L.). E esta deve ser também a nossa “meta”!
Bastou eu pensar “Vou confessar a minha falta”,
e logo senti o Teu perdão para a minha culpa…
Bem sabemos, Senhor, que, ao perdoares,
“nunca fazes aceção de pessoas”,
porque o Pai amoroso que Tu és
não pode “discriminar” os Seus filhos…
Assim, satisfeitos e confiantes no Teu Amor,
continuamos a cantar e louvar, neste Salmo:
Feliz daquele que se sente perdoado,
e é leal, humilde e sincero com o Senhor:
esse viverá tranquilo e sossegado
como a criança ao colo da mãe…
Felizes os que podem alegrar-se no Pai-Deus
ao sentirem-se em segurança no meio dos perigos!
Alegrai-vos, ó justos, e regozijai-vos no Senhor;
exultai, todos os que sois retos de coração!…
[ do Salmo Responsorial / 31 (32) ]