33b- «A serpente, Belzebu, Satanás…»

(Ciclo B – Domingo 10 do T. Comum…) 

«A SERPENTE, BELZEBU, SATANÁS…»

O homem pode ser mau, a mulher também… mas sempre “por arrastamento”, nunca por iniciativa própria ou por uma malícia essencial ou inerente ao seu ser, pois eles saíram puros das “mãos” de Deus. Aliás, Deus não “podia” nem “pode” criar coisa imperfeita!

Quer dizer, o ser humano “orienta-se” para o mal e “o faz” só porque alguém – essa “rede” de forças negativas que o envolve agindo também desde o interior – procura “tentá-lo”, como se está a ver, já desde as origens da humanidade: “O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?». E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi»”.(Gn 3). «A serpente enganou-me», aí está a “tentação”! Claro que “a pessoa” (homem, mulher) teve de reconhecer: «E eu comi». Não teria a pessoa comido, e a tentação ficava sem efeito!…

Porém, quando nos abrimos ao “engano tentador” e aceitamos a sedução desviada… aparecem seguidamente as consequências pertinentes: “Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens. Hás de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida…»” (Gn 3 / 1ª  L.). Claro que, sabemo-lo todos, o castigo para a serpente – coitada! – é apenas como que “uma projeção” dos castigos que deverão vir sobre nós: o homem, “trabalhar a terra difícil com o suor do seu rosto”… a mulher, “dar à luz com as dores da maternidade”…, etc.

E, no que diz respeito a Jesus de Nazaré, qual foi a sua atitude e a sua palavra sobre esta questão? Na Palavra de hoje, do Evangelho, Ele mostra-nos como devemos lidar com os poderes do Mal. No relato, é suposto terem surgido, no comportamento de Jesus, algumas atitudes um tanto “estranhas”, que foram interpretadas, pela gente em geral e pelos seus familiares em particular, como que “estava fora de Si” (diríamos hoje, como que ‘não se controlava’); e a interpretação “dos escribas” era que estava mesmo “endemoninhado”(!). “Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «Está fora de Si». Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu»; e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios»”. Jesus, como é seu costume, começa por não negar “diretamente” esta grave acusação. Mas, “começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se. E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode durar…” (Mc 3 / 3ª L.). Afinal, Jesus era “dono e senhor de Si mesmo”, e queria alertar-nos acerca de não nos deixarmos envolver pela tentação “diabólica” que sempre intenta criar a “divisão entre nós” (‘diábolo’=dividir). E também, ao demonstrar que “o reino de Satanás está dividido”, apresenta-nos mais um argumento a favor do fracasso final “das forças do inferno, do poder do Maligno, que não prevalecerão contra a Sua Igreja” (Mt 16,18), ou seja, contra todos os filhos de Deus, fiéis seguidores do Bem.

Isso quer dizer que se essa “rede de forças negativas” que, desde logo, aparecem “personificadas” de variadíssimas formas (Satanás, Belzebu, Maligno, diabo, demónio, “serpente”… ) e através de mil “circunstâncias” ou de outros “seres humanos” tentadores e diabólicos… se essas forças – repetimos – não conseguirem “curvar” e dominar a nossa vontade livre, então nós ficaremos a salvo e vitoriosos! Em definitivo, tudo depende de nós!

Por isso, em toda esta luta terrena e temporal, nunca teremos motivos justificáveis para perdermos a fé e a esperança, porque, como diz Paulo, “ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia”. E acrescenta, para aumentar a nossa firme confiança e sincera alegria: “A ligeira aflição de um momento, prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos, pois, para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas”. (2 Cor 4 / 2ª L.).

 

Do abismo profundo do meu pecado

chamo por Ti, Senhor: escuta a minha voz!

Desde o abismo das nossas tentações

– que vêm do exterior ou do interior,

que são inesperadas ou provocadas –

elevamos a Ti o nosso clamor,

porque estás atento à nossa angústia!

É que se, voluntaria e livremente,

nos deixamos envolver pelas forças do mal,

e permitimos que o tentador nos domine,

então o erro e o pecado tomarão conta de nós

e o Maligno será o nosso colega de viagem…

Deste novo abismo profundo,

só Tu, ó Pai, nos podes salvar,

pois só em Ti está a misericórdia,

e em Ti, Senhor Deus, encontramos,

pelo Amor de Jesus, abundante redenção

Por Ele e n’Ele, que é o nosso verdadeiro Redentor,

podemos  elevar esta oração confiante:

«Se tiveres em conta os nossos pecados,

Senhor e Pai nosso, quem poderá salvar-se?

Mas em Ti está sempre o perdão,

para confiarmos na Tua misericórdia!»

                     [ do Salmo Responsorial / 129 (130) ]