
(Ciclo C – Domingo 4 do T. Comum… )
COMO NUMA «REDE»… SEM FIM!
Toda a gente sabe o que é o “umbigo” em termos biológicos. Pois é isso exatamente, ou seja, a “cicatriz” que fica – em todos os humanos –, a “marca” do que foi o “cordão umbilical”, que é testemunha permanente, de geração em geração, como prova verídica, em todo o momento, de que alguma vez estivemos solidamente unidos (“solidários”) com um outro ser humano (a nossa “mãe”)… E – olhem que curioso! – a pensar nesta realidade, acontece-me que, por vezes, surpreendo-me imaginando (ou “idealizando”) num Universo imenso, sem fim, como que enchendo tudo – e a pairar no espaço etéreo – uma multidão imensa de «ninfas» e «fadas» (também de «sátiros» marginais!) todas elas (as fadas e as ninfas) unidas entre si (porque “mães”) pelos “cordões umbilicais”, para formar uma espécie de «rede ilimitada», onde todos (também os “sátiros” das margens) permanecemos “enredados”!…
E perguntamo-nos: será devido a esta “realidade” o facto de todos termos essa íntima tendência a regressarmos ao “nosso umbigo”, refugiarmo-nos no “centro mesmo” de nós próprios, ignorando ou esquecendo todo o resto? Será isso, talvez, que nos transforma em ego-cêntricos, egoístas, individualistas?…
A verdade é que – na “origem” – todos surgimos de um umbigo «no seio materno», mas, logo ali mesmo, recebemos uma “vocação”, como que uma “indelével cicatriz”, que nos projeta para o exterior, o periférico, o universal, o infinito… “«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações…»” (Jr 1 / 1ª L.). Isto é, todos devemos ser “profetas entre as nações… até aos confins” do ‘sem fim’, do que não tem fronteiras!
Até o próprio Jesus de Nazaré – o Profeta dos profetas – foi posto na tentação, para que, de algum modo, retornasse ao “seu umbigo”, neste caso à sua terra natal de Nazaré. E já sabemos como foi, naquela altura, a Sua resposta e a Sua atitude. “Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. «Faz também aqui, na tua terra, o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra…»” (Lc 4). E para que não restem dúvidas acerca da «Vocação universal» do “filho de José, o carpinteiro”, lembra-lhes, num certo tom de ironia e sarcasmo, dois acontecimentos históricos das Escrituras Sagradas: “…Havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias… contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia”… “Havia em Israel muitos leprosos… mas apenas foi curado por Eliseu o leproso sírio, Naamã»…” (Lc 4 / 3ª L.).
Fica então bem clara a Vocação de Jesus e de todos os que – em todo o tempo e lugar – serão Seus discípulos: Caminhar em direção às periferias, por terras estrangeiras marginais, ultrapassando fronteiras, até aos confins de uma missão ‘sem fim’, e que, portanto, nunca pode acabar! [Aliás, o nosso Papa Francisco tenta deixar isto bem claro e assente nas suas palavras e atitudes]. Por isso, o desfecho desse enfrentamento do «filho do carpinteiro» com os seus conterrâneos, quando tentavam prendê-lo nas suas redes, não podia ser outro que este: “…Quando eles estavam prestes a lançá-l’O por um precipício… Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”. (Lc 4 / 3ª L.). É verdade: Ele tinha sido enviado para “seguir o seu Caminho”, para levar a Missão de Salvação a toda a parte, e chegar a todo o ser vivente…
Mas não é menos verdade que, após a Sua “saída visível” deste mundo, o Messias, Cristo, tem de continuar a Missão Salvadora através dos Seus discípulos, os «cristãos» e todos os homens de boa vontade. Para tal, cada um de nós deve encontrar “o seu caminho”, no melhor seguimento de Jesus nessa Vocação-Missão. Acontece que S. Paulo, o discípulo e grande “missionário” das gentes, apaixonado e fiel seguidor do seu Mestre, deixa-nos a sua dilatada experiência – neste campo do “Caminho” e dos “caminhos” – no famosíssimo capítulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios. (Seria bom lermos hoje, na íntegra, esta 2ª Leitura da Eucaristia, e refletirmos – orarmos – sobre ela). Aqui e agora, ficam apenas alguns “extractos”:
“Vou mostrar-vos um caminho de perfeição (o caminho melhor) que ultrapassa tudo… A caridade (o Amor) tudo desculpa… tudo crê, …tudo espera, …tudo suporta… A caridade não acaba nunca… Quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá… Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”. (1 Cor 13 / 2ª L.). Quer dizer, se a caridade (Amor) é a única realidade ilimitada – no espaço e no tempo – que “tudo crê, espera e suporta”, que tudo cria, transforma e salva… também não pode ter fim o “caminho missionário” expansivo, que esse Amor inspira e impele, COMO NUMA ‘REDE’… SEM FIM!
Em Ti, Senhor, eu me refugio,
Tu és a fortaleza da minha salvação;
a minha boca proclamará a Tua justiça,
porque és para mim um refúgio seguro…
“Antes de me formares no ventre materno,
Tu já me tinhas escolhido e consagrado”;
no seio da mãe, “ungiste-me” para me enviar…
Como fruto do Teu Amor, ó Pai,
o meu “ser” já tinha um destino traçado;
um destino de amor e de entrega aos outros…
E porque desde a juventude Tu me ensinaste,
eu anunciarei sempre os Teus prodígios,
levando comigo esta vocação e missão,
que me confiaste para a salvação de todos
– aliás, «sendo ‘missão’» eu próprio – …
Ajuda-me, Pai, para que eu seja sempre fiel
a esta “vocação de amor e por amor”;
a esse “amor” que tudo crê e tudo desculpa;
a esse “amor” que tudo espera e tudo suporta;
a esse “amor” que há de permanecer sempre,
quando todo o resto passará necessariamente…
Por isso, os meus lábios, Senhor, meu Deus,
anunciarão a Tua Salvação eternamente!
[ do Salmo Responsorial / 70 (71) ]
1 Fevereiro, 2019
COMO NUMA «REDE»… SEM FIM!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 4 do T. Comum… )
COMO NUMA «REDE»… SEM FIM!
Toda a gente sabe o que é o “umbigo” em termos biológicos. Pois é isso exatamente, ou seja, a “cicatriz” que fica – em todos os humanos –, a “marca” do que foi o “cordão umbilical”, que é testemunha permanente, de geração em geração, como prova verídica, em todo o momento, de que alguma vez estivemos solidamente unidos (“solidários”) com um outro ser humano (a nossa “mãe”)… E – olhem que curioso! – a pensar nesta realidade, acontece-me que, por vezes, surpreendo-me imaginando (ou “idealizando”) num Universo imenso, sem fim, como que enchendo tudo – e a pairar no espaço etéreo – uma multidão imensa de «ninfas» e «fadas» (também de «sátiros» marginais!) todas elas (as fadas e as ninfas) unidas entre si (porque “mães”) pelos “cordões umbilicais”, para formar uma espécie de «rede ilimitada», onde todos (também os “sátiros” das margens) permanecemos “enredados”!…
E perguntamo-nos: será devido a esta “realidade” o facto de todos termos essa íntima tendência a regressarmos ao “nosso umbigo”, refugiarmo-nos no “centro mesmo” de nós próprios, ignorando ou esquecendo todo o resto? Será isso, talvez, que nos transforma em ego-cêntricos, egoístas, individualistas?…
A verdade é que – na “origem” – todos surgimos de um umbigo «no seio materno», mas, logo ali mesmo, recebemos uma “vocação”, como que uma “indelével cicatriz”, que nos projeta para o exterior, o periférico, o universal, o infinito… “«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações…»” (Jr 1 / 1ª L.). Isto é, todos devemos ser “profetas entre as nações… até aos confins” do ‘sem fim’, do que não tem fronteiras!
Até o próprio Jesus de Nazaré – o Profeta dos profetas – foi posto na tentação, para que, de algum modo, retornasse ao “seu umbigo”, neste caso à sua terra natal de Nazaré. E já sabemos como foi, naquela altura, a Sua resposta e a Sua atitude. “Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. «Faz também aqui, na tua terra, o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra…»” (Lc 4). E para que não restem dúvidas acerca da «Vocação universal» do “filho de José, o carpinteiro”, lembra-lhes, num certo tom de ironia e sarcasmo, dois acontecimentos históricos das Escrituras Sagradas: “…Havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias… contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia”… “Havia em Israel muitos leprosos… mas apenas foi curado por Eliseu o leproso sírio, Naamã»…” (Lc 4 / 3ª L.).
Fica então bem clara a Vocação de Jesus e de todos os que – em todo o tempo e lugar – serão Seus discípulos: Caminhar em direção às periferias, por terras estrangeiras marginais, ultrapassando fronteiras, até aos confins de uma missão ‘sem fim’, e que, portanto, nunca pode acabar! [Aliás, o nosso Papa Francisco tenta deixar isto bem claro e assente nas suas palavras e atitudes]. Por isso, o desfecho desse enfrentamento do «filho do carpinteiro» com os seus conterrâneos, quando tentavam prendê-lo nas suas redes, não podia ser outro que este: “…Quando eles estavam prestes a lançá-l’O por um precipício… Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”. (Lc 4 / 3ª L.). É verdade: Ele tinha sido enviado para “seguir o seu Caminho”, para levar a Missão de Salvação a toda a parte, e chegar a todo o ser vivente…
Mas não é menos verdade que, após a Sua “saída visível” deste mundo, o Messias, Cristo, tem de continuar a Missão Salvadora através dos Seus discípulos, os «cristãos» e todos os homens de boa vontade. Para tal, cada um de nós deve encontrar “o seu caminho”, no melhor seguimento de Jesus nessa Vocação-Missão. Acontece que S. Paulo, o discípulo e grande “missionário” das gentes, apaixonado e fiel seguidor do seu Mestre, deixa-nos a sua dilatada experiência – neste campo do “Caminho” e dos “caminhos” – no famosíssimo capítulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios. (Seria bom lermos hoje, na íntegra, esta 2ª Leitura da Eucaristia, e refletirmos – orarmos – sobre ela). Aqui e agora, ficam apenas alguns “extractos”:
“Vou mostrar-vos um caminho de perfeição (o caminho melhor) que ultrapassa tudo… A caridade (o Amor) tudo desculpa… tudo crê, …tudo espera, …tudo suporta… A caridade não acaba nunca… Quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá… Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”. (1 Cor 13 / 2ª L.). Quer dizer, se a caridade (Amor) é a única realidade ilimitada – no espaço e no tempo – que “tudo crê, espera e suporta”, que tudo cria, transforma e salva… também não pode ter fim o “caminho missionário” expansivo, que esse Amor inspira e impele, COMO NUMA ‘REDE’… SEM FIM!
Em Ti, Senhor, eu me refugio,
Tu és a fortaleza da minha salvação;
a minha boca proclamará a Tua justiça,
porque és para mim um refúgio seguro…
“Antes de me formares no ventre materno,
Tu já me tinhas escolhido e consagrado”;
no seio da mãe, “ungiste-me” para me enviar…
Como fruto do Teu Amor, ó Pai,
o meu “ser” já tinha um destino traçado;
um destino de amor e de entrega aos outros…
E porque desde a juventude Tu me ensinaste,
eu anunciarei sempre os Teus prodígios,
levando comigo esta vocação e missão,
que me confiaste para a salvação de todos
– aliás, «sendo ‘missão’» eu próprio – …
Ajuda-me, Pai, para que eu seja sempre fiel
a esta “vocação de amor e por amor”;
a esse “amor” que tudo crê e tudo desculpa;
a esse “amor” que tudo espera e tudo suporta;
a esse “amor” que há de permanecer sempre,
quando todo o resto passará necessariamente…
Por isso, os meus lábios, Senhor, meu Deus,
anunciarão a Tua Salvação eternamente!
[ do Salmo Responsorial / 70 (71) ]