29cc- «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança...

– A PALAVRA, refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 6 do T. Comum)

“Isto diz o Senhor: Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor. Será como o cardo na estepe … Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água… que não deixará de produzir os seus frutos”. (Jr 17,5-8 / 1ª L).

 

Tal como nos tempos atuais, em todas as ‘Idades do Homem’ e, portanto, também no AT bíblico, era comum lançar maldições sobre aquele ‘indivíduo’ que se julgasse culpado por alguma ‘maldade’… Não admira que aqui, o profeta ponha na boca de Deus um termo tão forte (‘maldito’) que era utilizado pelas pessoas, umas contra as outras… E notemos, aliás, que este texto pertence à primeira parte do livro de Jeremias, isto é, ao conjunto de «Oráculos dirigidos ao povo de Deus». Logicamente, em oposição, aparece, logo a seguir, o termo “bendito”… Veremos, no entanto, que o termo “maldito” não tem aqui, precisamente, o sentido de ‘maldizer’!

 

A – É fundamental em qualquer reflexão tentar esclarecer o sentido dos termos confusos. ‘Homem’ e ‘carne’, tal como ‘maldito’ e ‘bendito’, ou ‘cardo’ e ‘estepe’, requerem alguma explicação prévia…

B – Sabemos que carne, por vezes, é tomado como equivalente de homem, como é o caso presente. Noutros casos, nomeadamente no campo espiritual, ‘carne’ seria um termo contraposto a ‘espírito’.

A – Quanto a ‘maldito’, é verdade que, no texto, não tem o sentido de amaldiçoar ou maldizer outra pessoa. Isso seria impensável – impossível – na boca e na intenção de Deus!…

B – Aqui tem simplesmente o significado e objetivo de avisar ou prevenir dos perigos e nefastas consequências que, para o futuro do tal indivíduo, terá a sua atitude/conduta de confiar só na carne.

A – Isso supõe que, se ele mudar, essa ‘pseudo-maldição’ terá tido um efeito positivo e frutífero: “Não deixará de produzir os seus frutos”, como se diz do homem (“bendito”) que só confia em Deus!

B – Se repararmos bem nos diversos vocábulos, ao dizer “põe na carne toda a sua esperança” ao tempo que “afasta o seu coração do Senhor”, é porque, ao colocar “toda” a sua esperança no homem, já não tem esperança em Deus, e assim, o seu coração vive afastado do Senhor.

A – Não é que se negue, de maneira nenhuma, a virtude da confiança mútua (ou ‘esperança’) que deve existir nas relações humanas, entre pessoa e pessoa, tal como Deus concebeu e criou. Ora, na verdade, se não existir esse ambiente de confiança humana é porque não há confiança em Deus.

B – Por isso diz “bendito quem confia no Senhor e põe n’Ele a sua esperança” porque “é como a árvore plantada à beira da água”, que “sempre produzirá os seus frutos”… E entre estes “frutos” está precisamente a confiança mútua entre os homens, como verdadeiros irmãos que somos. (Ou não?).

A – Não aconteça, infelizmente, que se transforme a nossa sociedade numa “estepe” (ou deserto) onde sejamos como “cardos”, que só oferecem puas e espinhos, em vez de harmonia e confiança!

 

A-B: Apesar dos ‘desenganos’, Jesus, por nos termos apoiado só nas ‘forças humanas’

– pensando que, nessas ‘aparentes fortalezas’ da carne, estava a nossa salvação –

ainda continuamos a preferir, por vezes, as ‘coisas palpáveis’, onde pomos o coração,

em vez de confiar sempre e plenamente na Bondade omnipotente do Pai-Deus.

Ajuda-nos, Jesus, a seguir a Tua atitude e as Tuas palavras, para aprendermos

a pôr sempre a nossa “esperança confiada” na Providência Divina que nos envolve,

pois “valemos mais do que os lírios e os passarinhos, que também o Pai alimenta”.  

                   

 // PARA uma outra REFLEXÃO ALARGADA: http://palavradeamorpalavra.sallep.net