FILE - In this Dec. 27, 1983 file photo provided by Vatican newspaper L'Osservatore Romano, Pope John Paul II, left, meets Mehmet Ali Agca, in Agca's prison cell in Rome. The Vatican says the Turk who shot and wounded John Paul II in 1981 has laid flowers on the saint's tomb in St. Peter's Basilica. A Vatican spokesman, the Rev. Ciro Benedettini, said the surprise visit Saturday by Mehmet Ali Agca lasted a few minutes. As with other flowers left by visitors to the tomb, the white blossoms were later removed by basilica workers. John Paul visited the incarcerated Agca in 1983 and later intervened with Italian authorities to gain Agca's release in 2000 from the Italian prison where he was serving a life sentence for the assassination attempt in St. Peter's Square. (AP Photo/L'Osservatore Romano, File)

 (Ciclo C – Domingo 7 do T. Comum… ) 

A «ESSÊNCIA» … DA VIDA CRISTÃ!

“A «essência» … (haverá quem assim pense) só pode ser o Amor”. É verdade. E, mais ainda, se alguma doutrina não começar, continuar e concluir no Amor, desde logo, nada terá a ver com Cristo nem com a vida Cristã…  Agora vamos ver!

Retomemos, antes, o Evangelho da semana anterior. Nessa altura, Jesusde Nazaré, uma vez acabada a proclamação do “programa das bem-aventuranças” e as correspondentes ‘imprecações’ (ou ‘ais’), deseja continuar a esclarecer e aprofundar o “tema”… Ele sabia que, perante este ‘programa’ inesperado e radical, entre os ouvintes – “do agora” e “do sempre” – haveria, seguramente, os que acham esta doutrina demasiado exigente para lá chegar (“palavras duras”?)… e os que, insatisfeitos, vão querer ainda aprofundar, ou seja, saber ‘o porquê’ e ‘o até onde’… Pois, talvez para satisfazer uns e outros – ou, quiçá, para aumentar a sua ‘perplexidade’ – Jesus prossegue a sua explicação, “demorada e calma”; porém, sem abandonar o seu estilo direto e radical…

Não esqueçamos que Jesus escolhe, para esta exposição, um local apropriado, na ladeira de um monte baixo, que forma uma espécie de “anfiteatro natural”. (É o “espaço geográfico” que a tradição localizou e assinalou bem perto da margem norte-ocidental do mar da Galileia). Assim, toda aquela gente pode ouvir, embora só os mais próximos – “os discípulos” – seriam capazes de captar todos os ‘apartes’ e pormenores…

“Amai os vossos inimigos!”. É o primeiro ‘clamor imperativo’ que se ouve e que mantém em suspenso a atenção de toda aquela multidão. Sim, parece um mandato mais do que um desejo ou um conselho. E, desde logo, é a primeira vez que esta “novidade” se escuta, desde que o mundo é mundo, em qualquer parte do orbe terráqueo! Aliás, para que não haja a menor dúvida, vai repetindo, com as mesmas ou com parecidas palavras: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam”… E depois de lembrar aquilo que até agora era considerado como “bom”, normal e natural – ‘amar só aos amigos, querer somente aos que nos amam, fazer bem apenas aos que nos favorecem’… – então Jesus contrapõe, e repete: “Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem… sem nada esperar em troca”. E até tem introduzido, como de passagem, no meio da explicação, a chamada «regra de ouro»: «Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também».

Falta, no entanto, “o porquê” ou a causa desta “reviravolta”, desta viragem ou nova maneira de pensar e de agir que Jesus exige – desde já – a quem quiser segui-l’O como discípulo e amigo. É aí que Jesus quer chegar! E cá está: “Porque assim, sereis filhos do Altíssimo, que é bom até para os ingratos e os maus”… Ou, se quiserem, outra vez na forma duma ‘ordem imperativa’: “«Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso»”

E a conclusão desta parte, não deixa de ser interessante e um tanto “gráfica”: “«A ‘medida’ que usardes com os outros será usada também convosco»” (Lc 6 / 3ª L).

Imaginem agora que, quando chegar «a hora da Verdade», vamos ‘aparecer’ todos, cada qual com a sua «medida», a mesma que tivermos usado para os outros. Nessa altura, não vai ser preciso alguém “julgar-nos” ou advertir-nos seja lá o que for. Simplesmente, cada um de nós vai poder encher essa ‘medida’ com a Felicidade-Amor (!?) correspondente… E então!… Por isso – lembram-se? – dizíamos numa outra altura que, “naquele Dia”, quem nos julgará será a Palavra (que é como dizer a ‘medida’). E mais ninguém!

Acontece que, ao falarmos da Vida Cristã e da ‘medida da sua perfeição’ (e já agora, o mesmo termo com essa outra aceção) então, essa ‘medida’ ou limite, é o Amor misericordioso de Deus Pai: “Sede misericordiosos como o vosso Pai”. Quer dizer, o “modelo” a seguir é, nada menos, o nosso Pai Deus!… E, para os mais exigentes, aí estão o ‘porquê’ e o ‘até onde’!

Claro que temos outros paradigmas ou “modelos menores” de conduta neste campo da fidelidade ao Amor Misericordioso, que nos animam a seguir por este caminho do Perdão sem limites… Temos, nomeadamente, o exemplo que nos dá – ainda no AT/1ª L. – o jovem David, amigo de Deus… Naquela altura, ele não quis atentar contra a vida do seu inimigo Saul que tinha intentado matá-lo em várias ocasiões; isto, apesar de que o seu colega Abisaí lhe instava a fazê-lo, como um “ato de justiça”. David disse-lhe: “Não o matarei…”. E falando ao próprio Saul, já no fim do relato, diz: “…O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade. Ele entregou-te hoje nas minhas mãos, e eu não quis atentar contra ti»”. (1Sm 26 / 1ª L.). Não podemos esquecer o exemplo do Papa João Paulo II, que visitou na prisão – para levar o seu perdão! – aquele homem (Ali Ackan) que o atingira gravemente no atentado (1981).

E temos, enfim, o exemplo de S. Paulo – o grande convertido pelo próprio Jesus – que conhecia e vivia a doutrina do Evangelho de Cristo, e instava aos cristãos de Corinto, e a nós todos, a percorrermos o caminho que vai transformando o nosso “homem terreno” em “homem espiritual e celeste”. Porque, diz ele: “o homem que veio do Céu – referindo-se a Cristo Jesus – é o modelo dos homens celestes”. (1Cor 15 / 2ª L.). Então, afinal, como se vê, o nosso modelo é o próprio Cristo Jesus, além do Pai, evidentemente!

 

É verdade, Senhor, toda a gente sincera sabe

que Tu és um Deus clemente e cheio de compaixão

Basta pararmos a pensar por um momento,

e logo descobrimos, em cada um de nós,

os Teus incontáveis dons, carismas e favores

Por isso, devemos proclamar, com todos os fiéis,

que nunca esqueceremos

nenhum dos Teus benefícios!

Mas não podemos ficar sempre assim,

na contemplação e louvor da Tua Bondade;

é preciso descer do “monte Tabor”

para, na vida e na luta de todos os dias,

“nos transformarmos” realmente, ó Pai!

Tu que és clemente e cheio de compaixão

e não nos tratas segundo as nossas culpas,

faz com que aprendamos a ser pacientes

e cheios de bondade para com todos,

até que aprendamos a perdoar sempre

Não seríamos Teus filhos, ó Pai nosso,

se não formos capazes de perdoar a todos,

já que, na verdade, todos somos irmãos

e nos sentimos totalmente envolvidos

– acarinhados, trespassados e ‘coroados’ –

pela Tua Graça e Misericórdia!

[ do Salmo Responsorial / 102 (103) ]