
(Ciclo C – Domingo 18 do Tempo Comum)
«RICOS… SÓ AOS OLHOS DE DEUS!»
(«Catorze versos dizem que é “soneto”»…). Já agora, vejamos “este”, que vem de molde para a nossa reflexão de hoje, ainda que não pertença a nenhum «poeta de fama». [Conservei-o, comigo como uma jóia de “criação poética”, da autoria de um amigo (Ir. F. Iglésias), e para evitar também que ficasse apagado na névoa inconsistente, mas impiedosa, do tempo …]. Então, vejamos se, para nós, «O “outro” é um tesouro a descobrir»:
«O azar tira, por vezes do seu sono,
tesouros desde há muito soterrados;
sem dúvida, em segredos sepultados,
medrou por cima deles o abandono.
Esvaída a memória do seu dono,
não seria o melhor dos teus achados?
Viverias, talvez, sem mais cuidados,
como um rei, orgulhoso do seu trono…
Põe de parte, porém, as incertezas;
tens no “outro” um tesouro a céu aberto,
e podes, se quiseres, descobri-lo.
Se tropeças no “Outro”, quando rezas,
e vês irmão no “outro” que está perto,
acharás que é bem fácil consegui-lo».
Bom. Perante aquela outra afirmação, indiscutível, de Jesus de Nazaré (“Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”/Lc 12,34) deveria, cada um de nós, interrogar-se: «Onde é que “está” o meu coração?»…
Então, para iluminar as nossas respostas, temos à nossa frente a Palavra, na Eucaristia de hoje. E o primeiro que salta à vista é o contraste evidente entre o que constitui comummente o “objeto” (tesouro) do coração humano – “naquela” sociedade e na “nossa”! – e o que, realmente, deveria ser o “tesouro” (alvo) desse coração.
Acerca do primeiro, alerta-nos – com uma certa desilusão irónica – o autor do Eclesiastes (Qohélet): “Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade!”. E continua especificando – pormenorizadamente, nesses dois primeiros capítulos – uma série de “vaidades”…; para concluir, em cada caso, sempre com a mesma lengalenga: “Também isto é vaidade!”. (Ecl [Qo] c.1-2 / 1ª L.).
Mas o que é, afinal, “vaidade” («matayote», em grego)? Iremos tomar aqui o significado do termo (entre os vários que tem) que o livro sagrado lhe atribui: «Coisas fúteis, ocas, vãs, vazias… que, em definitivo, acabam em nada». O próprio texto sagrado, ao concluir o segundo capítulo, deixa-nos a sua peculiar definição: “Também isto é ilusão e correr atrás do vento” (Ecl 2, 26). Aliás, “ilusão” e “desilusão”!
Segundo isto, quais outras “vaidades” nos apontam as Leituras de hoje? Bom, S. Paulo, por sua vez, escreve aos cristãos de Colossas: “Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho…”.(Cl 3 / 2ª L.). E vemos como Paulo resume todas as “vaidades” na expressão «homem velho», que, como é evidente, ao “envelhecer” naturalmente, acaba por morrer!
No Evangelho, Jesus, após falar em “heranças e partilhas”, alerta do perigo desta classe de “vaidades”: “«Vede bem, guardai-vos de toda a ganância: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens» (Lc 12 / 3ª L.). E para ilustrar este assertivo “conselho”, conta-lhes uma parábola… Parábola que é, certamente, um monumento à “inutilidade” de todas as «vaidades»!
Mas, é evidente, devemos acabar com a outra face da moeda, a realidade positiva, isto é, o tal “tesouro” onde todo o ser humano teria de “pôr o seu coração”!… E antes de mais, este ser humano deve – logo que se despojar do “homem velho” – revestir-se do “homem novo”, consoante a linguajem de Paulo: “Irmãos… aspirai e afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra… Revesti-vos do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador…”. (Cl 3 / 2ª L.). Ou, então, por outras palavras, que são as conclusivas da tal parábola de Jesus no Evangelho: “Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus»” (Lc 12 / 3ª L.). Então, “a outra” será a única “riqueza” (“tesouro”) que a todos nos interessa!
Senhor, tens sido sempre o nosso refúgio,
e fortaleza, de geração em geração…
ainda que nós tenhamos posto, tantas vezes,
a nossa inteligência e o nosso coração
em muita coisa que é vaidade e pura ilusão…
Claro que o homem fica reduzido ao pó da terra
sempre que ele põe o seu coração “em pó e em nada”
e vive na ilusão inconsciente e maquinal
de quem «corre apenas atrás do vento»
– que isso são todos os bens efémeros e caducos –
e acaba “de mãos vazias e de braços a abanar”…
Longe de nós, ó Deus e Pai nosso,
pôr o nosso coração em “tesouros frágeis”
que, afinal, só trazem amargura e desilusão!
Ensina-nos Tu, Senhor, a contar os nossos dias
para chegarmos à real sabedoria do coração,
a que nos faz abandonar “o homem velho”,
para nos revestir, em Cristo Jesus, do “homem novo”,
que põe o seu coração só nos “tesouros de Deus”…
Queremos percorrer este Caminho de Jesus,
onde Tu, ó Pai, confirmas a obra das nossas mãos!…
[ do Salmo Responsorial / 89 (90) ]
11 Agosto, 2016
«RICOS… SÓ AOS OLHOS DE DEUS!»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 18 do Tempo Comum)
«RICOS… SÓ AOS OLHOS DE DEUS!»
(«Catorze versos dizem que é “soneto”»…). Já agora, vejamos “este”, que vem de molde para a nossa reflexão de hoje, ainda que não pertença a nenhum «poeta de fama». [Conservei-o, comigo como uma jóia de “criação poética”, da autoria de um amigo (Ir. F. Iglésias), e para evitar também que ficasse apagado na névoa inconsistente, mas impiedosa, do tempo …]. Então, vejamos se, para nós, «O “outro” é um tesouro a descobrir»:
«O azar tira, por vezes do seu sono,
tesouros desde há muito soterrados;
sem dúvida, em segredos sepultados,
medrou por cima deles o abandono.
Esvaída a memória do seu dono,
não seria o melhor dos teus achados?
Viverias, talvez, sem mais cuidados,
como um rei, orgulhoso do seu trono…
Põe de parte, porém, as incertezas;
tens no “outro” um tesouro a céu aberto,
e podes, se quiseres, descobri-lo.
Se tropeças no “Outro”, quando rezas,
e vês irmão no “outro” que está perto,
acharás que é bem fácil consegui-lo».
Bom. Perante aquela outra afirmação, indiscutível, de Jesus de Nazaré (“Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”/Lc 12,34) deveria, cada um de nós, interrogar-se: «Onde é que “está” o meu coração?»…
Então, para iluminar as nossas respostas, temos à nossa frente a Palavra, na Eucaristia de hoje. E o primeiro que salta à vista é o contraste evidente entre o que constitui comummente o “objeto” (tesouro) do coração humano – “naquela” sociedade e na “nossa”! – e o que, realmente, deveria ser o “tesouro” (alvo) desse coração.
Acerca do primeiro, alerta-nos – com uma certa desilusão irónica – o autor do Eclesiastes (Qohélet): “Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade!”. E continua especificando – pormenorizadamente, nesses dois primeiros capítulos – uma série de “vaidades”…; para concluir, em cada caso, sempre com a mesma lengalenga: “Também isto é vaidade!”. (Ecl [Qo] c.1-2 / 1ª L.).
Mas o que é, afinal, “vaidade” («matayote», em grego)? Iremos tomar aqui o significado do termo (entre os vários que tem) que o livro sagrado lhe atribui: «Coisas fúteis, ocas, vãs, vazias… que, em definitivo, acabam em nada». O próprio texto sagrado, ao concluir o segundo capítulo, deixa-nos a sua peculiar definição: “Também isto é ilusão e correr atrás do vento” (Ecl 2, 26). Aliás, “ilusão” e “desilusão”!
Segundo isto, quais outras “vaidades” nos apontam as Leituras de hoje? Bom, S. Paulo, por sua vez, escreve aos cristãos de Colossas: “Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho…”.(Cl 3 / 2ª L.). E vemos como Paulo resume todas as “vaidades” na expressão «homem velho», que, como é evidente, ao “envelhecer” naturalmente, acaba por morrer!
No Evangelho, Jesus, após falar em “heranças e partilhas”, alerta do perigo desta classe de “vaidades”: “«Vede bem, guardai-vos de toda a ganância: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens» (Lc 12 / 3ª L.). E para ilustrar este assertivo “conselho”, conta-lhes uma parábola… Parábola que é, certamente, um monumento à “inutilidade” de todas as «vaidades»!
Mas, é evidente, devemos acabar com a outra face da moeda, a realidade positiva, isto é, o tal “tesouro” onde todo o ser humano teria de “pôr o seu coração”!… E antes de mais, este ser humano deve – logo que se despojar do “homem velho” – revestir-se do “homem novo”, consoante a linguajem de Paulo: “Irmãos… aspirai e afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra… Revesti-vos do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador…”. (Cl 3 / 2ª L.). Ou, então, por outras palavras, que são as conclusivas da tal parábola de Jesus no Evangelho: “Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus»” (Lc 12 / 3ª L.). Então, “a outra” será a única “riqueza” (“tesouro”) que a todos nos interessa!
Senhor, tens sido sempre o nosso refúgio,
e fortaleza, de geração em geração…
ainda que nós tenhamos posto, tantas vezes,
a nossa inteligência e o nosso coração
em muita coisa que é vaidade e pura ilusão…
Claro que o homem fica reduzido ao pó da terra
sempre que ele põe o seu coração “em pó e em nada”
e vive na ilusão inconsciente e maquinal
de quem «corre apenas atrás do vento»
– que isso são todos os bens efémeros e caducos –
e acaba “de mãos vazias e de braços a abanar”…
Longe de nós, ó Deus e Pai nosso,
pôr o nosso coração em “tesouros frágeis”
que, afinal, só trazem amargura e desilusão!
Ensina-nos Tu, Senhor, a contar os nossos dias
para chegarmos à real sabedoria do coração,
a que nos faz abandonar “o homem velho”,
para nos revestir, em Cristo Jesus, do “homem novo”,
que põe o seu coração só nos “tesouros de Deus”…
Queremos percorrer este Caminho de Jesus,
onde Tu, ó Pai, confirmas a obra das nossas mãos!…
[ do Salmo Responsorial / 89 (90) ]