42c- Ser fiel... para poder confiar!

(Ciclo C – Domingo 19 do Tempo Comum)   

SER FIEL… PARA PODER CONFIAR!

            Certamente, muitos conhecem o provérbio popular: «Na boca do mentiroso, o certo é duvidoso». Pois esta afirmação vem a ser como que a “moral da história” daquela “fábula” (de Esopo) «o pastor mentiroso». Sim, aquele pastorinho que, para se divertir, gritava para a gente da aldeia: “Lobo! Lobo!”. E toda a gente aparecia para o defender… Mas, após dois ou três “enganos repetidos”, cansados já da brincadeira, quando aqueles aldeões ouviram outra vez o grito (Lobo, lobo!) já não acudiram… E o lobo feroz – que desta vez era a sério! – devorou uma grande parte das suas ovelhas…

É verdade, “o certo é duvidoso na boca do mentiroso”. E nós, infelizmente, já ouvimos a algumas pessoas dizerem: «Eu não “me fio” em tal pessoa, porque já “me falhou” mais do que uma vez; não é pessoa de confiança; eu não posso confiar em pessoas que “negoceiam com a mentira” ou, por outras, que “brincam com a verdade”»… É bem triste esta realidade na nossa sociedade! Tanto que já houve alguém a designá-la como «a sociedade da desconfiança» mútua… E, por esse caminho, não tarda a dominar o imperativo da «lei da selva». É um facto. Mas, que pena!

Todo o contrário é a «fé e confiança» entre a gente. Confiança em Deus e confiança mútua. Como é maravilhosa essa total confiança interpessoal, como hábito e atitude, que produz harmonia e fraternidade entre todos os “homens-irmãos”!

Comecemos por aprender dos «nossos antepassados» (já desde a libertação da escravidão do Egito) “que sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficaram cheios de coragem… E de comum acordo estabeleceram esta lei divina: Que os justos [pessoas de bem] seriam solidários nos bens e nos perigos. E então começaram a cantar os hinos de seus antepassados”. (Sb 18 / 1ª L.). Quer dizer, aqueles nossos antepassados (nossos “pais na fé”) tinham bem clara e firme uma experiência real: a Fidelidade inquebrantável daquele seu Deus-Javé, que nunca tinha falhado ao Seu povo. É esta Fidelidade certa que gera, no outro, a Confiança!

O autor da carta aos Hebreus, por sua vez, ao fazer a “leitura crente” da história humano-divina do “Povo eleito” no AT, coloca os acontecimentos importantes desse processo histórico – às vezes inacreditáveis ou que pareciam impossíveis – sob a perspetiva da Fé (~Confiança) em Javé-Deus. “Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem… Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu…  Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade…  Pela fé, o mesmo Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito… Pela fé, … Pela fé,…”. E assim, ao longo de todo esse c. 11 da Carta, vai descrevendo muitos eventos da história do Povo, mas sem perder de vista, em todos e cada um deles, o fundamental, aquilo que dá sentido a tudo, isto é, «o motivo e fundamento dessa fé e confiança». É exatamente o que fica registado – nalguns dos casos descritos – com estas palavras: “Porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho tinha prometido”. (Hb 11 / 2ª L.). Então, o que explica tudo (nessa “leitura crente da realidade”) é a Fidelidade de Javé. Ou seja, o Deus Fiel que nunca vai falhar!

Mas, como não podia deixar de o ser, é o próprio Jesus – como já tivemos ocasião de o assinalar noutras ocasiões – quem nos “revelou” o verdadeiro “motivo” da nossa Confiança (Fé-Esperança) plena, ou seja, a Bondade do Pai misericordioso. E o exprime, bem claro e luminoso, no Evangelho de hoje: “Naquele tempo, dizia Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino»”. Assim de simples. Quem é que, doravante, vai duvidar quanto à fé-confiança no Pai Deus, sempre Fiel e providente nas Suas promessas?

Porém, da nossa parte e para a nossa vida, deveremos também aprender, do Pai comum, essa Fidelidade – «sem data de caducidade!» – que cria nos outros Confiança e Fidelidade recíprocas. Por isso, neste contexto de fidelidade e confiança, o próprio Jesus nos lança esta pergunta, que é ao mesmo tempo como que um desafio: “«Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa…? Feliz o tal servo…! Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens…»”. E conclui, a pensar sobretudo nos que, por ventura, ainda não acabaram de entender: “«A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá»”. (Lc 12 / 3ª L.). E, já agora, repare-se no termo “confiado”, que tem um outro sentido, similar e significativo, de “confiar”.

 

Esperar na tua bondade, Senhor,

é como «confiar na tua Fidelidade»;

porque os Teus olhos estão voltados

para todos os que querem ser Teus amigos

e têm posto o seu olhar confiado em Ti, Pai;

porque és sempre Fiel, Bondoso e Compassivo…

Desde sempre e para sempre, ficou escrita

a Tua Palavra, Senhor, que não pode falhar:

“Foste Tu que nos escolheste para a Tua herança”.

E nós ficamos imensamente felizes e confiados

ao sentir-nos, todos, como “o povo e nação predileta”

que tem em Ti, Senhor, o seu Deus e Pai”.

Por isso, ficamos com esta promessa e súplica do Salmo:

“A nossa alma espera e confia em Ti, Senhor;

Tu és o nosso amparo e o nosso Protetor.

Venha sobre nós o Teu amor e bondade,

porque em Ti esperamos e confiamos, Senhor!”.

            [ do Salmo Responsorial / 32 (33) ]