
(Ciclo C – Domingo 20 do Tempo Comum)
«DIVISÃO, GUERRA… ATÉ AO SANGUE»?
Porque este Mundo é o que é, ou porque esta Criação (e nós nela!) é assim, não admira que, em geral, a nossa sensação é como que uma “encruzilhada” entre os dois conhecidos e experimentados “polos opostos”: o bem e o mal. Quem dera – gritamos tantas vezes desde o mais fundo do nosso íntimo – que não existisse a dor, o sofrimento, o mal!… Mas a verdade é que temos de aprender a conviver com esta “contradição” (!?) enquanto vivemos neste universo espácio-temporal; e tentar encaixar esta realidade “bi-polar” nas nossas vidas, sob pena de cair numa “esquizofrenia” ou noutra coisa pior… é o processo que não devemos esquivar.
Neste sentido, pode vir, como de molde, uma “pequena reflexão” que encontramos no conhecido “profeta” moderno Khalil Gibran, acerca de como ele enfrenta, ou encaixa, esta situação universal: «Quando estiverdes alegres, olhai para o fundo do vosso coração e vereis que aquilo que vos dá alegria não é senão aquilo que vos deu tristeza. Quando estiverdes tristes, olhai de novo para o vosso coração e vereis que, realmente, chorais por aquilo que antes vos tinha encantado. Alguns dizem: – A alegria é maior que a tristeza. Outros afirmam: – Não, a tristeza é maior. Mas eu digo-vos que são inseparáveis. Vêm juntas, e quando uma se senta a sós convosco à vossa mesa, lembrai-vos que a outra dorme na vossa cama. Sois, verdadeiramente, como os pratos de uma balança sempre suspensa entre a vossa tristeza e a vossa alegria». Ou seja, sempre os dois “polos” a conviverem!
Um outro profeta, este já profeta bíblico do AT – Jeremias – teve de suportar, na sua carne, as forças do mal e do bem, como se narra no episódio da 1ª leitura, onde vemos agir primeiro os inimigos, as forças do mal: “«Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes… e em todo o povo, com as palavras que diz»… Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna… onde não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo”… E ali “teria morrido de fome se não tivesse sido salvo” por outros, seus amigos, as “forças do bem”. (Jr 38 / 1ª L.).
Na mesma linha – e porque este Jeremias foi um dos Seus anunciadores e “pré-figura” do futuro «Servo Sofredor» – viria Jesus de Nazaré, o Profeta dos profetas. E todos sabemos até onde chegou a sua “tensão” (“sinal de contradição”) entre o bem e o mal… No Evangelho deste dia, as Suas palavras não podem ser mais claras e transparentes: “«Eu vim trazer fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?… Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão e a guerra…»”. Palavras enigmáticas, que só podem ter sentido na perspetiva da Sua Paixão, morte e Ressurreição («batismo de sangue»), cujo “pré-anúncio” faz Ele próprio, dentro deste mesmo texto evangélico: “«Tenho de receber um batismo…e estou ansioso até que ele se realize»”. (Lc 12 / 3ª L.).
Ou seja, nem os profetas da “antiga aliança” – nem, sobretudo, o Profeta Jesus! – para já não falar dos incontáveis “profetas, justos, fiéis”, que cruzaram, e cruzam, este mundo… nenhum deles se livrou dos “furacões” das forças do mal… Não admira então que, na nossa vida, seja preciso ver-nos imersos “nos caminhos que passam pelas cruzes”, isto é, a “cruz” de cada um de nós!
E para não haver dúvidas, a menos de 40 anos após a realização dessa anunciada morte e ressurreição de Jesus – o tal “batismo” (de sangue) que Ele havia de “receber” – um dos Seus discípulos mais arriscados, “o autor anónimo” da Carta aos Hebreus, confirmando (“historicamente”?) todo o anterior, escreve, com sobrenatural inspiração: “Irmãos… Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus… que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores… Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado”. (Hb 12 / 2ª L.). É verdade, enquanto não chegar o fim da nossa “carreira ou corrida de obstáculos”, será preciso passarmos pelos domínios do mal (anunciados por Jesus): as divisões, as guerras… até ao sangue se for necessário. Ele tinha-nos dito a verdade: “O discípulo não pode ser superior ao Mestre”(Mt 10)… Então, se “Este” foi «sinal de contradição»(Lc 2), “aquele” não pode deixar de o ser!
No meio destas lutas e “contradições”,
elevo agora o meu grito militante e angustiado:
“Socorre-me, Senhor, sem demora
e retira-me deste abismo e do lamaçal”,
pois, às vezes, já não posso esperar mais;
sou propriamente um “sinal de contradição”,
e me atacam por todos os lados…
Quando me sinto sozinho e isolado,
sou mesmo um ser pobre e infeliz:
Ó Pai, cuida deste Teu filho fatigado e abatido:
sei que és o meu protetor e libertador;
então, não tardes em vir defender-me!
Compreendo que não posso fugir da cruz,
antes quero abraçá-la para acompanhar o Teu Filho,
pois “um discípulo deve seguir o seu Mestre”
e tentar imitá-l’O sempre, e só por amizade!
E agora, Jesus, dirijo para Ti a minha oração,
para prometer-Te, sincera e francamente,
imitar a verdade das Tuas palavras:
Vou seguir os Teus passos de «via-crucis»,
para tentar ser «outro cristo» conTigo,
até receber “o teu batismo” se Tu o dispuseres…
Assim, vendo isto, muitos hão de compreender,
e porão o seu amor e confiança no Senhor.
E eu posso terminar este salmo
como um hino de louvor a Ti, nosso Deus,
que pões em meus lábios um cântico novo!
[ do Salmo Responsorial / 39 (40) ]
12 Agosto, 2016
«DIVISÃO, GUERRA… ATÉ AO SANGUE»?
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 20 do Tempo Comum)
«DIVISÃO, GUERRA… ATÉ AO SANGUE»?
Porque este Mundo é o que é, ou porque esta Criação (e nós nela!) é assim, não admira que, em geral, a nossa sensação é como que uma “encruzilhada” entre os dois conhecidos e experimentados “polos opostos”: o bem e o mal. Quem dera – gritamos tantas vezes desde o mais fundo do nosso íntimo – que não existisse a dor, o sofrimento, o mal!… Mas a verdade é que temos de aprender a conviver com esta “contradição” (!?) enquanto vivemos neste universo espácio-temporal; e tentar encaixar esta realidade “bi-polar” nas nossas vidas, sob pena de cair numa “esquizofrenia” ou noutra coisa pior… é o processo que não devemos esquivar.
Neste sentido, pode vir, como de molde, uma “pequena reflexão” que encontramos no conhecido “profeta” moderno Khalil Gibran, acerca de como ele enfrenta, ou encaixa, esta situação universal: «Quando estiverdes alegres, olhai para o fundo do vosso coração e vereis que aquilo que vos dá alegria não é senão aquilo que vos deu tristeza. Quando estiverdes tristes, olhai de novo para o vosso coração e vereis que, realmente, chorais por aquilo que antes vos tinha encantado. Alguns dizem: – A alegria é maior que a tristeza. Outros afirmam: – Não, a tristeza é maior. Mas eu digo-vos que são inseparáveis. Vêm juntas, e quando uma se senta a sós convosco à vossa mesa, lembrai-vos que a outra dorme na vossa cama. Sois, verdadeiramente, como os pratos de uma balança sempre suspensa entre a vossa tristeza e a vossa alegria». Ou seja, sempre os dois “polos” a conviverem!
Um outro profeta, este já profeta bíblico do AT – Jeremias – teve de suportar, na sua carne, as forças do mal e do bem, como se narra no episódio da 1ª leitura, onde vemos agir primeiro os inimigos, as forças do mal: “«Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes… e em todo o povo, com as palavras que diz»… Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna… onde não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo”… E ali “teria morrido de fome se não tivesse sido salvo” por outros, seus amigos, as “forças do bem”. (Jr 38 / 1ª L.).
Na mesma linha – e porque este Jeremias foi um dos Seus anunciadores e “pré-figura” do futuro «Servo Sofredor» – viria Jesus de Nazaré, o Profeta dos profetas. E todos sabemos até onde chegou a sua “tensão” (“sinal de contradição”) entre o bem e o mal… No Evangelho deste dia, as Suas palavras não podem ser mais claras e transparentes: “«Eu vim trazer fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda?… Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão e a guerra…»”. Palavras enigmáticas, que só podem ter sentido na perspetiva da Sua Paixão, morte e Ressurreição («batismo de sangue»), cujo “pré-anúncio” faz Ele próprio, dentro deste mesmo texto evangélico: “«Tenho de receber um batismo…e estou ansioso até que ele se realize»”. (Lc 12 / 3ª L.).
Ou seja, nem os profetas da “antiga aliança” – nem, sobretudo, o Profeta Jesus! – para já não falar dos incontáveis “profetas, justos, fiéis”, que cruzaram, e cruzam, este mundo… nenhum deles se livrou dos “furacões” das forças do mal… Não admira então que, na nossa vida, seja preciso ver-nos imersos “nos caminhos que passam pelas cruzes”, isto é, a “cruz” de cada um de nós!
E para não haver dúvidas, a menos de 40 anos após a realização dessa anunciada morte e ressurreição de Jesus – o tal “batismo” (de sangue) que Ele havia de “receber” – um dos Seus discípulos mais arriscados, “o autor anónimo” da Carta aos Hebreus, confirmando (“historicamente”?) todo o anterior, escreve, com sobrenatural inspiração: “Irmãos… Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus… que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores… Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado”. (Hb 12 / 2ª L.). É verdade, enquanto não chegar o fim da nossa “carreira ou corrida de obstáculos”, será preciso passarmos pelos domínios do mal (anunciados por Jesus): as divisões, as guerras… até ao sangue se for necessário. Ele tinha-nos dito a verdade: “O discípulo não pode ser superior ao Mestre”(Mt 10)… Então, se “Este” foi «sinal de contradição»(Lc 2), “aquele” não pode deixar de o ser!
No meio destas lutas e “contradições”,
elevo agora o meu grito militante e angustiado:
“Socorre-me, Senhor, sem demora
e retira-me deste abismo e do lamaçal”,
pois, às vezes, já não posso esperar mais;
sou propriamente um “sinal de contradição”,
e me atacam por todos os lados…
Quando me sinto sozinho e isolado,
sou mesmo um ser pobre e infeliz:
Ó Pai, cuida deste Teu filho fatigado e abatido:
sei que és o meu protetor e libertador;
então, não tardes em vir defender-me!
Compreendo que não posso fugir da cruz,
antes quero abraçá-la para acompanhar o Teu Filho,
pois “um discípulo deve seguir o seu Mestre”
e tentar imitá-l’O sempre, e só por amizade!
E agora, Jesus, dirijo para Ti a minha oração,
para prometer-Te, sincera e francamente,
imitar a verdade das Tuas palavras:
Vou seguir os Teus passos de «via-crucis»,
para tentar ser «outro cristo» conTigo,
até receber “o teu batismo” se Tu o dispuseres…
Assim, vendo isto, muitos hão de compreender,
e porão o seu amor e confiança no Senhor.
E eu posso terminar este salmo
como um hino de louvor a Ti, nosso Deus,
que pões em meus lábios um cântico novo!
[ do Salmo Responsorial / 39 (40) ]