63c- «Subidas» e «descidas»

 

 

(Ciclo C – Assunção de Maria – 15 de agosto)

«SUBIDAS» E «DESCIDAS»

                A «mãe-natureza» está a dar continuamente “lições” aos humanos – que, tantas vezes, teimamos em não querer “aprender”! No entanto, para a nossa reflexão de hoje, temos o exemplo, bem comum na Natureza, das plantas de “grande porte” (árvores e arbustos) cujas raízes, a crescerem em profundidade e extensão, devem fazê-lo na proporção da altura e grandeza da parte aérea (externa) que observamos. Se bem pensamos, isso tem toda a lógica: quanto mais alta e robusta for uma árvore mais profundas e fortes devem ser as suas raízes (parte subterrânea) para suportar a sua parte aérea (tronco, ramos, folhas…). São necessárias raízes profundas para alturas elevadas… E sabe-se ainda da existência de algumas plantas que precisam de vários anos para ganharem raízes suficientes antes de se lançarem à aventura do seu crescimento e desenvolvimento exterior, visível; tanto assim, que leva à gente a pensar que aquelas sementes não germinaram e “fracassaram”, o que não acontece.

Tudo isto, que nos parece interessante e razoável, pretendemos ignorá-lo ou esquecê-lo na nossa vida “material”, e mais ainda na nossa dimensão “espiritual”… A verdade é que muita gente aposta principalmente – ou quase exclusivamente – nas realidades exteriores (no seu “porte exterior”/ “look”) sem se preocupar com aquela “Interioridade”, que deve sustentar e suportar “a exterioridade”. Esta atitude “vai contra toda a lógica”… Quem quiser «subir» deve, primeiro, «descer» (e não vice-versa)! Mas será que no campo humano e espiritual temos também exemplos, tal como sucede ao nível do puramente Natural?

Pode parecer uma ficção de fantasia, mas o primeiro exemplo nos vem diretamente do próprio Deus, na pessoa de Jesus, o Filho, feito homem, que “identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”; por isso mesmo, continua S. Paulo, “Deus o exaltou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome” (Fl 2). (Efeito da mola espiral: só comprimida para baixo, é lançada para cima).

Porém, nesta Solenidade da Assunção, é o exemplo e modelo de Maria, a Mãe de Jesus, que nos ilumina e estimula, por ser Ela, aliás, a primeira e melhor seguidora de Jesus, o Filho. A Virgem Maria é, neste dia, elevada (“assunta”) ao mais alto dos Céus porque, primeiro, tinha-se “abaixado” como a mais humilde de todas as mulheres. É assim que Deus “olhou para a humildade da sua serva” – como Ela mesma canta no seu «Magnificat» – ; e isto é assim, “porque o Senhor exalta os humildes enquanto derruba os poderosos… e enche de bens os famintos enquanto despede os ricos sem nada” (Lc 1 / 3ª L.). Ou seja que, nesta Assunção de nossa Senhora, o Senhor Deus aplica a Maria, o mesmo “esquema” que tinha seguido em Jesus: porque “se abaixaram”, Deus “exaltou-os”… O que fica claro e evidente é que ninguém pode exaltar a alguém que já estiver “elevado, na sua impertinência”!

Sabemos que, já desde a sua vocação de mãe, ao exercer a sua maternidade, Maria de Nazaré teve de sofrer a incompreensão e o sofrimento, tal como o exprime, da maneira figurada, o livro da revelação ou Apocalipse: “Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade… O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse… E a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar”… (Ap 11.12 / 1ª L.). Expressões misteriosas que revelam a “trajetória de humilhação” que Ela teve de percorrer na terra… Não admira, portanto, que, nesta mesma leitura do Apocalipse, se proclame a sua exaltação e glorificação, também “figurada”: “Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça”.

Sendo assim, de todas estas «descidas» e «subidas», fica uma clara lição para todos nós: O caminho a percorrer não pode ser outro que o da humildade e abaixamento. Portanto, nem pensar naquele “orgulho” de Adão, “pelo que todos morreram”, nem naquelas “soberanias, autoridades e poderes que serão aniquilados por Cristo”… mas sim na humildade e docilidade de Maria e de Jesus, pois só assim “serão todos restituídos à vida”.(1 Cor 15 / 2ª L.).

 

Hoje, Senhor, vamos louvar juntos

àquela que é Tua e nossa Mãe. Porque

dizer que “a Rainha do Céu está à Tua direita”

significa que não pode ocupar outro lugar

mais elevado e sublime na Glória Celeste, Ela,

a quem Tu tinhas “olhado na sua humildade e baixeza”…

E agora está “ornada com o ouro de Ofir”

aquela cujos enfeites na vida terrena

foram a simplicidade e a modéstia…

Por isso, «Senhora da Assunção» e nossa Mãe,

nós te louvamos na tua Glória infinita,

porque “a beleza de que o Rei se enamorou”

foi a tua singeleza, docilidade e mansidão

que contagiava «os pobres de Javé» do Povo fiel;

louvamos-te para sempre, Mãe, porque estarás

“rodeada das filhas e filhos de reis” que somos todos nós…

“Ouve, Maria, vê e escuta as nossas súplicas

e presta atenção ao nosso louvor” e eterna gratidão!

           [ do Salmo Responsorial / 44 (45) ]