44c- Proselitismo, sim, não.

 (Ciclo C – Domingo 21 do Tempo Comum)  

«“PROSELITISMO”, SIM, NÃO»

            Um dos livros Sapienciais do AT, onde aparece recolhida a “sapiência” ou «sabedoria popular» através de muitas gerações, é citado na Palavra deste domingo (na Carta aos Hebreus): trata-se do Livro dos Provérbios, e o texto transcrito é este: “Meu filho, não rejeites a correção do Senhor, nem te irrites quando Ele te repreender, pois o Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a um filho querido” (Pr 3). Mas o autor da Carta continua, esclarecendo aos cristãos do seu tempo: “É para vossa correção que sofreis. Deus trata-vos como filhos. Qual é o filho a quem o pai não corrige? Nenhuma correção, quando se recebe, é considerada como motivo de alegria… Mais tarde, porém, dá àqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça”… (Hb 12 / 2ª L.). Pois este “conselho”, recolhido do livro dos Provérbios, vai dedicado, antes de mais, a todos aqueles “pais/mães” do nosso tempo que se esforçam – geralmente «contra vento e maré» do ambiente – por “corrigir” os seus filhos, da melhor maneira que sabem e podem. É verdade, os frutos desta correção, embora difícil, tanto para quem a dá quanto para quem a recebe, serão sempre bons (“de paz, de justiça”) tal como o futuro da “não correção” – de “tolerância máxima” ou “exigência zero” como se costuma dizer – são os “frutos amargos”… que se verificam. Aí está a história (de umas sociedades mais, de outras menos) nestes tempos que nos foi dado viver!

Acontece, por outro lado, que é hábito chamar “castigos de Deus” às correções ou censuras divinas, e esquecemos – lembram-se? – que Deus nem quer nem precisa de “castigar” a ninguém… até porque já existem, provenientes das forças do mal e de nós próprios, causas, motivos e meios bastantes para as “autopunições nossas de cada dia”. (Pena que continuemos a arrastar uma linguagem “deturpada”, que herdamos do «Antigo Testamento»). Digamos, então, que a única ocupação e preocupação de Deus é que o Seu Amor-Verdade chegue a todos, até aos confins da terra… (“para que todos se salvem”!). Vejamos:

“Eis o que diz o Senhor: «Eu virei reunir todas as nações e todas as línguas, para que venham contemplar a minha glória. Eu lhes darei um sinal e de entre eles enviarei sobreviventes às nações: a Társis… a Túbal… às ilhas remotas… para que anunciem a minha glória entre as nações”. (Is 66 / 1ª L.). E o primeiro Enviado de Deus, para esta Missão, foi o Seu Filho Jesus Cristo, quem, por sua vez, continua sempre a “enviar” apóstolos e missionários, para que essa Salvação chegue a todos.

E, uma vez que esta missão apresenta-se difícil e árdua, é o próprio Jesus que vai alertar a todos, no Evangelho de hoje. Perante a pergunta que alguém Lhe lançou, “«Senhor, são poucos os que se salvam?», Ele respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir»”… E, finalmente, acrescenta (em perfeita concordância com a 1ª leitura de Isaías 66): “Hão de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus. E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos»”. (Lc 13 / 3ª L.). Portanto, essa é a ocupação constante de Deus, junto com o Perdão e a Misericórdia para todos… E Ele deixa todo o resto para os outros (incluindo os tais “castigos”).

Mas… isso sim, o Senhor quer que todos nós – como Ele e com Ele – sejamos igualmente constantes, perseverantes, para não abandonar a verdadeira “correção” (a nós próprios e aos outros) aquela de que falámos no início da nossa Reflexão. De outro modo, deita-se a perder a obra iniciada ou realizada, em cujo caso seríamos culpados e vítimas, conforme aquela “terrível invetiva” de Jesus: “Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes seguro, fazeis dele um filho do inferno, duas vezes pior do que vós!” (Mt 23,15). Quer dizer, será preciso cultivar e animar – “corrigir” – para não perdermos o que fomos “construindo”.

Então, com o autor da carta aos Hebreus, concluamos, animando a todos e dizendo-nos a nós próprios: “Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos vacilantes e dirigi os vossos passos por caminhos direitos” (Hb 12 / 2ª L.).

 

Bem sabemos, Senhor, que o Teu Amor é eterno;

que passas por cima de tudo e ficas com o essencial;

que queres que todos os homens se salvem

e cheguem ao conhecimento da Verdade…

É verdade, Senhor e Pai nosso:

“É firme a Tua Misericórdia para connosco

e a Tua Fidelidade permanece para sempre”.

É o que queremos transmitir a todos,

ao escutarmos a Palavra do Teu Filho Jesus:

Ide por todo o mundo, anunciai a Boa Nova!”.

Temos aprendido com Jesus, ó Pai,

que “o caminho da salvação não é fácil”,

e que “há últimos que serão dos primeiros

e primeiros que serão dos últimos”…

Mas nós prometemos colaborar com Jesus

e com todos os irmãos de boa vontade,

para levar a Boa Nova da Salvação a todos,

e saber “acompanhá-los” no Caminho da Vida…

Assim poderemos entoar, com verdade, este hino:

“Louvamos-Te, Senhor, com todas as nações,

e aclamamos-Te com todos os povos da terra!”.

            [ do Salmo Responsorial / 116 (117) ]