45c- Espetacular efémero ou Simples definitivo!

(Ciclo C – Domingo 22 do Tempo Comum)  

 O «ESPETACULAR» EFÉMERO ou O «SIMPLES» DEFINITIVO!?

            Quem é que não fica espantado, deslumbrado, maravilhado, perante esses espetaculares “efeitos especiais”, criados nestes últimos tempos pelas indústrias audiovisuais, cinematográficas, musicais… e que nos transportam a estados e cenários de outras Galáxias, de uma “outra dimensão”!? Como é que a imaginação-criatividade humana é capaz de “reproduzir situações”, mais ou menos “virtuais”, acerca de coisas que «não são» (ou «são»?) porque só podem existir para além das nossas “coordenadas espácio-temporais”?… Porém, era bom pensarmos, que estas cenas espantosas e alucinantes não são novas; já foram criadas “pela imaginação” humana – se bem que inspiradas por uma ação sobrenatural – há mais de vinte séculos!… Basta pensarmos, nomeadamente nos livros dos profetas Ezequiel e Daniel, e sobretudo no Apocalipse (ou Revelação) … para verificarmos como é que esses “videntes ou visionários” foram capazes de descreverem aquelas cenas e realidades “imaginárias ou fantásticas”, cheias de colorido e expressividade… que, afinal, foram as “antecessoras” destes atuais “efeitos especiais” ou de “ciência-fição”, produzidos por meios “apenas físico-naturais”.

E é interessante constatar que o texto da Carta aos Hebreus, da Eucaristia de hoje, vai ajudar-nos a descobrir e distinguir – ao compararmos umas e outras “descrições” – quais são realmente as “imagens” que representam uma realidade presente (para os que já a vivem, nessa “outra dimensão”) ou futura (para os que, ainda nesta dimensão espácio-temporal, vivem da fé); e quais as outras “imagens” que, na realidade, são pura fição e fantasia, quando não fruto de estados psicadélicos ou alucinogénios… O autor desta Carta (contemporâneo do Apocalipse) e para que ninguém se iluda, vai apresentar, em primeiro lugar, o que «não é»: “Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível… fogo ardente… nuvem escura… trevas densas… tempestade… som da trombeta e voz retumbante…” (Hb 12); descrevendo, logo a seguir, o que «é e será»: “Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste… de milhares de Anjos em festa… de Deus, juiz do universo… dos espíritos dos justos… e de Jesus, Mediador da Nova Aliança”. (Hb 12 / 2ª L.). Está tudo dito para quem “tiver ouvidos para ouvir” e “sentido para entender”!

Mas, claro, não podia faltar, na Palavra de hoje – para não ficarem as coisas “no ar” – mostrar o que deve ser o Caminho a seguir para conseguirmos esta última “aproximação” e “conquista”, sem nos perdermos naquelas “representações” meramente espetaculares e fantasiosas… E parece que, mais uma vez, como não podia deixar de ser, o tal “caminho” começa desde “baixo”, para ir ascendendo… e nunca desde “cima”, uma vez que – lembram-se? – desde o topo, desde “a cimeira”, já não se pode subir mais (só é possível cair!). Primeiro, a Palavra de Jesus: “«Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar»”. É evidente que a “atitude oposta” produz o efeito contrário, como o próprio Jesus descreve a seguir… E conclui com a esperada «moral da história»: “«Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»”.(Lc 14 / 3ª L.). E até podíamos ajuntar outra «moral» (a do domingo passado) para confirmar isto: “Há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos”(Lc 13). 

Ou seja, como já sabemos bem, deverá ser o caminho da “humildade” e simplicidade que deveremos transitar, para atingirmos o estado de “elevação e felicidade” que todos ansiamos. Os nossos antepassados na fé já estavam convictos disto – vejam bem! – no século terceiro antes de Cristo. Pois, naquela altura, um nosso amigo, Ben Sira (“filho de Sira”), no seu escrito sagrado, o Livro de Ben Sira (ou Sirácide), dirigindo-se a cada um de nós, deixou este conselho: “Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te, e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor, e os humildes cantam a sua glória…”. (Sr 3 / 1ª L.). – Caminhante, se procuras uma glória superior e uma felicidade definitiva, essa é a tua “situação à partida”, este é o teu caminho, “aprendiz de viajante”!

 

Senhor, não deixa de ser um mistério

– para nós, humanos, difícil de desvendar –

o facto de Tu preferires sempre os mais humildes,

e virares o rosto perante os grandes e famosos:

exatamente o contrário da atitude do mundo…

Sim, Pai, é verdade, como diz o nosso salmo:

“Tu preparas uma casa para o pobre

e outra, para o abandonado e esquecido”,

enquanto os ricos e auto-suficientes deste mundo

hão de ficar à intempérie dos seus bens e farturas…

Tu és “pai para os órfãos e defensor das viúvas,

desde a Tua morada santa”, onde os esperas a todos,

mas onde não cabem “orgulhos nem soberbas”…

E “preparas também, ó Pai, uma terra espaçosa e fértil

para o oprimido e humilhado”, que vive sem viver!

Porque Tu és o Redentor, por Teu Filho Salvador,

que “conduz os cativos à liberdade definitiva”.

Assim, “os justos se alegram na Tua presença,

exultam, Senhor, e transbordam de felicidade”

            [ do Salmo Responsorial / 67 (68) ]