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 (Ciclo A – BATISMO do Senhor / domingo… ) 

A “SEGUNDA EPIFANIA” – Epifania Trinitária –

Quantas vezes ficamos surpreendidos perante situações ou atitudes inesperadas, chocantes… e até extravagantes de certas pessoas?…  No caso presente, o proceder e atitude de Jesus de Nazaré, perante aquele profeta João que anda a batizar no rio Jordão, é, quando menos, estranho, e desde logo provocador. Não devemos esquecer, porém, que se trata do Filho desse Deus nosso Pai, Aquele que é sempre “desconcertante” – lembram-se?  E compreende-se então que João o Batista fique, primeiro perplexo e chocado, e logo, confuso e atrapalhado diante desta chegada inesperada. “Jesus veio ter com João Batista ao rio Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se dizendo: «Eu é que preciso de ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?»” (Mt 3). Toda a gente tem a sensação de que, neste episódio, parece como que “estão trocados os papéis”. João coloca-se no seu lugar, com a humildade e realismo que lhe caracterizam, porque reconhece Quem é que está à sua frente. A verdade é que o Precursor conhece o significado e valor limitado do seu “batismo” (“eu batizo com água”, dirá em determinada altura); e conhece igualmente, ou intui por inspiração divina, o valor e significado do Batismo que traz Jesus, o Messias Salvador. Por isso, naquela outra altura em que foi perguntado, João proclamou: “… Ele batizará no Espírito Santo e no fogo!”. E precisamente para poder realizar essa Sua missão, o próprio Jesus deve e quer ser agora batizado com água. Por isso, pede a João: “«Deixa por agora. Convém que assim cumpramos toda a justiça»” (Mt 3 / 3ª L.).

E para que ficasse claro e patente que “a Missão” de Jesus era “batizar no Espírito e no fogo” para salvar todos os homens, agora aparece – pela primeira vez na Nova Aliança – a “manifestação”, em pleno, das três Pessoas da Trindade (Pai, Filho e Espírito): “Então abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência»” (Mt 3). É-nos antecipado assim, mesmo veladamente, o Mistério Trinitário que, mais tarde, o próprio Jesus, o Filho, havia de nos revelar abertamente. Mas neste evento, no rio Jordão, podemos já descobrir isto: Vemos o Filho nesse Jesus de Nazaré que está a ser “batizado”; na figura de pomba sobre Ele, aparece o Espírito; e é claro que aquela voz vinda do Céu que diz “este é o meu Filho” só pode ser a voz do Pai.

E assim, esta “manifestação” (portanto epifania) que descobre ou revela este Mistério impensável e nunca imaginado, é também conhecida como «a Segunda Epifania de Jesus». (Lembram-se da «primeira»?).

Na Palavra dos Atos dos Apóstolos (At 10 / 2ª L.) podemos descobrir uma “outra leitura” deste sublime Mistério: “Deus [Pai – 1ª Pessoa] ungiu com a força do Espírito Santo [3ª Pessoa] a Jesus de Nazaré [2ª Pessoa], que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele”. Mas não deixa de ser interessante e revelador(!) que, já desde o Antigo Testamento, Deus inspirasse aos Profetas uma espécie de pré-revelação deste Mistério Trinitário: “Diz o Senhor [Pai?]: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele [Filho?] fiz repousar o meu espírito [Espírito Santo?], para que leve a justiça às nações…»” (Is 42 / 1ª L.).

E agora, vejamos qual pode ser a exigência desta Palavra de hoje. Não será como que uma ineludível obrigação – quanto pessoas que somos e quanto comunidades – perante este gesto batismal de Jesus de Nazaré?…  Talvez, e antes de mais, confrontarmo-nos com o tal “Batismo de João”, esse estranho profeta apelidado “o Batista” porque anda a ministrar um «batismo de penitência» ou “batismo de água para o perdão dos pecados”… E, porventura, perguntarmo-nos, também, o que é que há na nossa vida que precisa de “lavagem” batismal porque, de algum modo, nos sentimos “sujos por dentro”?… Será necessária, seguramente, uma purificação interior!

Em segundo lugar, e já que o batismo de João era conhecido também como “um batismo de conversão”, isto é, de mudança nos modos e atitudes, de pequena ou grande reviravolta na nossa direção e sentido… chegaremos à conclusão de que devemos igualmente questionarmo-nos acerca daquilo que, nos nossos hábitos e costumes diários, não nos enche nem nos satisfaz; antes pelo contrário, acaba por nos deixar sempre “mau sabor” na boca, quer dizer, no coração!  

 

Todos os filhos de Deus,

que o sois desde o Batismo de Cristo,

no Espírito Santo e no fogo, todos vós,

tributai ao Senhor glória e poder!…

Nós, conscientes do nosso Batismo cristão,

proclamamos a glória do Teu Nome,

esse Nome Trinitário

– Pai, Filho e Espírito Santo –

no qual foi derramada sobre nós

a água purificante e transformadora,

essa água da regeneração batismal

– essa do Espírito Santo e do fogo –

que nos fez Teus filhos no Filho…

Com estas “vestes brancas”

– como ornamentos sagrados –

estamos “in-vestidos” da dignidade “filial”

para o Teu culto de adoração, ó Senhor!

Dá-nos a Luz do fogo do espírito

para cumprirmos a nossa missão cristã

de anunciadores do Evangelho…

Que saibamos escutar a Tua Voz

sobre a vastidão das águas,

que ressoa majestosa sobre as nuvens…

A mesma Voz, ó Pai nosso,

que falou ao Filho no batismo do rio;

a mesma Voz que nos fala a nós

– desde o Batismo regenerador –

para nos chamar: «filhos muito amados»!…

                               [ do Salmo Responsorial / 28 (29) ]