
(Ciclo A – Domingo 3 do T. Comum… )
A “DIVISÃO” DAS “TREVAS”
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou” (Is 8 / 1ª L.) (Mt 4 / 3ª L.). É o mesmo livro de profecias que – no passado domingo – falava em termos de futuro (“vou fazer de ti a luz das nações”) [“II-Isaías”-c.49], e que agora fala em tempo “pretérito” mas, paradoxalmente, acerca de coisas que só “acontecerão quando chegar esse tal “servo-filho” que vem da parte d’Aquele que “quebrou o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor (como no dia de Madiã)” [“I-Isaías”- c.8]. É que a linguagem dos profetas – por ser a linguagem de Deus – surpreende sempre porque enigmática e desconcertante. Sim, por vezes fala en termos de futuro mas de cosas passadas ou, então, fala de coisas futuras em termos de passado. Mais uma vez, aliás como sempre, quem atualiza esse “passado” e esse “futuro”, é o próprio Jesus de Nazaré, o “Filho-servo”, o Messias de Deus. “Então… Jesus deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali”… Ou seja, “nas periferias” da terra que ocupava o “povo eleito”. Isto que atualmente se conhece como «zonas de fronteira». Mas este tal Jesus de Nazaré, que na Palavra do domingo anterior ouvíamos “declarar a Sua Vocação” («Eu venho, ó Deus, para fazer a Tua vontade!») agora sente já a urgência por iniciar esta sua Vocação e Missão. “Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus!»” (Mt 4).
Porém, este Mestre Messias Salvador (que veio após João Batista), como tal “Mestre”, necessita “discípulos” – acompanhantes, colaboradores e continuadores da sua Missão – e deve «chamá-los» (“vocacioná-los”) e escolhê-los entre aquela gente que O rodeia, que são, em primeiro lugar, os que “andam nas trevas e habitam nas sombras da morte” (Is 8); ou, por outras palavras, nas zonas de fronteira e de periferia. Assim exprime o Evangelho de hoje esta sua urgência: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me, e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O… Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos… Jesus chamou-os, e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O” (Mt 4)… E com eles e outros mais, começou a Sua “missão comunitária e itinerante”, de terra em terra, “proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo”. Deste jeito, estava já em andamento aquele “Sonho de Deus” – lembram-se? – que devia realizar-se a seu devido tempo…
E já que falamos em “missão comunitária”: este “projeto e ambição” de Jesus de construir uma comunidade, um corpo, uma sociedade em comunhão… inicia agora os seus primeiros passos, precisamente naquele extremo norte da região palestiniana conhecida como «a Galileia dos gentios». Este vai ser, agora, o “sonho de Jesus”, que poderá ter diversas denominações – “os Doze”, os seus Discípulos, o seu Corpo, a sua Igreja… – e cujos membros deverão estar unidos pelo «Seu mandamento do Amor», em íntima e essencial Comunhão de corações, «para que todos creiam» …
Mas é pena – sim, é lamentável e doloroso! – que, vinte séculos volvidos, ainda não conseguimos essa Unidade ou Comunhão almejada, embora muitíssimos lamentaram e lamentamos atualmente a falta dela. E, pelos vistos, isto das divisões já acontecia desde os inícios do nosso cristianismo, como se vê na Carta de S. Paulo aos “cristãos de Corinto” da Palavra de hoje. Mesmo em vida dos primeiros Apóstolos, o próprio Paulo constata já a existência de diversas fações ou partidos, entre os cristãos daquela comunidade: “Eu soube, meus irmãos, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo»”. E a seguir, lança-lhes em rosto a sua vergonha e incoerência: “Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Foi em nome de Paulo que recebestes o Batismo?” (1 Cor 1).
Faltava-nos (solidários com estes nossos “antepassados na fé”) a luz do Amor de Cristo, naqueles tempos mais primitivos. E continua a faltar-nos nestes tempos que são os nossos. E quando falta esta Luz, imperam as trevas do erro e das divisões…
Retomemos então, como conclusão, a Palavra de hoje, em S. Paulo, e renovemos o nosso compromisso de rezar e trabalhar, cada vez com mais afinco, para construir, recuperar e fortalecer esta Unidade Total, no movimento “Ecuménico”. O Apóstolo insiste, quando escreve aos coríntios, ao mesmo tempo que “denuncia as suas divisões”, como acabamos de ver. E nós vamos terminar, com as suas veementes palavras: “Irmãos: Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir”. (1 Cor 1 / 2ª L.).
Se estamos certos, Senhor, que Tu nos salvas,
que nos iluminas e nos proteges
contra os inimigos da nossa Unidade…
de quem é que podemos ter medo?
Se nos sentimos chamado por Ti,
com a vocação para uma missão salvadora;
se somos capazes de deixar muita coisa
para seguir sempre o fulgor da Tua Luz
e refleti-la na nossa vida para os outros verem…
então, o que é que nos pode fazer tremer?
Uma coisa Te pedimos agora, Senhor,
e por ela ansiamos com força e veemência:
habitarmos todos na Tua Casa, na Tua Igreja Una,
todos os dias da nossa vida e para sempre;
para gozarmos da suavidade da Tua Comunhão,
na unidade dos espíritos e dos corações;
para virmos a contemplar a Tua bondade, Senhor…
Prometemos desde já confiarmos em Ti,
e sermos – com a Tua Graça – fortes, firmes e fiéis.
Oxalá que todos tenham coragem e confiem em Ti!
[ do Salmo Responsorial / 26 (27) ]
21 Janeiro, 2017
A «DIVISÃO» DAS «TREVAS»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo A – Domingo 3 do T. Comum… )
A “DIVISÃO” DAS “TREVAS”
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou” (Is 8 / 1ª L.) (Mt 4 / 3ª L.). É o mesmo livro de profecias que – no passado domingo – falava em termos de futuro (“vou fazer de ti a luz das nações”) [“II-Isaías”-c.49], e que agora fala em tempo “pretérito” mas, paradoxalmente, acerca de coisas que só “acontecerão quando chegar esse tal “servo-filho” que vem da parte d’Aquele que “quebrou o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor (como no dia de Madiã)” [“I-Isaías”- c.8]. É que a linguagem dos profetas – por ser a linguagem de Deus – surpreende sempre porque enigmática e desconcertante. Sim, por vezes fala en termos de futuro mas de cosas passadas ou, então, fala de coisas futuras em termos de passado. Mais uma vez, aliás como sempre, quem atualiza esse “passado” e esse “futuro”, é o próprio Jesus de Nazaré, o “Filho-servo”, o Messias de Deus. “Então… Jesus deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali”… Ou seja, “nas periferias” da terra que ocupava o “povo eleito”. Isto que atualmente se conhece como «zonas de fronteira». Mas este tal Jesus de Nazaré, que na Palavra do domingo anterior ouvíamos “declarar a Sua Vocação” («Eu venho, ó Deus, para fazer a Tua vontade!») agora sente já a urgência por iniciar esta sua Vocação e Missão. “Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus!»” (Mt 4).
Porém, este Mestre Messias Salvador (que veio após João Batista), como tal “Mestre”, necessita “discípulos” – acompanhantes, colaboradores e continuadores da sua Missão – e deve «chamá-los» (“vocacioná-los”) e escolhê-los entre aquela gente que O rodeia, que são, em primeiro lugar, os que “andam nas trevas e habitam nas sombras da morte” (Is 8); ou, por outras palavras, nas zonas de fronteira e de periferia. Assim exprime o Evangelho de hoje esta sua urgência: “Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me, e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O… Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos… Jesus chamou-os, e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O” (Mt 4)… E com eles e outros mais, começou a Sua “missão comunitária e itinerante”, de terra em terra, “proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo”. Deste jeito, estava já em andamento aquele “Sonho de Deus” – lembram-se? – que devia realizar-se a seu devido tempo…
E já que falamos em “missão comunitária”: este “projeto e ambição” de Jesus de construir uma comunidade, um corpo, uma sociedade em comunhão… inicia agora os seus primeiros passos, precisamente naquele extremo norte da região palestiniana conhecida como «a Galileia dos gentios». Este vai ser, agora, o “sonho de Jesus”, que poderá ter diversas denominações – “os Doze”, os seus Discípulos, o seu Corpo, a sua Igreja… – e cujos membros deverão estar unidos pelo «Seu mandamento do Amor», em íntima e essencial Comunhão de corações, «para que todos creiam» …
Mas é pena – sim, é lamentável e doloroso! – que, vinte séculos volvidos, ainda não conseguimos essa Unidade ou Comunhão almejada, embora muitíssimos lamentaram e lamentamos atualmente a falta dela. E, pelos vistos, isto das divisões já acontecia desde os inícios do nosso cristianismo, como se vê na Carta de S. Paulo aos “cristãos de Corinto” da Palavra de hoje. Mesmo em vida dos primeiros Apóstolos, o próprio Paulo constata já a existência de diversas fações ou partidos, entre os cristãos daquela comunidade: “Eu soube, meus irmãos, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo»”. E a seguir, lança-lhes em rosto a sua vergonha e incoerência: “Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Foi em nome de Paulo que recebestes o Batismo?” (1 Cor 1).
Faltava-nos (solidários com estes nossos “antepassados na fé”) a luz do Amor de Cristo, naqueles tempos mais primitivos. E continua a faltar-nos nestes tempos que são os nossos. E quando falta esta Luz, imperam as trevas do erro e das divisões…
Retomemos então, como conclusão, a Palavra de hoje, em S. Paulo, e renovemos o nosso compromisso de rezar e trabalhar, cada vez com mais afinco, para construir, recuperar e fortalecer esta Unidade Total, no movimento “Ecuménico”. O Apóstolo insiste, quando escreve aos coríntios, ao mesmo tempo que “denuncia as suas divisões”, como acabamos de ver. E nós vamos terminar, com as suas veementes palavras: “Irmãos: Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir”. (1 Cor 1 / 2ª L.).
Se estamos certos, Senhor, que Tu nos salvas,
que nos iluminas e nos proteges
contra os inimigos da nossa Unidade…
de quem é que podemos ter medo?
Se nos sentimos chamado por Ti,
com a vocação para uma missão salvadora;
se somos capazes de deixar muita coisa
para seguir sempre o fulgor da Tua Luz
e refleti-la na nossa vida para os outros verem…
então, o que é que nos pode fazer tremer?
Uma coisa Te pedimos agora, Senhor,
e por ela ansiamos com força e veemência:
habitarmos todos na Tua Casa, na Tua Igreja Una,
todos os dias da nossa vida e para sempre;
para gozarmos da suavidade da Tua Comunhão,
na unidade dos espíritos e dos corações;
para virmos a contemplar a Tua bondade, Senhor…
Prometemos desde já confiarmos em Ti,
e sermos – com a Tua Graça – fortes, firmes e fiéis.
Oxalá que todos tenham coragem e confiem em Ti!
[ do Salmo Responsorial / 26 (27) ]