
(Ciclo A – Domingo 2 – Quaresma)
«CHAMEI-TE DESDE O SEIO MATERNO!»
É verdade que nascemos seres humanos e, como tais, portadores de uma natureza complexa. E não apenas porque levamos, na nossa essência, um sinal de contradição, essas forças opostas do bem e do mal – lembram-se? –. Mas porque, além disso, foi-nos dado, no instante da geração, o compromisso de (des)andar o caminho que vai: desde o distante para o próximo; desde a matéria para o espírito; desde a divisão para a união; desde o exterior para o interior; desde o ter para o ser; desde o ódio para o amor; desde a insatisfação para a felicidade; desde o temporal para o eterno, etc. etc… Podemos dizer que (no início!) fomos criados na dispersão, para “confluirmos” – através dos nossos “caminhos históricos” – e acabarmos (no fim!) mesmo no Centro do Amor que unifica e abrange a Felicidade Total. Poderíamos dizer, em síntese: Começamos dispersos e devemos confluir – custe o que custar – para acabarmos re-unidos!
Mas todo este prelúdio para quê?… Para entender o porquê dessa coisa conhecida como “questão vocacional”, desse mistério da Vocação de todo e cada ser humano. Porque, ao sermos colocados inicialmente num lugar, imperfeito por definição, e onde, portanto, não podemos nem devemos permanecer… então, “alguém” pronuncia, já naquela altura, no centro mesmo do nosso ser inicial, uma palavra pessoal. Assim, esse Alguém está a chamar por nós (“vocação”), desde uma direção e para um sentido determinado, por uma via, senda ou caminho, que deveremos percorrer (“andar” ou “des-andar”!). Sim, porque na realidade, ao sermos criados pelo Ser Eterno, como que somos levados para um lugar longínquo, que não é o nosso, para que nós “desandemos” o caminho de regresso à Casa Paterna, onde Abbá (Pai-Mãe) nos espera de coração e braços abertos.
Pois a “história desta Vocação pessoal” é tão antiga como a Humanidade (entidade-consciente-e-livre-capaz-de-amar): é a história de Abraão. “O Senhor disse a Abrão (reparemos como ainda não era “Abraão”): «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação… Abrão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado” (Gn 12 / 1ª L.). É que o sentido da nossa vocação pessoal é tão essencial e determinante que até nos muda o nome, como querendo atingir o ponto mais central do nosso ser. No caso de Abraão, a “sua vocação” transformou o nome que tinha, “Abrão”, em “Abraão”, isto é, “Gerador/Pai” (“farei de ti uma grande nação”). (Ver, no cap. 17: “Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos”/ Gn 17,5).
A cada um de nós, portanto, é-nos pedido – exigido?! – que tenhamos sempre os ouvidos interiores muito atentos para, em primeiro lugar, escutar aquela voz, apelo, vocação (vocare=chamar) que vai ser “pronunciada” de muitas maneiras através da nossa vida. Mas, em segundo lugar e sobretudo, para seguirmos fielmente essa vocação. Vocação que será sempre a mesma (?), embora apresentando formas diversas nas várias etapas da nossa concreta existência terreal…
São Paulo soube intuir, pela graça de Deus, qual o fundamento da sua e de toda a vocação, que afinal é sempre “vocação à santidade” («sede santos porque Eu, o Senhor, sou santo»). No caso de Paulo, era pelo caminho de “levar o Evangelho aos gentios”. Assim, escreve ao seu discípulo Timóteo: “Caríssimo, sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça”… (2 Tm 1 /2ª L.). Então, a base e o motivo da nossa vocação “não é em virtude das nossas obras” mas unicamente “pela graça de Deus”. Portanto, “Ele chamou-nos à santidade” (porque Eu sou santo /«filho de peixe sabe nadar», lembram-se?). Vocação a sermos santos que é comum a todos, embora por caminhos diversos (mas “confluentes”!), caminhos que são as especificações de cada vocação pessoal.
E este nosso caminho, “vocação à santidade”, quando for descoberto, assumido e seguido, acabará por nos transformar – “transfigurar” – totalmente (muito para além de o nosso nome), como Lhe aconteceu a Jesus, no monte da Transfiguração. Tudo depende de sabermos escutar a Sua voz (que vem desde o Pai: «Escutai-O!») e de tentarmos seguir sempre os Seus passos. “Subiram a um alto monte, e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz… Senhor, como é bom estarmos aqui!…” (Mt 17 / 3ª L.).
A Tua palavra, Senhor, é verdadeira
e “chama sempre à santidade”,
porque a nossa “vocação é para a perfeição”.
Tu amas a justiça e a perfeição;
toda a terra está cheia da Tua Santidade.
As Tuas obras nascem da fidelidade,
e nós queremos que a nossa Felicidade
nasça da fidelidade à nossa Vocação.
Vemos, Senhor, que os Teus olhos
velam sempre sobre nós, os Teus fiéis,
que esperamos na Tua Bondade.
Que continue em nós a força do Teu Amor,
porque em Ti está posta a nossa confiança.
[ do Salmo Responsorial / 32 (33) ]
10 Março, 2017
«CHAMEI-TE DESDE O SEIO MATERNO!»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo A – Domingo 2 – Quaresma)
«CHAMEI-TE DESDE O SEIO MATERNO!»
É verdade que nascemos seres humanos e, como tais, portadores de uma natureza complexa. E não apenas porque levamos, na nossa essência, um sinal de contradição, essas forças opostas do bem e do mal – lembram-se? –. Mas porque, além disso, foi-nos dado, no instante da geração, o compromisso de (des)andar o caminho que vai: desde o distante para o próximo; desde a matéria para o espírito; desde a divisão para a união; desde o exterior para o interior; desde o ter para o ser; desde o ódio para o amor; desde a insatisfação para a felicidade; desde o temporal para o eterno, etc. etc… Podemos dizer que (no início!) fomos criados na dispersão, para “confluirmos” – através dos nossos “caminhos históricos” – e acabarmos (no fim!) mesmo no Centro do Amor que unifica e abrange a Felicidade Total. Poderíamos dizer, em síntese: Começamos dispersos e devemos confluir – custe o que custar – para acabarmos re-unidos!
Mas todo este prelúdio para quê?… Para entender o porquê dessa coisa conhecida como “questão vocacional”, desse mistério da Vocação de todo e cada ser humano. Porque, ao sermos colocados inicialmente num lugar, imperfeito por definição, e onde, portanto, não podemos nem devemos permanecer… então, “alguém” pronuncia, já naquela altura, no centro mesmo do nosso ser inicial, uma palavra pessoal. Assim, esse Alguém está a chamar por nós (“vocação”), desde uma direção e para um sentido determinado, por uma via, senda ou caminho, que deveremos percorrer (“andar” ou “des-andar”!). Sim, porque na realidade, ao sermos criados pelo Ser Eterno, como que somos levados para um lugar longínquo, que não é o nosso, para que nós “desandemos” o caminho de regresso à Casa Paterna, onde Abbá (Pai-Mãe) nos espera de coração e braços abertos.
Pois a “história desta Vocação pessoal” é tão antiga como a Humanidade (entidade-consciente-e-livre-capaz-de-amar): é a história de Abraão. “O Senhor disse a Abrão (reparemos como ainda não era “Abraão”): «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação… Abrão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado” (Gn 12 / 1ª L.). É que o sentido da nossa vocação pessoal é tão essencial e determinante que até nos muda o nome, como querendo atingir o ponto mais central do nosso ser. No caso de Abraão, a “sua vocação” transformou o nome que tinha, “Abrão”, em “Abraão”, isto é, “Gerador/Pai” (“farei de ti uma grande nação”). (Ver, no cap. 17: “Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos”/ Gn 17,5).
A cada um de nós, portanto, é-nos pedido – exigido?! – que tenhamos sempre os ouvidos interiores muito atentos para, em primeiro lugar, escutar aquela voz, apelo, vocação (vocare=chamar) que vai ser “pronunciada” de muitas maneiras através da nossa vida. Mas, em segundo lugar e sobretudo, para seguirmos fielmente essa vocação. Vocação que será sempre a mesma (?), embora apresentando formas diversas nas várias etapas da nossa concreta existência terreal…
São Paulo soube intuir, pela graça de Deus, qual o fundamento da sua e de toda a vocação, que afinal é sempre “vocação à santidade” («sede santos porque Eu, o Senhor, sou santo»). No caso de Paulo, era pelo caminho de “levar o Evangelho aos gentios”. Assim, escreve ao seu discípulo Timóteo: “Caríssimo, sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça”… (2 Tm 1 /2ª L.). Então, a base e o motivo da nossa vocação “não é em virtude das nossas obras” mas unicamente “pela graça de Deus”. Portanto, “Ele chamou-nos à santidade” (porque Eu sou santo /«filho de peixe sabe nadar», lembram-se?). Vocação a sermos santos que é comum a todos, embora por caminhos diversos (mas “confluentes”!), caminhos que são as especificações de cada vocação pessoal.
E este nosso caminho, “vocação à santidade”, quando for descoberto, assumido e seguido, acabará por nos transformar – “transfigurar” – totalmente (muito para além de o nosso nome), como Lhe aconteceu a Jesus, no monte da Transfiguração. Tudo depende de sabermos escutar a Sua voz (que vem desde o Pai: «Escutai-O!») e de tentarmos seguir sempre os Seus passos. “Subiram a um alto monte, e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz… Senhor, como é bom estarmos aqui!…” (Mt 17 / 3ª L.).
A Tua palavra, Senhor, é verdadeira
e “chama sempre à santidade”,
porque a nossa “vocação é para a perfeição”.
Tu amas a justiça e a perfeição;
toda a terra está cheia da Tua Santidade.
As Tuas obras nascem da fidelidade,
e nós queremos que a nossa Felicidade
nasça da fidelidade à nossa Vocação.
Vemos, Senhor, que os Teus olhos
velam sempre sobre nós, os Teus fiéis,
que esperamos na Tua Bondade.
Que continue em nós a força do Teu Amor,
porque em Ti está posta a nossa confiança.
[ do Salmo Responsorial / 32 (33) ]