12a- «Contra-luz!»

(Ciclo A – Domingo 4 – Quaresma) 

 

«CONTRA-LUZ»!

 

Poderíamos perguntar: Mas afinal, o que é a escuridão? Como é que se podem definir as travas? E talvez alguém respondesse, “escuro é aquilo que não tem luz”, e seria como definir pela negativa. A verdade é que, se bem refletimos, a escuridão, a treva, não tem entidade. Então, não existe? Bem, até é isso mesmo. Tal como o frio, que os cientistas definem como a ausência de calor, e que, por isso, também o frio não tem entidade própria (?)… É fácil concluir, de todo este preâmbulo, que neste binómio luz-treva (como no calor-frio) o que existe, com entidade própria, é a luz e é o calor; a treva e o frio não! E que, portanto, quando a luz ou energia luminosa desaparece, o que fica é a escuridão.

Vamos então ao que interessa! Sendo assim, terá algum sentido razoável lutar contra a luz, ou tentar ignorar o que é luminoso? Não será como pretender “tapar o sol com uma peneira”?…  Pois ainda que pareça inconcebível ou inacreditável, sempre houve e sempre haverá gente empenhada em “tapar os olhos” para não ver a luz; sobretudo a luz interior, a luz transcendente. Na realidade, são todos aqueles que – conscientemente! – não querem ver, não querem reconhecer a Verdade. Este é o tal “pecado contra o Espírito Santo”, ou “contra a Luz”, que, como Jesus tinha afirmado noutra altura, é o único “pecado que não é possível perdoar”, porque é pecado de obstinação. (Mt 12, 32; Lc 12, 10). Mas vejamos hoje quem são agora os obstinados, que teimam em não querer aceitar a luz da verdade, apesar de estarem perante a cura, espetacular, de um cego de nascença: “Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece»”. É que Jesus, após ter curado aquele cego (famoso em toda a vizinhança) tinha dito, em jeito de conclusão, para todos ouvirem: “«Eu vim a este mundo para exercer um juízo: os que não veem ficarão a ver; os que veem ficarão cegos»”(Jo 9). Embora seja triste e lamentável, estes, e os que são como eles, ficam voluntariamente no espaço das trevas, onde não pode haver salvação possível, porque aí não pode haver Luz.

Mesmo assim, nenhum desses indivíduos poderá desculpar-se, dizendo que nunca viu ou que nunca encontrou “aquela Luz”. Até porque essa luz está mesmo dentro de nós, embora, para muitos, seja fácil abafá-la! Neste mesmo Evangelho de hoje, ao iniciar precisamente a cura do cego, Jesus tinha anunciado: “Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo»” (Jo 9 / 3ª L.). Quer dizer, havendo luz, existindo luz… só quem se refugia na zona das trevas é que renuncia voluntária e conscientemente à luz. Mas, claro, isto já tinha sido constatado “No princípio” do Evangelho de João: “…A Luz brilhou nas trevas mas as trevas não a receberam”…; apesar de “O Verbo ser a Luz verdadeira que, no mundo, ilumina todo o homem” (Jo 1, 5.9). E tantas vezes, durante a sua vida pública, Jesus proclamou: “Eu sou a Luz do mundo… Quem me segue não andará nas travas”!… Por seu lado, o apóstolo Paulo, para alertar aos que estão adormecidos nessa escuridão das trevas, na sua carta (da segunda leitura de hoje) avisa a todos, citando um Texto conhecido: “«Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos, e Cristo brilhará sobre ti!»” (Ef 5 / 2ª L.).

Ainda bem que temos sempre o consolo e a segurança de que Deus está continuamente presente no nosso íntimo, mesmo quando este íntimo se encontrar na mais densa escuridão. Afirma-o Ele próprio, na primeira leitura, pela profecia de Samuel: “Deus não vê como o homem: o homem olha às aparências (envolvidas em trevas) mas o Senhor vê o coração (onde aparece a luz)»” (1 Sm 16 / 1ª L). E assim, o Senhor será capaz – quando nós quisermos!? – de destruir, num instante, as nossas trevas com a sua Luz admirável.

 

Como é bom, Senhor,

que sejas o nosso Bom Pastor,

para que nada nos falte!

Ainda quando andamos

por vales tenebrosos e escuros

não tememos nenhum mal,

porque Tu estás connosco,

a Tua luz, a Tua presença

nos enchem de confiança.

E porque Tu nos levas a descansar,

Senhor, em verdes prados,

luminosos e refrescantes,

a nossa promessa é vivermos sempre

como “filhos da luz”, pois os frutos da luz

são a bondade, a justiça, a verdade…

E se escolhermos a escuridão

ou ficarmos adormecidos nas trevas,

vem Tu, Senhor, a “nos acordar”

para que brilhe sobre nós a Tua Luz.

Pois nós decidimos habitar nessa Luz

todos os dias da nossa vida,

para todo o sempre!

                    [ do Salmo Responsorial / 22 (23) ]