
(Ciclo A – Domingo 5 – Quaresma)
ESPÍRITO vs METÉRIA?
É uma realidade do nosso viver: não podemos fugir ao “vaivém” de conceitos antitéticos, numa espécie de cultura oscilante… pelo menos enquanto vivemos sujeitos às coordenadas espácio-temporais desta vida humana. Ainda há pouco – lembram-se? – eram luz e treva, ou calor e frio… e agora, temos diante, matéria e espírito ou, então, espírito e matéria. A verdade é que estamos sempre submetidos às forças de dois polos opostos. E, entre eles, nos movemos e existimos, para a nossa felicidade ou desgraça!?
E ainda encontramos, na Palavra de hoje, uma conexão com a luz e a trava, quando Jesus proclama no Evangelho: “«Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo» (Jo 11). E está claríssimo que, aqui, “noite” e “dia” (treva e luz) significam agora, na Palavra de Jesus, a morte e a vida – mais outro par de conceitos contrapostos ou antitéticos – !
Aliás, na Palavra deste domingo, o combate acontece precisamente entre a morte e a vida. Ou, será talvez, entre a matéria e o espírito? Quem é que sairá vitorioso nesta luta à morte (e nunca melhor dito)? – Desde logo, quem parece levar a melhor – pelo menos numa primeira fase – é a morte, que atua sobre a matéria. Todavia, se pensarmos bem, não poderia ser de outro modo, já que essa primeira fase da guerra ocorre dentro do tal domínio espácio-temporal, domínio esse onde é natural que suceda a “morte da matéria”. Ou talvez não? O normal é (acabamos de ouvir a Jesus) “tropeçar e cair quando não se vê a luz deste mundo porque se anda de noite”. E vemos que se utilizam as expressões “é normal”, “é natural”, enquanto que, no império do espírito, é superado o “natural” e o “normal”, pois aí estamos imersos na dimensão “sobre-natural”, ou até “para-normal” e “meta-normal” (diríamos).
Ou seja que a matéria – por si só – não tem nada a fazer (de transcendente) se não atuar o espírito! Se a matéria – por definição – é feita para a corrução e decomposição, o espírito – também por definição! – é imortal, intocável, imperecível, não pode morrer! É que, como diria alguém, a morte não tem por onde agarrar o espírito; não tem por onde lhe pegar! Aliás, a Palavra de hoje di-lo muito melhor: “Se o Espírito de Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça” (Rm 8). E destaca-se também, neste texto, que no corpo (na matéria), que já é, por si, perecível e findável… o facto do pecado ressalta ainda mais a sua natureza mortal!
Afinal, o espírito acaba por se juntar com o Espírito: o espírito humano é assumido pelo Espírito Divino! Mas também é verdade que, onde estiver esse Espírito – ou seja, Deus – a matéria será igualmente redimida e transformada, com aquele vigor interior que tudo penetra e tudo renova. “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar… Infundirei em vós o meu Espírito e revivereis” (Ez 37 / 1ª L.). Paulo, na carta aos Romanos, vem confirmar isto, à luz de Cristo Salvador e da sua Morte e Ressurreição. “Deus, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8 / 2ª L.). Afirmar que “a morte é absorvida pela Vida”, é como dizer que “a matéria é assumida pelo Espírito”.
Então, já ninguém fica espantado pelo facto de, este Jesus de Nazaré, capaz de dar a todo o ser humano a Vida definitiva – enquanto Cristo Ressuscitado – tenha a faculdade de devolver a vida terrena a qualquer ser humano, como fez com o Seu amigo Lázaro. Conforme sabemos, o milagre do episódio de Lázaro foi apenas um “reviver” (voltar à vida mortal) e não um “Ressuscitar” (por enquanto) para a Vida eterna. “Disse Jesus (a Marta): «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá” (Jo 11 / 3ª L.).
Em Ti, Senhor, está a misericórdia,
em Ti está a plenitude da Redenção,
em Ti, o Espírito que dá Vida em plenitude!
Por isso, desde o abismo profundo
da matéria mortal corrutível,
chamo por Ti, Senhor, porque sei
que escutas sempre a minha voz.
Se tiveres em conta, Senhor,
as nossas faltas e pecados,
então a nossa natureza humana mortal
não será capaz de se libertar
da matéria caduca que sufoca e asfixia.
Mas em Ti está sempre o perdão,
para confiarmos na Tua Palavra
e esperarmos pela força do Teu Espírito
mais do que as sentinelas pela aurora.
Porque o início da nossa alvorada, Senhor,
é a vitória sobre as trevas da morte
e o triunfo do espírito sobre a matéria!
[ do Salmo Responsorial / 129 (130) ]
31 Março, 2017
ESPÍRITO vs METÉRIA?
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo A – Domingo 5 – Quaresma)
ESPÍRITO vs METÉRIA?
É uma realidade do nosso viver: não podemos fugir ao “vaivém” de conceitos antitéticos, numa espécie de cultura oscilante… pelo menos enquanto vivemos sujeitos às coordenadas espácio-temporais desta vida humana. Ainda há pouco – lembram-se? – eram luz e treva, ou calor e frio… e agora, temos diante, matéria e espírito ou, então, espírito e matéria. A verdade é que estamos sempre submetidos às forças de dois polos opostos. E, entre eles, nos movemos e existimos, para a nossa felicidade ou desgraça!?
E ainda encontramos, na Palavra de hoje, uma conexão com a luz e a trava, quando Jesus proclama no Evangelho: “«Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo» (Jo 11). E está claríssimo que, aqui, “noite” e “dia” (treva e luz) significam agora, na Palavra de Jesus, a morte e a vida – mais outro par de conceitos contrapostos ou antitéticos – !
Aliás, na Palavra deste domingo, o combate acontece precisamente entre a morte e a vida. Ou, será talvez, entre a matéria e o espírito? Quem é que sairá vitorioso nesta luta à morte (e nunca melhor dito)? – Desde logo, quem parece levar a melhor – pelo menos numa primeira fase – é a morte, que atua sobre a matéria. Todavia, se pensarmos bem, não poderia ser de outro modo, já que essa primeira fase da guerra ocorre dentro do tal domínio espácio-temporal, domínio esse onde é natural que suceda a “morte da matéria”. Ou talvez não? O normal é (acabamos de ouvir a Jesus) “tropeçar e cair quando não se vê a luz deste mundo porque se anda de noite”. E vemos que se utilizam as expressões “é normal”, “é natural”, enquanto que, no império do espírito, é superado o “natural” e o “normal”, pois aí estamos imersos na dimensão “sobre-natural”, ou até “para-normal” e “meta-normal” (diríamos).
Ou seja que a matéria – por si só – não tem nada a fazer (de transcendente) se não atuar o espírito! Se a matéria – por definição – é feita para a corrução e decomposição, o espírito – também por definição! – é imortal, intocável, imperecível, não pode morrer! É que, como diria alguém, a morte não tem por onde agarrar o espírito; não tem por onde lhe pegar! Aliás, a Palavra de hoje di-lo muito melhor: “Se o Espírito de Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça” (Rm 8). E destaca-se também, neste texto, que no corpo (na matéria), que já é, por si, perecível e findável… o facto do pecado ressalta ainda mais a sua natureza mortal!
Afinal, o espírito acaba por se juntar com o Espírito: o espírito humano é assumido pelo Espírito Divino! Mas também é verdade que, onde estiver esse Espírito – ou seja, Deus – a matéria será igualmente redimida e transformada, com aquele vigor interior que tudo penetra e tudo renova. “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar… Infundirei em vós o meu Espírito e revivereis” (Ez 37 / 1ª L.). Paulo, na carta aos Romanos, vem confirmar isto, à luz de Cristo Salvador e da sua Morte e Ressurreição. “Deus, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8 / 2ª L.). Afirmar que “a morte é absorvida pela Vida”, é como dizer que “a matéria é assumida pelo Espírito”.
Então, já ninguém fica espantado pelo facto de, este Jesus de Nazaré, capaz de dar a todo o ser humano a Vida definitiva – enquanto Cristo Ressuscitado – tenha a faculdade de devolver a vida terrena a qualquer ser humano, como fez com o Seu amigo Lázaro. Conforme sabemos, o milagre do episódio de Lázaro foi apenas um “reviver” (voltar à vida mortal) e não um “Ressuscitar” (por enquanto) para a Vida eterna. “Disse Jesus (a Marta): «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá” (Jo 11 / 3ª L.).
Em Ti, Senhor, está a misericórdia,
em Ti está a plenitude da Redenção,
em Ti, o Espírito que dá Vida em plenitude!
Por isso, desde o abismo profundo
da matéria mortal corrutível,
chamo por Ti, Senhor, porque sei
que escutas sempre a minha voz.
Se tiveres em conta, Senhor,
as nossas faltas e pecados,
então a nossa natureza humana mortal
não será capaz de se libertar
da matéria caduca que sufoca e asfixia.
Mas em Ti está sempre o perdão,
para confiarmos na Tua Palavra
e esperarmos pela força do Teu Espírito
mais do que as sentinelas pela aurora.
Porque o início da nossa alvorada, Senhor,
é a vitória sobre as trevas da morte
e o triunfo do espírito sobre a matéria!
[ do Salmo Responsorial / 129 (130) ]