14a- «Como canas agitadas pelo vento»

 (Ciclo A – Domingo 6 –  de Ramos na Paixão) 

 

«COMO CANAS AGITADAS PELO VENTO»

 

Vejam só estes dois textos da Palavra de hoje. E digamos, antes de mais, que a maior parte dos “atores protagonistas” (ainda que a maioria sejam atores “passivos”) são os mesmos nos dois acontecimentos. O primeiro texto é este: “…Numerosa multidão estendia as capas no caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão. E, tanto as multidões que vinham à frente de Jesus como as que O seguiam, diziam em altos brados: «Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!»…” (Mt 21 / da Leitura Evangélica para a Procissão dos Ramos). E parece que – historicamente – este acontecimento sucedeu muito poucos dias antes deste outro, que descreve o mesmo evangelista Mateus: “…Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus… Disse-lhes Pilatos: «E que hei de fazer de Jesus, chamado Cristo?»… Responderam todos: «Seja crucificado». Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?». Mas eles gritavam cada vez mais: «Seja crucificado»…  E todo o povo respondeu: «O seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos»”…(Mt 26-27 / 3ª L.- Leitura da Paixão).

Podemos então concluir que, muitos dos que primeiro “diziam em altos brados: «Hossana nas alturas!»”, esses mesmos, volvidos só alguns dias, “gritavam, cada vez mais forte, «Seja crucificado!»”. E não é isto ser “como uma cana a mercê dos ventos”? Dos ventos do prazer e da paixão do momento?… Queira Deus que nós não sejamos dessa classe de seguidores de Jesus, o Filho de Deus; seguidores ou partidários que o povo já batizou como “vira-casacas”.

Mas quantas vezes – temos de o reconhecer se formos sinceros e verdadeiros – quantas vezes, no nosso pensar e agir, comportamo-nos assim, “como canas agitadas pelo vento”!  E é evidente que estes não são os seguidores e discípulos que Jesus quer; por isso é que Ele tinha dito, em certa ocasião, aquilo da “cana” (cf. Mt 11, 7).

Os seguidores e discípulos de Jesus têm que estar dispostos e decididos a seguir Jesus também pelo caminho da Cruz, até porque é o único que leva à Ressurreição e à Vida. Aquele que decidir seguir Jesus – na verdade e por amor! – deve começar por “ter os seus ouvidos bem despertos, para escutar, como escutam os discípulos”… E será o próprio “Senhor Deus que lhe abrirá os ouvidos para ele não ceder nem recuar um passo… E para receber do mesmo Senhor a graça de falar como um discípulo, para que saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos”… (Is 50 / 1ª L.).

Mas tudo isto, para o autêntico seguidor de Cristo (isto é, todo o cristão fiel) seria, apenas e só, uma primeira etapa. Sim, porque o caminho de Jesus há de continuar em direção ao cimo do monte da Cruz; porém, seguindo uma trajetória paradoxalmente descendente (na linguagem de Paulo aos Filipenses). E o discípulo atento poderá identificar essas diversas etapas degradantes (visto serem também “degraus”!). Primeiro, já “como homem, assume a condição de servo”; segundo, “humilha-se ainda mais”; depois, “obedece até à morte”; e, finalmente, aceita “uma morte de cruz”… (Fl 2).

Claro que isto não pode acabar assim, não pode ficar por aqui, quanto mais não seja «por exigência do guião»!… É que, uma vez atravessada a sua existência espácio-temporal – desse modo «descendente» que vemos – a morte é absorvida pela Vida, tal como a matéria pelo Espírito. Pelo que se produz um impulso de reação «ascendente», muito para além da Ressurreição: “Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fl 2 / 2ª L.).

 

«Meu Deus, meu Deus!» – lamentamos muitas vezes –.

E no entanto, Senhor, Tu sabes muito bem

que somos nós a causa principal

dos nossos lamentos e aflições.

Gostamos de ir ao sabor do vento,

deixando-nos levar das modas da ocasião,

de prazeres inconfessáveis ou nefastos,

de raivas ou fúrias estéreis…

Agora apostamos na sinceridade,

logo viramos para a mentira;

hoje confirmamos uma fiel amizade,

amanhã jogamos uma traição sem sentido…

E então, afinal, vêm sempre as lamúrias:

«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?».

Sobretudo quando a gente de perto

faz troça do meu mal merecido:

«Confiou no Senhor, Ele que o livre,

Ele que o salve, se é seu amigo».

Mas Tu, Senhor, não Te afastes de mim,

és a minha força, apressa-Te a socorrer-me.

Eu prometo seguir mais de perto a Teu Filho Jesus,

e falar do Teu nome aos meus irmãos…

              [ do Salmo Responsorial / 21 (22) ]