31c- As «aparências» iludem!

 (Ciclo C – Domingo 8 do T. Comum… ) 

AS «APARÊNCIAS» ILUDEM?

Quantas vezes repetimos essa expressão!… Mas continuamos a cair sempre na mesma (poça): Sim, costumamos reparar, antes de mais, no exterior, no que ‘parece’… E só depois, quando já ficamos ‘desiludidos’, quer dizer, quando descobrimos que a verdade é outra, então ‘lamentamos’ a falha, ou nos arrependemos de ter julgado alguém erradamente. Como diz a Palavra de hoje, seria como pretender elogiar alguém, ou ‘condená-lo’, antes de o ter escutado… Diz assim o livro de Ben Sirá: “Os defeitos do homem – tal como as virtudes! – aparecem nas suas palavras… pois é nas palavras do homem que se revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se testam os homens”… E quem diz “não elogies” diz também “não menosprezes”, pela mesma rezão. Na verdade, são palavras sábias, fruto da chamada “filosofia popular”. E é esta mesma sabedoria do povo, manifestada de muitas outras formas, que recolhe o autor, no mesmo livro, ao acrescentar: “O forno prova os vasos do oleiro… e o fruto da árvore manifesta a qualidade do campo…” (Sr 27 / 1ª L.). Então, perguntamos, porque é que nos empenhamos em julgar as pessoas – e não só – por aquilo que aparece à primeira vista, a pesar de estarmos convencidos tantas vezes de essa mesma sabedoria popular?…

Sendo assim, e tendo em atenção o último texto (‘a qualidade do campo só se manifesta no fruto da árvore’), deduzimos que seria justo e necessário observarmos – em toda a gente, a começar pelos mais próximos – “os seus frutos”… para não ficarmos, continuamente, desiludidos. E os primeiros “frutos”, como acabamos de ver no Bem Sirá, poderão ser as palavras que ele diz (ou, por ventura, as coisas que escreve)… mas, principalmente, serão os seus atos, quer dizer, a sua atitude e maneira de viver!

Neste sentido, Jesus é bem claro e radical no seu Evangelho (3ª L.).

Com pequenas “parábolas”, e simples “comparações”, o Mestre Jesus vai mostrando aos discípulos – e/ou fariseus – o essencial da doutrina que quer transmitir.

Começa por chamar a sua atenção, dizendo algo tão simples e real como que “se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova”. Será que estes dois cegos – perguntamos nós – terão a ver com esses outros ‘dois’ de que fala a seguir, ainda que pareça num outro contexto, e cujos ‘olhos’ apresentam-se diminuídos ou impedidos? Pois Jesus adverte com dureza acerca desta questão: “Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão”. Cada qual terá que ver se o impedimento que tem na vista é apenas ‘um argueiro’ ou se chega a ser ‘uma trave’!

Porque, na verdade, se alguém não conseguir ver claramente, devido a qualquer tipo de “cegueira”, dificilmente poderá entender a questão central do tema que Jesus expõe, que é também o nosso objetivo. Nesse caso, ao observar a realidade à nossa volta, iríamos ficando pelas aparências. Não chegaríamos ao «núcleo» da questão, isto é, ao «fruto». Pois “os frutos” não enganam, mas refletem sempre a verdade que poderá estar escondida sob as aparências! Todo o disfarce cai perante esta afirmação de Jesus: “É pelo fruto que se conhece a árvore”!

E continua a Sua explicação elucidativa, na sequência da mesma parábola, para que todos compreendam: “Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal”… Mas, a pesar já de ter ficado bem claro, o próprio Jesus conclui, dando-nos a chave profunda e definitiva de tudo: “«Pois é da abundância do coração que a boca fala»” [Ou, naquela tradução tão repetida, «Ex abundantia cordis os loquitur»]. (Lc 6 / 3ª L.).

Infelizmente (e é isso que parece predominar no ambiente da nossa sociedade) o que nos aparece à primeira vista, nas pessoas e nos acontecimentos, é a face negativa ou obscura das coisas… (Basta ver as ‘Capas’ dos jornais, telejornais… e redes sociais em geral!). Será isso, o produto e a consequência da nossa natureza decaída e mortal? Se não, qual seria então a explicação?… Seja como for, a Carta de Paulo aos cristãos de Corinto, é decisiva e clarividente neste sentido: “Quando este nosso corpo corruptível, irmãos, se tornar incorruptível e este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória?»… Mas dêmos graças a Deus, que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo”. (1 Cor 15 / 2ª L.).

 

Agora, Senhor, vamos olhar para nós

– e não tanto para os outros –

porque hoje temos aprendido que

“só seremos conhecidos por aqueles frutos”

que sejamos capazes de produzir

Esta realidade exige de nós,

que, primeiro, cresçamos como o cedro

plantado por Ti, Senhor, na Tua casa;

que, a seguir, floresçamos como a palmeira,

semeada, crescida e frutificada nos Teus átrios

Porque só assim não viveremos de aparências

nem precisaremos de máscaras ou disfarces

para ocultar as nossas vergonhas e futilidades…

Porque só deste modo poderemos ser exemplo

para quem nos veja e observe com interesse

à procura de verdade e de autenticidade

Mas tudo isto, Senhor e Pai nosso,

só será possível se nos sentirmos envolvidos,

em todo o momento, pela Tua força e vigor,

e pelo Teu grande Amor e excelsa Santidade…

Porque “o justo” – nascido da “Tua justiça” –

mesmo na velhice, dará “o seu fruto”,

cheio da seiva e do vigor… para proclamar

que Tu, Senhor, és justo e santo

desde sempre e para sempre!

[ do Salmo Responsorial / 91 (92) ]